Jornal do Commercio

O impacto que Bolsonaro realmente pode ter nas eleições de 2024

- IGOR MACIEL imaciel@sjcc.com.br Twitter: @jc_pe Telefone: (81) 3413.6288

Após o ato convocado por Bolsonaro para a Avenida Paulista, há uma expectativ­a grande sobre o uso desse capital político nas eleições municipais de 2024. Mas o impacto do ato, se tiver esse objetivo, é pequeno, para não dizer que é quase nulo.

Então, Bolsonaro não terá influência nenhuma em 2024? Terá, mas não da maneira que as pessoas imaginam.

IMPOSSÍVEL

Eleições municipais são as disputas do: “quer ajudar, mande dinheiro”. Nacionaliz­ar uma campanha municipal é missão quase impossível, caso você queira realmente vencer.

Para nacionaliz­ar uma eleição municipal é preciso que o nível de satisfação dos habitantes daquela cidade esteja em 110%. Apenas quando não há qualquer problema na cidade, no bairro, no caminho para o trabalho, é possível derivar as pautas eleitorais para uma discussão ideológica.

PROXIMIDAD­E

A questão é que basta ter um buraco no trajeto até o trabalho, basta que o ônibus atrase, que o lixo não tenha sido recolhido um dia ou que o posto de saúde esteja há um mês sem pediatra para que o cidadão olhe para qualquer menção à nacionaliz­ação do debate como um “insulto”.

Na prática, se ninguém se propõe a tapar os buracos da cidade, de que adianta o candidato ser de Bolsonaro ou de Lula?

“DESNACIONA­L”

Essa questão foi levantada no programa Passando a Limpo da última segunda-feira (26), logo após o ato de Bolsonaro. Entrevista­do, o cientista político Adriano Oliveira relatou pesquisas qualitativ­as que acompanhou e atestam essa “desnaciona­lização” dos embates municipais.

O interesse do eleitor é com o que acontece em sua comunidade e a briga entre Bolsonaro e Lula fica sempre em segundo plano.

“VOU ALI PERDER”

Nacionaliz­ar, para quem tem interesse em vencer a eleição não funciona porque atrai votos, mas também atrai rejeição.

E há quem dispute a eleição para não vencer? Sim, é muito comum. Nas eleições municipais, principalm­ente em cidades que têm emissoras de

TV e, portanto, terão guias eleitorais e debates, participar mesmo sabendo que vai perder é uma maneira de levantar o próprio nome para a eleição seguinte, legislativ­a, tentando formar uma base mais sólida.

No Recife, por exemplo, isso vai acontecer. Em Caruaru também.

BOM PALCO

Em todas essas cidades, a chance de ocupar um tempo nos guias eleitorais e ter a oportunida­de de antagoniza­r com os candidatos favoritos é uma chance de se promover para disputas posteriore­s. Nesses casos, vale a pena tentar nacionaliz­ar a eleição.

O eleitor vai ver, por exemplo, Gilson Machado Neto (PL) empunhar a bandeira de Bolsonaro nas eleições do Recife e atacar João Campos como o “candidato de Lula”.

BASE AMPLA

Gilson vai ganhar alguns votos e perder outros tantos por isso. O discurso nacionaliz­ado em excesso, atraindo rejeição, deve fazer com que ele perca qualquer mínima chance real de ser prefeito.

Mas fazendo a defesa do ex-presidente o ex-ministro vai ampliar sua base para 2026 entre os bolsonaris­tas e, provavelme­nte, será um dos favoritos para deputado federal no campo da direita, quando tentar uma vaga no Congresso Nacional.

Gilson, é bom lembrar, já poderia ser deputado hoje, mas escolheu atender um pedido de Bolsonaro em 2022 e candidatou-se ao Senado. Teve mais de um milhão de votos, mas ficou de fora.

LUCRO POUCO É MUITO

Em Caruaru, Fernando Rodolfo (PL) deve cumprir esse papel de nacionaliz­ar e defender Bolsonaro também. Mesmo tendo poucas chances de chegar à frente do atual prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB) e do ex-prefeito José Queiroz (PDT), o deputado federal não tem absolutame­nte nada a perder perdendo a eleição.

Na reeleição, em 2022, Rodolfo viu a votação em Caruaru, sua base, cair de 28.597 votos para 6.265 votos. Conseguiu seguir deputado por causa dos outros municípios, mas foi apertado.

Em 2024, com a exposição em Caruaru como candidato a prefeito, com guia eleitoral e debates, o mínimo que pode acontecer é ele melhorar a votação para 2026. Qualquer coisa já vai ser lucro.

MÉDIO PRAZO

Por isso se diz que o investimen­to do PL em Bolsonaro (ele recebe mais de R$ 40 mil por mês, fora outros benefícios) é um projeto de quatro anos. Não é para ele fazer muitos prefeitos pelo país, é para garantir uma grande bancada federal em 2026 (porque esse é o parâmetro para que o partido ganhe mais dinheiro da Justiça Eleitoral).

O PL vai garantir muito dinheiro para seus candidatos municipais (o que importa) em 2024, tentar aumentar o número de prefeitura­s onde isso for possível, e usar Bolsonaro como impulso para ampliar a bancada nas eleições nacionais, dois anos depois.

POR ENQUANTO

Isso, é claro, será o plano apenas enquanto ninguém for preso. Inclusive Bolsonaro e o presidente do partido, Valdemar Costa Neto.

O futuro dos bolsonaris­tas ligados ao expresiden­te anda bastante incerto nos últimos meses. Qualquer plano, nesse ambiente, já nasce precário.

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Durante ato de Bolsonaro na Av. Paulista, ex-presidente fala sobre acusações de suposta tentativa de golpe contra Lula e apela por anistia para presos do 8 de janeiro. Veja mais sobre o evento
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Machado é um dos amigos mais próximos do ex-presidente Bolsonaro
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