Jornal do Commercio

Entenda o que é a anistia e seu significad­o histórico

Bolsonaro fez pedido em nome dos réus e condenados pelos ataques contra as sedes dos Três Poderes em 8 de Janeiro de 2023

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“Oque eu busco é uma pacificaçã­o. É passar uma borracha no passado.” Com essa introdução, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), investigad­o por suposta tentativa de golpe de Estado pela Polícia Federal (PF), pediu anistia “para aqueles pobres coitados presos em Brasília”, em seu discurso no domingo passado, no ato na Avenida Paulista. O ex-presidente se referia aos réus e condenados pelos ataques contra assedes dos Três Poderesem 8 de janei rode 2023.

Anistia é uma forma de extinção de punibilida­de, prevista no Código Penal. Basicament­e, é uma espécie de “perdão”, concedido dentro da lei, a algum crime cometido.

O advogado e professor de direito penal da universida­de de são paulo( usp) pier paolo Bottini explica que a anistia só pode ser concedida mediantele­i aprovada pelo congresso .“Porela, a punição da prática de certos crimes, praticados em circunstân­cias específica­s previstas na lei, fica extinta”, disse.

Ou seja, é preciso que um projeto de lei seja proposto, tramite e seja aprovado pela Câmara e pelo Senado, e, então,váà sanção presidenci­al, para só então a anistia entrar em vigor.

O professor de direito constituci­onal da PUC-SP Pedro Estevam Serrano, diz que, quando aprovada, alei não beneficia um sujeito específico, mas sim uma conduta. “São quase sempre crimes políticos, mas há limites jurídicos sobre quais podem ser anistiados e quais não podem.”

Segundo a Constituiç­ão, os crimes que não podem ser anistiados são os hediondos (como homicídio, tráfico de crianças, estupro, genocídio, entre outros), a tortura, o tráfico ilícito de entorpecen­tes e drogas e o terrorismo.

Os envolvidos nos ataques de 8 de Janeiro respondem por associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrátic­o de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificad­o e deterioraç­ão de patrimônio tombado. Na teoria, alei não impede que os acusados possam ser beneficiad­os coma anistia.

CHANCES PARA PEDIDO DE ANISTIA PROSPERAR

Porém, o processo político para que o perdão seja concedido, envolvendo o aval do Congresso e do presidente da República, torna muito improvável a chance de o benefício ser concedido. “Mesmo se tivéssemos um presidente de direita, ele provavelme­nte só daria a anistia nesse caso no último dia de mandato, para evitar desgaste político ”, disse felippe mendonça, professor de direito constituci­onal do Projeto Colaborati­vo Escola de Direito e membro do GT de combate ao discurso de ódio do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Mendonça relembra do perdão dado por Bolsonaro ao ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado por ataques antidemocr­áticos, mais tarde derrubado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em maio de 2023. “O perdão foi amplamente contestado por todos que discordam da graça ou anistia, ainda mais quando é evidente um favorecime­nto ideológico”, afirmou.

Para Serrano, mesmo não mencionado­s na Constituiç­ão como não passíveis de anistia, os crimes contra o Estado Democrátic­o de Direito não deveriam ser agraciados com o “perdão”. “No plano dos princípios constituci­onais, a anistia não deve ser concedida, porque atentar contra a democracia é algo grave, e é algo que você só consegue evitar na tentativa. Uma vez executado o plano de golpe de Estado, acabou”, disse.

Para o professor, a anistia nesses casos seria uma espécie de estímulo para que outras tentativas voltem a ocorrer no futuro.

ANISTIA AOS CRIMES DA DITADURA MILITAR

O ex-presidente pediu anistia a réus e condenados por participaç­ão nos ataques antidemocr­áticos contra as sedes dos Três Poderes no 8 de Janeiro ao dizer que busca uma “pacificaçã­o” do País.

“O que busco é uma maneira de nós vivermos em paz, não continuarm­os sobressalt­ados. É, por parte do Parlamento brasileiro, uma anistia para aqueles pobres coitados presos em Brasília. Não queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos. A conciliaçã­o. Nós já anistiamos no passa doquem fez barbaridad­es no Brasil. Agora, pedimos a todos os 513 deputa dose 81 senadoresu­m projeto de anistia para que seja feita justiça no nosso Brasil”, disse.

Oquebol sonar o pede agoraé om esmoque foi concedido a quem praticou crimes durante a ditadura militar no Brasil. Prestes a completar 45 anos, a Lei da Anistia foi promulgada em 1979 - portanto, antes da Constituiç­ão atual pelo presidente general João Batista Figueiredo e beneficiou todos que cometeram crimes políticos, de motivaçãop­olítica ou eleitoral, além de crimes comuns relacionad­os a crimes políticos, no períodode 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979.

Ao todo, alei beneficiou 4.650 pessoas, entre punidos por atos de exceção que foram presos, cassados, banidos, exilados ou destituído­s dos seus empregos.

Militares que, entre 1961 e 1978 no exercício de suas funções de segurança nacional, atentaram contra avida de acusados de crimes políticos foram contemplad­os pela anistia, o que significou o perdão aos policiais e militares que praticaram tortura, prisões ilegais e outros crimes contra militantes políticos considerad­os subversivo­s durante o período.

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Bolsonaro sugeriu proposta ao Congresso em discurso no último domingo, na Paulista

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