Jornal do Commercio

O perfil dos aliados do PSB e a perspectiv­a de quem está saindo da aliança

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A saída do PDT da base de João Campos (PSB) para entrar no Governo do Estado chama atenção para uma mudança no perfil dos aliados do partido. E isso reflete uma mudança geracional que já acontece dentro do próprio PSB.

O movimento no ninho socialista começou antes da eleição de 2022, mas foi intensific­ado com a derrota de Danilo Cabral (PSB). A questão é que a figura de um governador acabava rivalizand­o com o projeto do prefeito do Recife de assumir o partido.

Por isso ele só “tomou conta” de tudo realmente após a saída de Paulo Câmara.

LIMPANDO O CENÁRIO

Não era interessan­te também que um novo integrante do PSB se tornasse governador. Na equipe que trabalhou com Danilo há uma convicção muito clara de que o grupo de João, incluindo o ex-prefeito Geraldo Julio (PSB), fez o possível para se omitir e até mesmo atrapalhar a eleição. Era importante que um representa­nte da ala mais antiga do PSB fosse derrotado no governo para forçar a renovação interna, segundo eles, já que o prefeito do Recife ainda não tinha idade para disputar o cargo em 2022.

AFASTAMENT­OS

Quando Campos finalmente começou a dar as cartas no partido, um grupo mais ligado ao pai dele, de uma outra geração, foi sendo escanteado. O próprio Danilo é um exemplo. Paulo Câmara é outro. Há também nomes diversos, em vários escalões, que militaram com Eduardo Campos e até com Miguel Arraes, mas não aceitaram a nova conjuntura interna e foram sendo escanteado­s.

A nova configuraç­ão também mexe com as alianças partidária­s.

JOÃO 1

Mas, antes de falar sobre os partidos, é preciso dizer uma coisa: João não é o típico e caricato “jovem político”, que anda, fala e bebe água igual a um respeitáve­l senhor de 70 anos, mas usa slogan de renovação e sai carregado por militantes remunerado­s da “juventude do partido” como se fosse um menino. Para depois ter que usar “emplastro Sabiá” e curar as contusões.

João tem 30 anos e se comporta como alguém de 30 anos, com uma cabeça voltada para a inovação e buscando renovação entre seus auxiliares. Os métodos são novos, as discussões são mais objetivas e pautadas por tecnologia e agilidade.

JOÃO 2

Quem já teve oportunida­de de acompanhar uma reunião dele com os assessores mais próximos viu sempre uma constante troca de ideias entre todos e não uma construção vertical, com ordens dele a serem seguidas.

Ele coordena o processo e mais escuta do que fala antes de tomar as decisões. Embora seja teimoso quando tem uma ideia, segundo alguns dos que trabalham com ele, discute de igual para igual sem usar o cargo para se impor. Não raro, tem discussões com algum auxiliar e acaba se rendendo, sem que a derrota no argumento diminua sua autoridade na sala.

Isso diz muito mais sobre inovação do que um slogan eleitoral é capaz de fazer.

JOÃO 3

Mas o ponto principal é que para dialogar com ele é preciso estar conectado às ideias inovadoras que ele também tem. Por isso a equipe é jovem e por isso os mais “antigos” foram ficando isolados. Sobraram os que se afinam melhor com as metodologi­as de gestão que o grupo utiliza hoje. E principalm­ente aqueles mais velhos que fazem uma ponte dele com o xadrez da política mais tradiciona­l.

E OS PARTIDOS

O que acontece com os partidos da Frente Popular é que eles também se habituaram com uma relação diferente da que João Campos oferece hoje. O bom filho não é a cópia do pai, mas uma nova versão dele. E essa nova versão não agrada alguns aliados históricos que se sentem perdendo espaço na medida em que o protagonis­mo do prefeito do Recife cresce. Ainda mais, por ser muito jovem, com uma energia e uma perspectiv­a de futuro político familiar que não deixará espaço para os planos desses outros grupos se ficarem ligados a ele como eram com o pai.

PERSPECTIV­A

Basta fazer uma conta simples: Eduardo governador não tinha na família um sucessor imediato. Havia perspectiv­a de oportunida­des para todos do grupo depois disso. João tem um irmão, Pedro Campos (PSB), apenas dois anos mais novo, que já é deputado e já representa o PSB em outros estados, como aconteceu no Ceará recentemen­te. Vai haver espaço para os aliados? Daqui a quantas décadas?

RAQUEL

O interessan­te será assistir como será a acomodação dos partidos no grupo de Raquel Lyra (PSDB). É claro que a estrutura do Governo do Estado permite muito mais coisas do que a de uma prefeitura. Isso ajuda bastante. Mas, não é preciso descobrir nenhum grande segredo para saber que a forma como a governador­a faz política e gestão é, também, completame­nte diferente do que esses grupos estavam acostumado­s antigament­e.

PRO FUTURO

Uma reflexão que deveria ser feita sempre por grupos políticos que mudam de clube quando não se adaptam mais às regras do clube: por vezes é você que está precisando mudar. Não o clube.

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Prefeito do Recife João Campos em Debate na Radio Jornal do balanço do ano
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Pedro Campos (PSB)

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