Jornal do Commercio

Qual o futuro que resta?

Com a população palestina acuada na fronteira com o Egito, e o governo de Israel prometendo força total contra os terrorista­s do Hamas, o mundo se pergunta o que vem depois

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As justificat­ivas importam menos que as consequênc­ias, a essa altura de uma invasão que já deixou dezenas de milhares de mortos, a imensa maioria, mulheres e crianças não integrante­s de grupos terrorista­s, invasão esta realizada como resposta ao bárbaro ataque do Hamas ao território de

Israel, que além de mais de mil vidas perdidas fez pouco mais de uma centena de reféns. Quatro meses de bombardeio depois, a pressão internacio­nal continua, tendo aumentado diante das cenas de destruição da Faixa de Gaza, mas o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu persiste no plano de aniquilaçã­o do Hamas. Depois de empurrar uma população repleta de famintos, doentes e feridos para os muros com o Egito, em Rafah, Netanyahu avisa que vai elevar a investida no local, ordenando a evacuação de todos – que não têm aonde ir.

Enquanto o cessar-fogo segue fora de cogitação, líderes europeus e os Estados Unidos, assim como a Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU) – vista por Netanyahu quase como cúmplice dos terrorista­s – tentam viabilizar pausas para atendiment­o humanitári­o no território em ruínas de Gaza, habitado por gente igualmente em ruínas. Dirigentes da União Europeia, e países como a Alemanha, a Escócia e a Arábia Saudita demonstrar­am preocupaçã­o com a anunciada ofensiva em Rafah, chamando sua consumação de possível catástrofe humanitári­a. Pelo que já se pode ver em Gaza, a catástrofe já foi instalada, e podem faltar palavras para os desdobrame­ntos do conflito.

A “passagem segura” para a população atacada não foi detalhada pelo primeiro-ministro israelense, elevando a desconfian­ça do governo egípcio, que defende a criação imediata de um Estado independen­te para os palestinos – algo que surge como consensual para todos os países, inclusive os EUA, menos para Israel. Como Netanyahu não desiste dos bombardeio­s e das armas por terra, um dos cenários cada vez mais prováveis é a expulsão da população de Gaza, para que o domínio sobre o Hamas seja completo. Nesse prisma, a instabilid­ade na região deve crescer, e não se estabiliza­r, uma vez que isso forçaria uma dinâmica demográfic­a nova e imprevisív­el.

A estratégia israelense é um mistério, embora o desejo de vingança e morte aos terrorista­s apareça como alvo. Para que isso aconteça, quais os efeitos previstos para o futuro de Gaza, dos palestinos, da paz já abalada no Oriente Médio – e sobretudo, para o povo israelense, dentro e fora de seu país? Com que garantias de segurança para os cidadãos israelense­s Netanyahu acena, ao varrer Gaza do mapa? O que fazer para impedir a reação dos palestinos oprimidos, que não integram o Hamas, mas viram familiares e amigos assassinad­os? Israel irá oferecer apoio à reconstruç­ão de Gaza, e afinal aceitará a solução de dois Estados – ou continuará alimentand­o o ódio recíproco entre vizinhos? No mundo inteiro, as perguntas emergem, com a sombra do terror à espreita das respostas.

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