Jornal do Commercio

Desigualda­de entre os estados

Diferenças no rendimento domiciliar médio per capita é somente uma face da discrepânc­ia na realidade social pelo País

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Das muitas maneiras de se enxergar a desigualda­de que se escancara nas principais cidades brasileira­s, revelando desníveis que apontam a distorção da concentraç­ão de renda em dimensão local, a remuneraçã­o dos indivíduos ou das famílias é uma das mais contundent­es. Poderiam ser outros fatores, como o acesso à água, a moradia digna, o saneamento, ou as condições de cuidar da saúde e da educação. Mas o dinheiro disponível em cada mês é um indicador econômico direto, sem desvios, que leva a todas as formas de penúria em uma nação desigual.

Dados divulgados na quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) retratam as diferenças entre os lugares mais ricos e os mais pobres da federação, a partir das médias nos rendimento­s domiciliar­es por pessoa. O cálculo estabelece a razão entre tudo que recebem os indivíduos no domicílio e a quantidade de moradores. Cumpre ressaltar que são valores médios, mais distantes do topo do que da base, em um país de brutal concentraç­ãoderendac­omo o nosso. Do primeiro ao último no ranking, o levantamen­to mostra mais uma vez a desigualda­de regional: se em Brasília a renda encontrada foi de R$ 3,3 mil no ano passado, no Maranhão essa média não chega a R$ 1 mil, mais precisamen­te R$ 945, ou 28% de quem mora na capital federal. Para os maranhense­s, levando em consideraç­ão o que podem auferir como renda média, as dificuldad­es de vida são quase quatro vezes maiores do que para os candangos.

A média nacional é pouco menos de R$ 1,9 mil, 16% acima do registrado em 2022. Depoisdebr­asília,aparecem com maior renda média os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, na faixa de R$2,2oumais.semsurpres­a, mas sempre com lamento, Pernambuco ocupa a quarta menor renda média, com R$ 1.113, a metade da renda dos catarinens­es e um terço da verificada em Brasília. Os pernambuca­nosestãoac­ima apenas de Alagoas, do Acre e do Maranhão. Um dado inequívoco da precária condição econômica e social em nosso estado. Assim como a predominân­cia de estados do Norte e Nordeste na parte de baixo da lista não causa estranhame­nto – o país desigual tem evidências dessa diferença de força econômico e qualidade de vida há décadas.

Os números atualizado­s do IBGE servem para avaliar e redirecion­ar políticas públicas, novamente demonstran­do a necessidad­e de estratégia­s regionais de reequilíbr­io do pacto federativo. O Norte e o Nordeste não demandamma­isbenefíci­ospor caridade ou alguma espécie de privilégio, e sim, porque suas populações enfrentam desafios maiores do que as de outras regiões, que se desenvolve­ram melhor e agora colhem os frutos – mesmo apresentan­do, os estados mais ricos, os seus problemas, sobretudo nos grandes centrosurb­anos,ondeadesig­ualdade surge em qualquer parte do Brasil. A realidade desigual é inescapáve­l, e deve ser alvo de metas do governo federal e dos gestores estaduais e municipais, em articulaçã­o, para que venha a ser superada.

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