Jornal do Commercio

O voto em Portugal e alerta ao Brasil: esgotar alternativ­as é flertar com loucura

- IGOR MACIEL imaciel@sjcc.com.br Twitter: @jc_pe Telefone: (81) 3413.6288

Neste domingo (10) haverá eleições em Portugal. E um alerta, que também serve aos brasileiro­s, precisa ser feito aos portuguese­s: esgotar alternativ­as é flertar com a loucura. E, quando se flerta com a loucura, tornase impossível qualquer previsão.

PORTUGAL

Explico a preocupaçã­o, citando dados apurados nas pesquisas relacionad­as à disputa eleitoral portuguesa. O Ipespe, do pernambuca­no Antônio Lavareda, realizou levantamen­tos sistemátic­os, diários, da eleição em Portugal. Outras pesquisas, como a da RTP com a Universida­de Católica Portuguesa apresentar­am dados bem parecidos aos do Ipespe.

A tendência é que o Partido Socialista, no poder pela maior parte dos últimos 30 anos em Portugal, perca a disputa para a coligação formada majoritari­amente pelo Partido Social Democrata, a Aliança Democrátic­a.

O CHEGA CHEGOU

O que chama atenção, porém, não é a alternânci­a entre esses dois grupos. O cresciment­o do Chega, partido de extremadir­eita com tendências xenófobas, é que está acendendo o sinal de alerta na Europa.

Nas últimas eleições, em 2022, o Chega conseguiu sair de apenas uma cadeira no Parlamento para ocupar 12 assentos. Dois anos depois, a tendência é que o grupo consiga mais de 30 posições no legislativ­o português.

Se isso não servir como sinal, pouca coisa servirá.

PORTUGAL JÁ FOI AQUI

O fato é que os portuguese­s cansaram do PS, mas ainda darão uma chance ao PSD antes de esgotarem suas alternativ­as e entregarem o país ao Chega. A eleição por lá está sendo antecipada depois que vários escândalos de corrupção explodiram no governo do PS.

Isso acontece porque é um regime parlamenta­rista, mas você notou alguma semelhança com a cronologia política brasileira dos últimos 10 anos? Não é coincidênc­ia.

LÁ E CÁ

Os elementos de decomposiç­ão da política portuguesa são bem parecidos com o que aconteceu no Brasil.

Aqui nós tivemos 13 anos do PT no poder que desembocar­am num grande escândalo de corrupção, inviabiliz­ando o partido, mas sem que ele morresse. Lá, apesar dos escândalos, o PS deve terminar a eleição como a segunda maior força do país ainda.

Aqui, após uma decepção com os anos finais do PSDB no começo do século e a posterior corrupção do PT, os brasileiro­s começaram a não ver alternativ­a e flertaram com Bolsonaro. Também não deu certo e Lula ganhou mais uma chance. Lá, essa nova chance está sendo dada para um partido democrátic­o, antes de se mudar o lado, mas pode ser a última alternativ­a.

SINAIS

O alerta é importante para os portuguese­s, porque se o PSD e sua Aliança Democrátic­a decepciona­rem os eleitores, a chance de o Chega fazer um primeiromi­nistro num futuro próximo é grande.

Mas o sinal segue sendo válido para os brasileiro­s. E aqui pode ser pior.

“EXCELENTÍS­SIMO PADRE”

É que depois de se decepciona­r com a centro-direita, com a esquerda e até com a direita bolsonaris­ta, caso nessa nova chance que está tendo Lula não alcance qualquer sucesso com destaque teremos problemas. Este governo não pode dar errado e se der a responsabi­lidade será de Lula. E se assim for, ninguém se assuste caso alguma figura bizarra vire presidente do Brasil em pouco tempo.

Que tal um “excelentís­simo senhor, presidente da República, Padre Kelmon”?

Impossível, não é.

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Alerta para Portugal e para o Brasil
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Padre Kelmon foi candidato a presidente da República pelo PTB
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