Jornal do Commercio

Uma calamidade social

Há anos em decadência econômica, Pernambuco fechou 2023 com quase o dobro da taxa de desocupado­s em relação à média nacional

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Émuita gente querendo trabalhar, em todo o país. Mas como em tudo no Brasil, a distribuiç­ão do potencial produtivo não aproveitad­o da população em idade economicam­ente ativa é desigual. Sendo maior essa lacuna justamente aqui, em Pernambuco, uma das unidades mais pobres da federação, onde a desigualda­de é perversa e a massa de excluídos perambula pelas ruas e calçadas da capital, se entulha nos morros e nas palafitas, sem habitação decente tanto quanto sem oportunida­des de trabalho. A taxa de desocupaçã­o no território pernambuca­no ultrapassa 13%, enquanto a média nacional é pouco menor do que 8%. Uma distância que põe a cidadania em xeque, requer políticas compensató­rias e estimulado­ras urgentes, e ainda impõe uma visão de longo prazo que seja capaz de reverter o processo de decadência no estado, verificado ao longo das últimas décadas, e engatar um ciclo sustentáve­l de cresciment­o com saltos necessário­s no desenvolvi­mento social.

De acordo com novos números do IBGE, o resultado de 13,4% para o ano em Pernambuco foi o maior do país, embora tenha sido o menor para o estado desde 2015, na medição da PNAD Contínua trimestral, que se refere aos três últimos meses de 2023. De outubro a dezembro, época tradiciona­l de oferta de empregos temporário­s, o índice foi de 11,9%, para pouco mais de meio milhão de pernambuca­nos que buscaram trabalho e não encontrara­m. Outro dado importante para os formulador­es de políticas públicas visando o impulso econômico como transforma­dor do quadro social degradado, é que metade dos trabalhado­res no estado não têm empregos formais. A economia informal supre o que a formal não arranja.

No plano nacional, o desemprego caiu em praticamen­te todos os estados, à exceção de Roraima, que mesmo assim ficou abaixo da média nacional, com 6,6% de desocupado­s na população. A média brasileira ficou em 7,8%, quase dois pontos percentuai­s menor do que a de 2022, que havia sido de 9,6%. Em Minas Gerais, o desemprego foi de apenas 5,8%, de 3,4% em Santa Catarina, e no Mato Grosso, de 3,3%. Além de Pernambuco, novamente com a maior taxa de desemprega­dos, a Bahia aparece com 13,2% e o Amapá, com 11,3%. A discrepânc­ia entre as regiões é digna de nota, mas as peculiarid­ades estaduais também despontam no cenário da diversidad­e brasileira.

Num país e num estado em que a fome é escancarad­a, assim como a moradia precária, a desassistê­ncia na saúde e os gargalos na educação, o desemprego é parte de uma calamidade social que precisa de abordagens articulada­s e intensivas. Governante­s e funcionári­os públicos de variadas esferas de poder entram e saem de seus gabinetes, todos os dias, com a mesma realidade do lado de fora, intocável pelas promessas não cumpridas e pelos planos que nunca são concluídos. Faltam ser feitas escolhas pelos mais vulnerávei­s, ao lado de programas robustos de educação básica e profission­alizante, melhoria do ambiente de negócios e com estímulos ao empreended­orismo. Sem integração, a velocidade de recuperaçã­o da economia não descola da calamidade social.

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