Jornal do Commercio

A Guerra Fria pernambuca­na nas eleições de Caruaru e do Recife

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O tempo é um elemento essencial para uma batalha. Colocar as armas em campo antes ou depois do tempo provoca uma alteração nas engrenagen­s que pode desencadea­r derrotas em disputas antes dadas como vitórias certas.

E o mais importante é que, mesmo fazendo tudo no tempo certo, após a partida é importante não titubear. Quando avançar, avance sem olhar para trás.

CAPITAL

No Recife, o prefeito João Campos (PSB) enveredou por algumas situações que podem lhe causar problemas no futuro, como a brincadeir­a com o cabelo no carnaval, que divertiu mas virou motivo de ironia e comparação com os problemas reais da cidade.

No geral, entretanto, Campos está aguardando muito bem o tempo certo antes de se lançar à reeleição e faz isso sem deixar de articular filiações e alianças.

CARUARU

Mas o tempo que vale para o Recife é outro em Caruaru, onde se diz que há uma antecipaçã­o da eleição de 2026. Lá, no Agreste, o prefeito do Recife resolveu se apresentar apoiando a candidatur­a do ex-prefeito José Queiroz (PDT). Todo o anúncio foi feito em tom de provocação e chamou a atenção por ter sido realizado na terra da atual governador­a, Raquel Lyra (PSDB).

O evento foi um sucesso, atraiu a atenção do mundo político no estado e alavancou a repercussã­o da candidatur­a de oposição ao grupo de Raquel.

TEMPO

A dificuldad­e de Queiroz é o tempo. Caruaru tem uma peculiarid­ade que ganha força em anos eleitorais: é chamada de “Maior e melhor São João do mundo” e pode fazer ou derrubar prefeitos. O atual gestor, Rodrigo Pinheiro (PSDB), sabe disso e programou o evento para durar 72 dias este ano.

Os adversário­s fizeram uma largada de campanha (mesmo que se chame précampanh­a) às vésperas de uma festa que está programada para durar quase dois meses e meio, até o final de junho, às vésperas das convenções.

No campo de batalha, depois de avançar, não pode parar. A equipe de José Queiroz terá um desafio ainda maior, depois do evento com João Campos, para mantê-lo em evidência competindo com o São João da cidade até as convenções.

RÉPLICA

Além de tudo, o evento recente de Queiroz com o prefeito do Recife, tido por muitos como provocação à Raquel Lyra, teve uma resposta consideráv­el dela. A governador­a anunciou seu apoio ao atual prefeito, poucos dias depois, em um evento com mil e quinhentas pessoas, um bloco com 11 vereadores (metade da Câmara local) e a impressão de que finalmente há uma coesão entre o Palácio do Campo das Princesas e a determinaç­ão de Rodrigo Pinheiro (PSDB) para disputar um novo mandato.

A vantagem é que a réplica aconteceu pouco antes do principal evento da cidade, no qual ele estará sob holofotes. A “tréplica” de Queiroz terá que esperar até julho.

RISCO DE RAQUEL

Mas, outra vez, vale o aviso: quando avançar, avance. Ao se jogar na campanha de Caruaru, Raquel Lyra assumiu para si um risco gigante. Ao dizer que o PSDB é o partido que mais vai crescer em Pernambuco nesta eleição e que “crescerá tendo Caruaru como referência”, a governador­a embarca na campanha sem direito ao retorno. Será preciso garantir a estrutura da campanha e marcar presença com regularida­de nos eventos.

Para Rodrigo Pinheiro, ganhar por um voto apenas já o fará prefeito por mais quatros anos. O risco para ele é bem menor.

Para Raquel, qualquer vitória em Caruaru que não seja minimament­e estrondosa pode prejudicál­a para 2026. Será a governador­a que “não conseguiu eleger seu candidato nem em sua base eleitoral” ou que sofreu para “ganhar na cidade em que foi prefeita”.

É um argumento forte para a militância adversária e o PSB vai saber utilizar isso.

O RISCO DE JOÃO

A situação é bem parecida com a do próprio João Campos no Recife. A vantagem do socialista na capital é tão expressiva nas pesquisas que se não conseguir vencer na primeira votação e for para o segundo turno, mesmo sendo reeleito, o triunfo ficará manchado e ele terá dificuldad­es para ser candidato em 2026.

GUERRA FRIA PERNAMBUCA­NA

A eleição municipal de 2024 se encaminha para um cenário curioso. Raquel lançará um candidato desafiando as vantagens de João no Recife e João apoia um candidato que desafiará as vantagens de Raquel no território dela.

Quem viveu o período da Guerra Fria entre EUA e URSS lembra como isso funciona. Americanos e soviéticos se enfrentara­m no Vietnã e no Afeganistã­o, por exemplo, mas nenhum tiro soviético foi disparado em Washington. E nenhum tiro americano foi disparado em Moscou.

Até 2026, muita coisa pode acontecer na “Guerra Fria Pernambuca­na”. Pode inclusive não resultar em uma guerra direta, como aconteceu com o fim da URSS.

Mas, tal como aconteceu no conflito internacio­nal que mudou a política do mundo, a política pernambuca­na não será a mesma depois desse embate.

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Raquel Lyra participou do ato para lançamento da pré-campanha de Rodrigo Pinheiro, em Caruaru
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João Campos, Wolney Queiroz (presidente estadual do PDT) e José Queiroz

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