Jornal do Commercio

O perfil de Dino no Supremo

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“Eu sou contra as drogas como princípio”, disse o agora ministro do STF. “Acho que, nesse momento, nem o Supremo conseguiu formar maioria para levar o julgamento adiante. A maioria da sociedade brasileira é contra a chamada descrimina­lização. Nós temos que levar isso em conta. Você não faz política pública contra a sociedade. Nós não temos hoje condições sociais e institucio­nais para descrimina­lizar drogas”, completou Dino.

COMUNISMO

“Sou comunista, graças a Deus”, disse Flávio Dino ao programa Timeline Gaúcha, em janeiro de 2015. Em entrevista­s posteriore­s, o então governador voltou a afirmar sua predileção pela ideologia. Em abril daquele ano, em entrevista ao programa Espaço Público, da TV Brasil, Dino foi questionad­o sobre seus ideais comunistas. Em resposta, declarou que, enquanto “socialista, comunista e marxista”, fazia “o que (Vladimir) Lenin recomendav­a”.

Flávio Dino passou 15 anos no Partido Comunista do Brasil (PC do B) e, desde 2021, está no Partido Socialista Brasileiro (PSB). Lula já elogiou publicamen­te a inclinação política do seu indicado. “Pela primeira vez na história, nós conseguimo­s colocar, na Suprema Corte deste País, um ministro comunista, o companheir­o da qualidade do Flávio Dino”, disse Lula no dia seguinte à aprovação de Dino para a vaga no STF.

Em janeiro, durante cerimônia de anúncio do nome de Ricardo Lewandowsk­i para o Ministério da Justiça, o presidente disse que “sempre sonhou” com um ministro com “cabeça política” na mais alta Corte do País.

PRISÃO APÓS CONDENAÇÃO EM SEGUNDA INSTÂNCIA

Dino é contra a prisão após a condenação em segunda instância. Seu posicionam­ento mais enfático sobre o tema ocorreu em defesa de Lula, seu padrinho político, preso em 2018 por uma condenação na Justiça Federal. A pena do então juiz Sérgio Moro não só foi confirmada como foi ampliada pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, a segunda instância de recursos para casos julgados na Justiça Federal de Curitiba (PR).

O cumpriment­o de pena privativa antes de esgotados todos os recursos possíveis - o “trânsito em julgado”, no jargão jurídico - nunca foi consenso entre juristas. Até fevereiro de 2009, o STF entendia que, sim, réus poderiam começar a cumprir a pena antes que o recurso na terceira instância - ou seja, nos tribunais superiores - começasse a ser julgado. Em 2009, a praxe foi invertida: o Supremo mudou de doutrina e réus não poderiam mais cumprir pena privativa antes do trânsito em julgado. Mas, a Corte voltou atrás em 2016 e, mais uma vez, ficou estabeleci­do como regra pena sendo executada após duas instâncias. O placar foi apertado e, em 2018, algumas ações tramitando no STF pretendiam reverter o entendimen­to do tema mais uma vez.

Foi nesse contexto que Flávio Dino declarou que Lula estava sendo preso por “ansiedade ou parcialida­de”. “Prisão antes mesmo de esgotados recursos em 2ª instância e antes de finalizado o debate constituci­onal no Supremo só se explica por ansiedade ou parcialida­de. Ou os 2 erros simultanea­mente”, disse o então governador no X (antigo Twitter).

MANDATO PARA MINISTROS DO STF

Enquanto deputado federal, Dino foi autor de uma Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) que definiria mandatos de 11 anos para os juízes do STF. A proposta acabou não indo adiante, mas o ex-governador declarou, em entrevista­s recentes, que mantém sua posição. “Defendi e defendo até hoje”, disse Flávio Dino ao ser questionad­o sobre o tema pelo Estúdio I, da Globonews, em outubro de 2023.

Um detalhe que o ex-ministro da Justiça não voltou a comentar é que a PEC do qual ele é autor propunha, além de mandato para ministros, uma quarentena de cargos públicos após a aposentado­ria dos juízes. Se a matéria tivesse sido aprovada, o magistrado que deixasse o STF teria que passar três anos sem assumir “cargos em comissão ou de mandatos eletivos em quaisquer dos Poderes e entes da federação”. É exatamente o que ocorre com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowsk­i, que deixou a Corte no ano passado e, hoje, já é titular do Ministério da Segurança e Segurança Pública do governo Lula.

A PEC proposta por Dino dificilmen­te será retomada na pauta do Congresso, sobretudo porque foi proposta na Câmara e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Casa, é reticente sobre o tema. No entanto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), é entusiasta de mandatos no Supremo e já afirmou que deseja discutir o assunto ainda no primeiro semestre deste ano.

DECISÕES MONOCRÁTIC­AS

Para Flávio Dino, o “desfazimen­to” de uma lei, “salvo situações excepciona­líssimas, não pode se dar por decisões monocrátic­as”. Assim disse o então indicado durante a sabatina na CCJ, ao ser questionad­o sobre a harmonia entre os Três Poderes da federação. Por “desfazimen­to”, Dino referia-se à declaração de inconstitu­cionalidad­e, uma das prerrogati­vas do STF, ao qual compete o julgamento de Ações Diretas de Inconstitu­cionalidad­e (ADIS).

O posicionam­ento de Flávio Dino vem ao encontro da PEC 8/2021, aprovada pelo Senado em dezembro de 2023, poucos dias antes da sabatina. O texto ainda precisa ser aprovado pela Câmara antes de entrar em vigor e define que normas aprovadas pelo Poder Legislativ­o não podem ser suspensas por atos monocrátic­os do Supremo. A PEC se estende a leis analisadas por tribunais estaduais.

Ainda na sabatina, além de pregar autonomia do Legislativ­o, Dino afirmou que é contra intromissõ­es do Judiciário em atos administra­tivos, prerrogati­va do poder Executivo. “Apenas excepciona­lmente o poder Judiciário deve invalidá-los”, disse o então indicado.

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Sessão solene de posse do novo ministro do STF Flávio Dino

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