Fuga para o mar
Vivendo nesse mundo, é indicado vez por outra procurar o mar. Infelizmente, antes de chegar em Catuama é preciso passar por Abreu e Lima.
Roubaram um avião em Nova Ubiratã, 502 km ao norte de Cuiabá. O caseiro do hangar foi rendido e tranquilizado, informado de que era apenas um roubo normal. Ninguém sabe se o destino foi um desmanche de avião, a feira do troca-troca, o transporte de drogas ou se a quadrilha queria um rolê aéreo no fim de semana. A investigação não conta com imagens de câmeras de segurança nem com o radar de controle do tráfego aéreo, mas a polícia deve ser ágil, antes que pousem na pista de um presídio de segurança máxima para resgatar os colegas.
Alguém continuou subindo a ladeira furando foliões com uma agulha no carnaval de Olinda. Não deve ser divertido, não dá lucro e faz um mal danado. Legítimo espírito de porco, com todo respeito ao animal.
A facção criminosa disfarçada de torcida atacou novamente. Não é caso para o juizado do torcedor e sim para legislação contraterrorismo, mas já praticaram tantos atentados que são banalizados e esquecidos. Resta a esperança de que a voz de comando tenha determinado trabalho inteligente em silêncio, como deve ser com terroristas, até identificar e desmantelar as quadrilhas sem destruir o mundo ao redor.
A entrada e a saída do Recife continuam engarrafadas, atentando contra a paciência dos eleitores que se sentem entregues à falta de atenção, enquanto esperam o arco. No máximo coloca-se um sinal ou lombada para piorar e multar, sem nada para ordenar, desviar, sem um agente de trânsito sequer para se desculpar. Nada, há muito mais de uma década. O motorista, coitado, só conta com os ambulantes, alguns já com estrutura fixa, vendendo água e pipoca para acalmar as crianças. Outro dia, havia um vendedor de álbum de figurinhas, um empreendedor nato que percebeu a oportunidade com tempo suficiente para vender até completar o álbum.
Enquanto isso, parlamentares se mobilizam para transformar o congresso em um bunker contra os próprios malfeitos. Que exemplo! Querem ter conhecimento de todas as investigações em curso contra suas excelências, eliminando o sigilo e o flagrante. Pretendem inserir na constituição a interferência do poder legislativo sobre o judiciário e mais: que só seja possível realizar operação policial contra eles se houver autorização da mesa diretora. Pronto, um dia de trabalho só para julgar tantos casos. Poderão se unir em blocos, trocar uma proibição por um cargo, por uma emenda, se unir em facções inimputáveis e muito mais.
Certa ocasião, quando alguém reclamou do nível dos parlamentares, ouviu como resposta: “o mais bobo que está lá, é deputado federal”. Os fugitivos de Mossoró cavaram um buraco, ficando em um esconderijo subterrâneo para dormir. Assim escapavam do detector aéreo de calor humano que poderia localizá-los. O mais bobo ali, é chefe de quadrilha e continua vivo.
Vivendo nesse mundo, é indicado vez por outra procurar o mar. Infelizmente, antes de chegar em Catuama é preciso passar por Abreu e Lima. Para quem não gosta de pipoca, nem de álbum de figurinhas, existe a opção de aproveitar o tempo ouvindo Podcast com o último número de uma revista médica, do início ao fim, até abrir o sinal que engarrafa e descaracteriza o que deveria ser uma BR.
Lá existe rede, bons vizinhos e repelente contra o Aedes aegypti. Lá, é possível acompanhar a progressiva sofisticação do sabor de uma dose da cachaça Miriri amadurecendo nas barricas, ano após ano, até atingir mais do que a perfeição que a levará ao mercado. Lá chegam amigos também querendo ficar à deriva, sabendo que o barco de plantão para resgates, “Evidências”, estará a postos, mas costuma quebrar com a gasolina suja do Brasil, dando oportunidade de ficar no mar de águas calmas por mais tempo restaurando as energias, enquanto não chega tubarão.