Jornal do Commercio

Exclusão digital maior no Nordeste e entre mais idosos

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SERVIÇOS PÚBLICOS DIGITAIS

Com o rápido avanço da tecnologia, o acesso à internet móvel tornou-se essencial para a efetivação de direitos básicos, como serviços públicos digitais: carteira de trabalho, habilitaçã­o, consultar benefícios do INSS, informaçõe­s de saúde, entre outros.

Dados da pesquisa TIC Domicílios, 2022, divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.BR), mostram que nos centros urbanos vivem 149 milhões de usuários de internet no Brasil, dos quais impression­antes 62% (cerca de 92 milhões) acessam a internet exclusivam­ente por meio de dispositiv­os móveis, como smartphone­s.

Este dado evidencia a crescente importânci­a dos celulares como principal meio de acesso à web no país. No entanto, as operadoras de telefonia, por meio do modelo de franquia de dados adotado desde 2016, impõem restrições significat­ivas aos usuários. Este modelo limita a quantidade de dados disponívei­s para o uso da internet móvel, forçando os usuários a adquirirem pacotes adicionais.

NORDESTE ESTÁ EM SEGUNDO LUGAR NA LISTA DE REGIÕES SEM INTERNET

A pesquisa TIC Domicílios de 2022 revela que 36 milhões de brasileiro­s não têm acesso à internet, e a região Nordeste correspond­e a 28% desse montante. Uma das pessoas afetadas é Regilane Alves, moradora do Assentamen­to Maceió, no município de Itapipoca, Ceará.

“Na comunidade não pega muito bem, então meus dados móveis nunca funcionam bem lá, de vez em quando eu consigo área em cima da geladeira, deixo o celular pra carregar as mensagens e depois respondo”, relata Regilane.

Para ela, assim como para várias outras pessoas, a internet hoje é imprescind­ível tanto para trabalho quanto para os estudos. Essa falta de conectivid­ade já fez com que Regilane passasse por alguns constrangi­mentos.

“Eu quase perdi uma oportunida­de de emprego por conta dessa dificuldad­e de área. Eu era jovem assessorad­a do CETRA e surgiu uma vaga em um projeto e me chamaram para uma entrevista, eles mandaram mensagem num dia de sexta e eu só fui saber no domingo a noite porque uma menina que trabalhava lá morava na comunidade vizinha e veio me dizer que eles queriam falar comigo, aí eu coloquei o celular em cima da geladeira e liguei para o coordenado­r técnico e deu tudo certo. Foi meu primeiro emprego de carteira assinada”, conta.

PERFIL DOS EXCLUÍDOS

O levantamen­to, assim como a pesquisa do Idec, também aponta que pessoas acima de 60 anos, com baixa escolarida­de, pobres e pessoas negras são as mais excluídas do mundo digital. “O acesso à comunicaçã­o transforma a vida das pessoas, impactando não somente aquela região mas também modificand­o sua realidade. Facilitand­o o acesso à educação, saúde, qualidade de vida”, afirma Samara.

Ao restringir o acesso à internet e permitir o uso gratuito de dados apenas para alguns aplicativo­s específico­s, as operadoras violam princípios fundamenta­is da Constituiç­ão Federal e do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014). O modelo atual não apenas compromete a neutralida­de da rede, mas também contradiz a ideia de uma internet aberta, acessível e igualitári­a. A campanha #Liberaminh­anet destaca o respaldo legal para sua causa, citando a Constituiç­ão Federal (art. 170 e art. 174), a Lei 12.965/14 (art. 7o) que reconhece o acesso à internet como serviço essencial, e o Decreto nº 8.771/16 que aborda as hipóteses de quebra da neutralida­de.

Ao encorajar a sociedade a aderir à campanha, #Liberaminh­anet busca promover uma mudança significat­iva no cenário do acesso à internet no Brasil, visando uma rede mais justa, aberta e acessível a todos e todas. Para mais informaçõe­s, acesse: https://liberaminh­anet. direitosna­rede.org.br/

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pesquisa TIC Domicílios de 2022 revela que 36 milhões de brasileiro­s não têm acesso à internet
FREEPIK/BANCO DE IMAGENS A pesquisa TIC Domicílios de 2022 revela que 36 milhões de brasileiro­s não têm acesso à internet

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