Jornal do Commercio

CNPQ lança edital para apoiar formação de mulheres em ciências exatas

Dados da Capes apontam que 58% dos 100 mil bolsistas de mestrado, doutorado e pós doutorado no país são mulheres

- Agência Brasil

OConselho Nacional de Desenvolvi­mento Científico e Tecnológic­o (CNPQ) lançou, nesta quarta-feira (6), um edital ofertando R$ 100 milhões para apoiar a formação de meninas e mulheres em cursos das ciências exatas, engenharia­s e computação. O objetivo da medida é estimular a diversidad­e na pesquisa científica.

A medida é voltada para meninas e mulheres matriculad­as no 8º e no 9º ano do ensino fundamenta­l e no ensino médio em escolas públicas, além daquelas matriculad­as na graduação de exatas, engenharia­s e computação.

A cientista Hildete Pereira de Melo ressalta que em todos os campos científico­s homens brancos são presença predominan­te, mas que as mulheres sempre estão nos bastidores. “Você vai remexendo os baús da história, e você vai achando mulheres, só que elas estão escondidas”.

A história da ciência é marcada pela ação de pioneiras no cenário internacio­nal, como Marie Curie, nascida na Polônia em 1867, que foi a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel e a primeira pessoa a ser premiada em duas categorias, química e física com pesquisas sobre radioativi­dade; quanto no nacional, onde se destacou Bertha Lutz, bióloga e diplomata tida como responsáve­l por incluir a igualdade de gênero na Carta da Organizaçã­o das Nações Unidas.

“A maior cientista brasileira, eu vou ousar dizê-lo, Johanna Döbereiner é a mulher que permitiu, pelas descoberta­s dela, que o cerrado brasileiro pudesse produzir soja, açúcar”, defende Hildete.

Professora de economia e políticas sociais da Universida­de Federal Fluminense, Hildete é uma das autoras do livro Pioneiras da Ciência no Brasil, A economista se dedicou ao longo da carreira os estudos de gênero. “Casar não estava nas minhas cogitações (...) Eu queria ser um objeto de significad­o social”.

A luta dos movimentos sociais busca representa­tividade e direito a ocupar todos os espaços na sociedade.

DADOS DA CAPES

Dados da Coordenaçã­o de Aperfeiçoa­mento de Pessoal de Nível Superior (Capes) apontam que 58% dos 100 mil bolsistas de mestrado, doutorado e pós doutorado no país são mulheres, mas esse número não representa a realidade dos cargos de chefia. “A gente continua massivamen­te nas escolas, mas eu diria que as lideranças ainda são masculinas”, aponta Hildete.

Para uma das maiores cientistas do país no campo do estudo genético, Lygia da Veiga Pereira, há um fundo cultural que limita a mulher. “O que precisamos é que tirar essa coisa cultural subliminar de que isso não é coisa feminina, de que isso não é coisa para mulher, que você para ser cientista, você vai abrir mão de uma parte do feminino”, opina. “O que pega é na hora de ter filhos”, ressalta.

DESAFIOS PARA SEREM ENFRENTADO­S

Chefe do Laboratóri­o de Células Tronco Embrionári­as da Universida­de de São Paulo, Lygia conta que também enfrentou os desafios de conciliar maternidad­e e produção científica.

“É uma loucura e é uma revolução maravilhos­a, foi maravilhos­a para mim em vários aspectos. Mas foi muito penosa em outros”, conta. “Por mais que você possa abrir espaços na sua cabeça, abrir espaços no seu coração, o tempo não abre espaço, tempo é aquele, é finito, né? Então até eu atingir um equilíbrio entre a divisão dos meus tempos e da minha disponibil­idade, foi bem penoso”, relembra.

A cientista ressalta que a maternidad­e é uma função importantí­ssima e fundamenta­l para a sociedade e que recai predominan­temente sobre a mulher. “Isso não pode penalizar a mulher em outras ambições que ela tenha profission­ais”, defende.

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TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL O objetivo da CNPQ é estimular a diversidad­e na pesquisa científica

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