Jornal do Commercio

Escudo contra conspiraçõ­es

Investigaç­ões da Polícia Federal que evidenciam tramas golpistas só ocorrem porque as instituiçõ­es vêm assumindo a defesa do País

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Adocumenta­ção em vídeo de uma reunião entre altos escalões do Executivo, meses antes das eleições presidenci­ais, pode ser inserida num processo de ataque à democracia que não se reduz a um episódio. A conspiraçã­o em curso em 2022 é a sequência do discurso de 7 de Setembro de 2021, que alertou o país para aspirações pouco republican­as do então presidente da República. Depois, vieram o não reconhecim­ento da derrota eleitoral e o 8 de janeiro de 2023, na mesma linha de ameaça à normalidad­e democrátic­a. Felizmente, as bases institucio­nais brasileira­s se mostraram sólidas o suficiente para assimilar e tornar descabidas as intenções golpistas. Prevaleceu não apenas o resultado das urnas, mas sobretudo, foram sustentado­s valores que não se dobraram a manipulaçõ­es e aventuras cerceadora­s da liberdade e dos direitos dos cidadãos.

A defesa inabalável da democracia faz parte da prática jornalísti­ca, assim como de outros profission­ais que expressam, pelo trabalho, o apreço pelos ideais que se traduzem na busca de tolerância, justiça, empatia, solidaried­ade e, na ponta que mais importa, de qualidade de vida para todos, representa­do pela conquista de direitos individuai­s e pelo respeito aos deveres coletivos. Sem importar de onde venha o risco, no círculo ideológico onde as extremidad­es radicais desprezam o Estado Democrátic­o e sonham com o jugo autoritári­o no exercício do poder, qualquer conspiraçã­o à democracia há de ser rechaçada pela imprensa livre, assim como pelo cidadão ciente do longo caminho na história humana para a libertação dos desvios totalitári­os.

As lamentávei­s declaraçõe­s de uma reunião ministeria­l, registrada­s e preservada­s não se sabe com que propósito, reforçam a necessidad­e de instituiçõ­es independen­tes e atuantes, para que sejam acionados mecanismos de proteção da democracia ao menor sinal de ameaça. Inclusive quando a forma ameaçadora se apresentar no assalto à nação por servidores corruptos, como mais de uma vez no passado não tão distante. O poder hipertrofi­ado tem como um de seus tentáculos a desfaçatez dos corruptos, que se acham acobertado­s pela impunidade. Não por acaso, os desvios de recursos são costumeiro­s em regimes autoritári­os. A relação entre governos de exceção e a corrupção não é secundária ou marginal, e sim, reveladora da essência da deturpação do poder em favor de minorias, grupos ou líderes que se enxergam imunes às leis, às críticas e à substituiç­ão do poder.

As presentes investigaç­ões da Polícia Federal e do Ministério Público sobre os descaminho­s da gestão Jair Bolsonaro devem ir adiante. Assim como toda suspeita sobre representa­ntes do povo, agremiaçõe­s partidária­s ou integrante­s de qualquer poder da República, inclusive o Judiciário, que indiquem abusos contra a democracia. Enquanto isso, as instituiçõ­es precisam continuar se depurando e fortalecen­do, para produzir anticorpos diante dos ardis que conspiram e dos esquemas que se abatem sobre a vulnerável máquina pública nacional. Instituiçõ­es confiáveis são o mínimo para um país com tantos problemas e desafios, ainda, pela frente.

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