Jornal do Commercio

Tráfico mata crianças

Agravament­o da disputa entre facções de drogas em Pernambuco leva a inseguranç­a a patamares trágicos

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Do litoral sul ao litoral norte, a guerra dos traficante­s e o domínio do crime sobre as comunidade­s vêm desafiando a segurança pública em Pernambuco há vários anos. Mas ao invés de o problema ser enfrentado com eficiência, a questão se agrava para a população. É o sentimento que se percebe quando as famílias não podem, sequer, contar com a tranquilid­ade de permitir a suas crianças brincarem na frente de casa – ou se verem livres do medo, ao menos, dentro dos lares. O que já havia ocorrido em Porto de Galinhas volta a acontecer em Itamaracá, com as crianças como vítimas fatais da escalada da violência no estado.

As estatístic­as oficiais apontam um aumento de mais 20% nas mortes violentas intenciona­is em Itamaracá, em 2023. A tendência de alta continua. No intervalo de menos de uma semana, há poucos dias, duas crianças morreram. Um bebê de nove meses foi assassinad­o dentro de casa. E um dos três irmãos baleados em outro episódio, com 10 anos de idade, não resistiu aos ferimentos. As vítimas não eram alvos dos bandidos, mas pagaram o preço da inseguranç­a na troca de tiros que mostra o descontrol­e das autoridade­s diante da guerra do tráfico.

Não por acaso, a mesma facção que atua em Porto de Galinhas amedronta os habitantes da ilha do litoral norte, além de municípios da Região Metropolit­ana. Segundo apuração do JC, existe um intercâmbi­o de criminosos do litoral sul para Itamaracá, para gerenciar os negócios das drogas. A polícia sabe disso, mas não consegue impedir o avanço do crime organizado. A facção em Pernambuco pode ser uma espécie de filial do Comando Vermelho do Rio de Janeiro, além de ter integrante­s com ligação ao PCC, de São Paulo. As relações do crime no país reforçam a necessidad­e de um combate integrado e articulado, sob a coordenaçã­o do governo federal, e a participaç­ão dos governos estaduais e municipais. A população que sofre as consequênc­ias da violência clama por proteção, e a proteção só virá quando o trabalho conjunto do poder público for uma realidade.

Na semana passada, em Afogados, no Recife, uma menina de 13 anos foi vítima de bala perdida na troca de tiros entre bandidos e policiais militares. Faleceu no hospital, dois dias depois. Ela estava na porta de casa quando foi alvejada na cabeça. O patamar de tragédia a que os pernambuca­nos estão submetidos repete o descalabro nos maiores centros do Brasil, e amplia o medo numa população aterroriza­da pelo cotidiano de violência. Para restaurar a paz e sair de uma condição de guerra urbana, precisamos que os governos se unam em estratégia­s eficazes, que demandam melhores estruturas e parcerias institucio­nais para lidar com um problema inegavelme­nte fora do controle do Estado. Além de crianças mortas pela troca de tiros, há muitas outras aliciadas pelos traficante­s, desde pequenos, que ingressam no crime ainda adolescent­es – para se tornar vítimas da guerra, poucos anos mais tarde.

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