Jornal do Commercio

Jogador denuncia ataque homofóbico no Recife, e CBV acionará Ministério Público

Anderson Melo registrou boletim de ocorrência após ataques homofóbico­s em arena na praia do Pina

- NELLY SANDRA

Avinda da etapa brasileira do Circuito Vôlei de Praia ao Recife foi marcada por um triste episódio de homofobia. Em postagem nas redes sociais, o jogador Anderson Melo relatou ter sofrido vários ataques homofóbico­s durante as partidas na capital pernambuca­na. Ele copilou alguns vídeos da transmissã­o da partida dele em que é possível ouvir vários xingamento­s. Anderson fez boletim de ocorrência.

Nos vídeos revelados por Anderson, é possível ouvir várias vezes na transmissã­o da partida o xingamento “bicha” sendo gritado. Em alguns casos, Anderson é chamado de mulher. O jogo não foi interrompi­do pela arbitragem. O fato ocorreu na última quinta-feira (14).

Anderson não relatou imediatame­nte o caso, mas depois, ouvindo relatos de amigos e vendo os vídeos da transmissã­o, resolveu se manifestar. Já no Rio de Janeiro, onde mora, publicou os vídeos, o texto e fez o boletim de ocorrência.

O caso gerou repercussã­o entre várias jogadoras de vôlei como Gabizinha e Fabi. A ministra Arielle Franco, do Ministério da Igualdade Racial, também repercutiu o caso.

Por meio das redes sociais, o prefeito João Campos repudiou os atos de homofobia e prestou solidaried­ade a Anderson.

“Preconceit­o é crime. Atitudes como as que ocorreram no Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, com o atleta Anderson Melo, devem ser sempre enfrentada­s e repudiadas”, afirmou o gestor.

O Banco do Brasil, que patrocina o torneio, afirmou em nota que tomará as medidas cabíveis para que o ato não fique impune.

“O Banco do Brasil patrocina o esporte por acreditar nele como espaço em que existe respeito e dignidade entre as pessoas. Qualquer ato que afronte esses princípios terá o repúdio do BB, que não compactua com as agressões homofóbica­s de um grupo de torcedores contra o atleta Anderson Melo, na 2ª Etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia em Recife”.

VEJA O RELATO DO JOGADOR

“Uma foto para ficar na minha história e em seguida alguns vídeos que falam por si.

Não sei se vão ler meu texto todo por não ser um atleta conhecido mundialmen­te, não sei se serei ouvido como gostaria, eu só sei que estou sem chão e pela primeira vez tiraram meu sorriso e as palavras, mas vou tentar.

Demorei a escrever porque eu precisava digerir o que aconteceu naquela quadra, no ambiente que mais amo estar sofri ataques homofóbico­s continuada­mente e pela primeira vez na vida não consegui reagir. Eu não estava acreditand­o no que estava acontecend­o e eu só lembrava da minha mãe, o quanto ela tinha medo de me ver sofrer por ser homossexua­l. E infelizmen­te ela não estava aqui para me proteger e nem ninguém. Me senti completame­nte acoado e sem entender porque as pessoas estavam fazendo aquilo. Um ambiente feito para as pessoas apreciarem os atletas, torcer para seus favoritos é claro, mas não necessaria­mente tentar diminuir, xingar, debochar ou tentar ridiculari­zar alguém.

Perdi o chão. Perdi a bola. Perdi o jogo. Mas não a minha força em estar aqui dividindo com vocês um crime explícito.

Fiz o boletim de ocorrência e ainda não sei quais serão os próximos passos.

Mas com certeza o primeiro pós delegacia é me recompor como atleta, como cidadão e me orgulhar do filho que minha mãe criou com tanto amor. Eu tenho muito orgulho de ser quem eu sou, do jeito que sou e assim como eu todos tem o direito de serem respeitado­s. Faço um apelo para que este assunto não fique em vão, faço um apelo para as autoridade­s locais, a CBV, aos meus fãs e amigos para que isso não se repita com mais ninguém.

Que Deus e minha mãezinha me abençoe para este pesadelo não durar mais tantas noites e tantos dias”.

CBV VAI ACIONAR MINISTÉRIO PÚBLICO

Por meio de nota, a Confederaç­ão Brasileiro de Vôlei repudiou completame­nte o caso e informou que vai acionar o Ministério Público para seguir adiante com a denúncia. Também foi feito um boletim de ocorrência.

“A Confederaç­ão Brasileira de Voleibol (CBV) lamenta e repudia veementeme­nte os ataques homofóbico­s ao atleta Anderson Melo, feitos na quinta-feira por pessoas que assistiam aos jogos da segunda etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, em Recife. A CBV apurou os fatos, reviu as imagens da partida, conversou com a arbitragem e reuniu todas as informaçõe­s necessária­s para, neste sábado, protocolar um boletim de ocorrência em uma delegacia de Recife. O caso também será encaminhad­o ao Ministério Público local e a CBV acompanhar­á todos os desdobrame­ntos. Desde sexta-feira, a mensagem abaixo é veiculada antes de cada partida da quadra central. “Atenção, torcedores! Racismo, homofobia e outros atos discrimina­tórios são crime, e não podem fazer parte dos eventos do voleibol brasileiro. Manifestaç­ões como as ocorridas nas quadras externas não podem se repetir. Esporte é diversidad­e, tolerância, respeito e inclusão! E respeito é um dos maiores valores que o esporte ensina! Vamos torcer com paixão! O voleibol por um mundo sem preconceit­o e discrimina­ção!”. A CBV lamenta que Anderson Melo tenha sofrido essa violência e está prestando todo o auxílio ao atleta. A CBV reforça que não admite qualquer tipo de preconceit­o, entende que o esporte é uma ferramenta para propagação de valores como respeito, tolerância e igualdade; e agirá sempre para coibir qualquer manifestaç­ão discrimina­tória em seus eventos”, diz nota.

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REPRODUÇÃO Anderson Melo denunciou ataque homofóbico através das redes sociais

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