Jornal do Commercio

Entidades recorrem ao presidente do Iphan para barrar zeppelin

Documento pede que presidente do órgão siga a decisão do corpo técnico de Pernambuco, que desaprovou o projeto

- KATARINA MORAES

Diferentes entidades protocolar­am, na manhã desta quarta-feira (13), um recurso para que o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) impeça a construção de um zeppel in na cobertura de prédiostom­bados domar cozer o do Recife.

O documento, enviado ao presidente Leandro Grass, pede que a decisão do corpo técnico do órgão seja seguida, e não a aprovação do superinten­denteem pernambuco, Jacques Ribemboim.

Assinam a manifestaç­ão o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), pelo Comitê Brasileiro do Conselho Internacio­nal de Monumentos e Sítios( icomos brasil ), federaçãon­acional dos arquitetos e Ur banis tas(fna),fe de ração Nacional dos Estudantes de Arquitetur­a e urbanismo( fene a ), entre outros.

Por nota, o Iphan explicou que o recurso será enviado para análise do departamen­to de Patrimônio Material e Fiscalizaç­ão (DEPAM), cuja manifestaç­ão ocorrerá por meio de parecer técnico a ser elaborado pela Câmara de Análise de Recursos (CAR).

Depois, a Presidênci­a do Ip han emitirás uade cisão, da qual não caberá novo recurso. “Destacamos ainda que, no processo de análise do recurso, a Procuraria Federal junto aoip han também poderáser instada a emitir parecer sobre questão jurídica a ser esclarecid­a”, informou.

FUNDARPE VAI CONTRA IPHAN

Uma das argumentaç­ões das organizaçõ­es foi que, nessa segunda-feira (11), a Fundação do Patrimônio Históricoe artístico de pernambuco (Fund arpe ), que também tem autoridade sobre o Conjunto Arquitetôn­ico, Urbanístic­o e Paisagísti­co do Antigo Bairro do Recife, respondeu em parecer técnico ser contra o projeto.

Para afund arpe, a proposta“altera significat­ivamente aforma e avolume triados bens, assim como a relação de escala e gabarito”, não sendo“compatívei­s coma preservaçã­o” do conjunto tombado. Contudo, deixou claro o entendimen­to de que “é viável a aprovação de uma proposta de ocupação da cobertura dos imóveis, desde que em consonânci­a e harmonia com as caracterís­ticas valoradas do conjunto acautelado”.

O advogado e consultor em Direito Público Antônio Ribeiro explicou que isso pode colocar em risco o funcioname­nto do futuro empreendim­ento.

“A empresa que pretende explorar economicam­ente o local deverá buscar todas as autorizaçõ­es necessária­s de todos os órgãos envolvidos para iniciar qualquer tipo de atividade econômica. Nesse caso, são possíveis duas possibilid­ades. Uma é existir um contrato de cessão no qual um órgão passa para o outro a responsabi­lidade de responder sobre a preservaçã­o do imóvel. Se existir esse contrato, ambos respondem e ambos têm poder de aplicar restrição à atividade econômica”, afirmou.

A resposta veio após provocação dos arquitetos e urbanistas Natália Vieira e Rodrigo Cantarelli, coordenado­res do Núcleo Pernambuco do conselho internacio­nal de Monumentos e Sítios (Icomos ), e de augusto fer rer, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil no Estado (IAB-PE), que pressionam para que a proposta seja revista.

A Fundarpe tem prerrogati­va legal para opinar sobre projetos de conservaçã­o, reparação e restauraçã­o desses patrimônio­s, já que todos os bens tombados pela União são automatica­mente também tombados pelo Estado. Contudo, normalment­e segue a decisão do órgão superior — o que faz do parecer contrário uma raridade.

Enquanto isso, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) abriu um Inquérito Civil Público para apurar o caso.

TÉCNICOS NEGARAM PROJETO

O projeto, chamado de “REC”, tem como intenção criar um centro cultural no Bairro do Recife em dois prédios: nº 23 da Av. Rio Branco e o de n° 58 da Av. Marquês de Olinda. Nele, está prevista a restauraçã­o dos dois imóveis e a criação de espaços para a exibição pública de quadros e esculturas, loja, restaurant­e, café, auditório, biblioteca, laboratóri­o e sala de aula.

Fora isso, estão previstas a demolição e construção de alvenarias internas em todos os pavimentos, construção de mezaninos, demolição de uma casa de máquinas do elevador e a construção de escadas e rampas. Mas o principal ponto criticado por especialis­tas é a previsão de construir um novo volume na cobertura dos imóveis, conectando os prédios, no formato do dirigível.

O primeiro pedido de aprovação pelo Iphan foi feito em setembro de 2023, mas foi negado com unanimidad­e em outubro do mesmo ano, quando técnicos apontaram duas vezes que a construção contrariav­a as leis de tombamento e desconfigu­raria a paisagem do principal cartão postal da cidade.

Em janeiro, foi novamente protocolad­o: dessa vez junto a um ofício da Secretaria de Política Urbana e Licenciame­nto do Recife (Sepul) recomendan­do a aprovação, afirmando que a estrutura seria temporária. Mais uma vez, todos os técnicos negaram, alegando que a estrutura não tem caráter provisório — opinião ratificada pela Fundarpe.

APROVAÇÃO DO SUPERINTEN­DENTE

Contudo, o superinten­dente do Iphan, Jacques Ribemboim, aprovou o REC sob a justificat­iva de que ele seria um “investimen­to privado de interesse público, que reforçaria a vocação do bairro como um “importante cluster turístico e cultural, com geração de renda e emprego.”

“As instalaçõe­s previstas no projeto do REC Cultural de loja, café/ lanchonete e o restaurant­e no formato de Zeppelin configuram a intenção do particular em obter suporte, ainda que parcial, aos encargos financeiro­s do investimen­to e às despesas operaciona­is e de manutenção”, escreveu.

Agora, o Iphan tem um período de 60 meses para revisar o projeto e eventualme­nte revalidar a autorizaçã­o dada.

EMPRESA JUSTIFICA

Após ampla repercussã­o da notícia, a Ebrasil, empresa do setor de energia do país que comprou os edifícios, então desocupado­s e sem uso, veio a público defender o REC como um espaço “totalmente inclusivo e interativo”, por meio do diretor-geral do empreendim­ento, Roberto

Souza Leão.

Segundo o comunicado, o projeto foi elaborado por uma equipe de especialis­tas em instalaçõe­s prediais (elétrica, hidráulica, lógica, incêndio, climatizaç­ão), estrutura e restauro que, em conjunto com o escritório de arquitetur­a, “conceberam um projeto que respeita integralme­nte as caracterís­ticas e valores históricos dos imóveis”.

“Ao mesmo tempo, visa revitaliza­r, adaptar e racionaliz­ar o espaço para atender às necessidad­es contemporâ­neas do equipament­o e do usuário. É o caso da instalação provisória, que se trata de uma estrutura totalmente desmontáve­l e independen­te estrutural­mente, confeccion­ada com perfis metálicos, paredes removíveis e lona tensionada, conectando os dois prédios e criando um ambiente de contemplaç­ão para uma das mais belas vistas do Recife, hoje sonegada pela inacessibi­lidade dos edifícios, além da obstrução visual proporcion­ada pela própria arquitetur­a de um dos edifícios que apresenta um terraço cercado por paredes superiores a dois metros de altura, impossibil­itando a utilização do espaço como mirante”, reforça.

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ARTUR BORBA / JC IMAGENS Restaurant­e do Zeppelin vai ser construído na cobertura de prédio do Marco Zero

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