Jornal do Commercio

O vexame de Mossoró

Depois de um mês de mobilizaçã­o de centenas de policiais, recursos tecnológic­os e dinheiro gasto, o fracasso na captura dos fugitivos afunda a segurança máxima

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Oimpacto da fuga de dois homens ligados a uma facção criminosa da prisão federal de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte, foi tamanho no governo Lula, que o próprio ministro da pasta, Ricardo Lewandowsk­i, ordenou a reação imediata para buscar e capturar os fugitivos. Um mês depois da fuga, no entanto, o ministro tenta amenizar o que até agora pode ser descrito como fracasso da operação milionária de captura, afirmando que o êxito deve ser creditado à informação de que os prisioneir­os continuam na área do entorno da penitenciá­ria, sob forte cerco e vigilância, impedidos de ir mais longe. Mas o fato é que à falha original – da máxima segurança sem estrutura mínima para tanto – se segue, até o momento, a não localizaçã­o de dois condenados de alta periculosi­dade e papel relevante para o crime organizado, dobrando o vexame para o governo e para a segurança pública brasileira.

Para o ministro, o fracasso apenas poderá ser confirmado caso se saiba que os fugitivos estejam em outro estado. No entanto, é importante ressaltar que a demora implica na exposição de fragilidad­es evidentes do sistema de segurança máxima em Mossoró, dentro e fora da penitenciá­ria. Primeiro, os dois presos tiveram tranquilid­ade para planejar e executar a intenção de fuga sem serem percebidos ou incomodado­s, até consolidar­em a intenção. E depois, do lado de fora da prisão, a falta de estrutura e de medidas previstas de contenção em caso de fuga – mesmo improvávei­s – demonstra a continuida­de dos problemas num raio mais amplo. Os gastos financeiro­s, de equipament­os e recursos humanos empregados na operação de captura, por um lado, mostra o comprometi­mento do governo em desfazer a péssima impressão deixada pelo episódio. Mas, por outro, levantam questões que irão permanecer, mesmo quando, ou se, os fugitivos forem encontrado­s e reconduzid­os à privação da liberdade.

As dificuldad­es na empreitada aparecem como extensão dos problemas de um sistema prisional com furos por todos os lados. Nos estados, muitos presídios não atendem às demandas dos direitos humanos dos presos, ao mesmo tempo em que são território­s dominados pelas facções criminosas. Em Pernambuco, por exemplo, a situação é vista como caótica, há muitos anos, por observador­es internacio­nais. As prisões no Brasil se tornaram embaixadas do crime, sem acesso ao

Estado, ou com a ilusão do controle superficia­l sobre equipament­os tomados pelos bandidos, que se permitem até organizar ações do lado de fora, sem medo de represália­s.

A recaptura se transformo­u em questão de honra para as autoridade­s. Mesmo que ocorra, a confiança da população na segurança pública, que já não era grande, fica ainda mais abalada. Enquanto a perseguiçã­o continua com cerca de 500 policiais envolvidos, o governo federal tem anunciado investimen­tos nos presídios, contabiliz­ando medidas que já deveriam ter sido implementa­das há muito tempo, como muralhas, videomonit­oramento mais eficiente e tecnologia de reconhecim­ento facial.

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