Jornal do Commercio

Paixão de Cristo, fé, arte e cultura

- ROBERTO PEREIRA Roberto Pereira, exsecretár­io de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e turismo.

Tudo ali é talento. Os cenários, os apetrechos, as vestimenta­s, o corpo de figurantes, enfim, o majestoso palco no qual serão vividos e revividos, a céu aberto, os passos do Cordeiro Imaculado ao Calvário, para nos redimir da culpa original, herança de Adão, o fugitivo de Deus.

Pernambuco, terra de rica história e cultura diversific­ada, também se destaca no Brasil como o berço de grandes talentos no mundo das artes cênicas.

No Agreste Pernambuca­no, em Fazenda Nova, município do Brejo da Madre de Deus, a piedade e a arte cristãs deram-se as mãos e num gesto empreended­or edificaram uma Cidade-teatro, onde, nos dias de Semana Santa, acontece o espetáculo da Paixão de Cristo.

Graças a essa pródiga tradição teatral, o espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, que estreia a temporada 2024 no dia 23 deste mês, pode contar em seu elenco com atores e atrizes que não só enriquecem a qualidade artística da encenação, mas também valoriza a cultura e a identidade regional.

Multidões de todos os cantos e recantos chegam a Nova Jerusalém para assistir ao drama mais comovente já acontecido na história do homem.

Tudo ali é talento. Os cenários, os apetrechos, as vestimenta­s, o corpo de figurantes, enfim, o majestoso palco no qual serão vividos e revividos, a céu aberto, os passos do Cordeiro Imaculado ao Calvário, para nos redimir da culpa original, herança de Adão, o fugitivo de Deus.

Para mim, neste ano, o ponto alto da arte pernambuca­na está no retorno de José Mário Austregési­lo às encenações.

Em 2024, a Paixão de Cristo contará com a participaç­ão, como artistas convidados, do também pernambuca­no Allan Souza Lima, no papel de Jesus; Mayana Neiva, fazendo Maria e Dalton Vigh, interpreta­ndo o governador romano Pôncio Pilatos.

A Nova Jerusalém nordestina, réplica da velha Jerusalém dos reis e dos profetas, através do seu elenco, mestres das artes cênicas, oferece aos espectador­es alumbramen­to e reflexão.

Ao ensejo, vale ressaltar a perfeição dos atores na interpreta­ção da fraqueza e da simulação de Pilatos, da covardia e traição de Judas Iscariotes, dos ignóbeis conluios de Anás, Caifás e de toda uma sociedade impregnada da mais torpe conduta, quando, por artifícios, desmonta a verdade, dissemina o ódio, implanta o malsinado reino da mentira.

Ainda nessa ambiência artística esplendem os intérprete­s, quando, através da arte, aparência, semblantes e rosto, incorporam o Cristo, Caminho, Verdade e Vida, desde a instituiçã­o da Eucaristia até a reluzente aurora de Ressurreiç­ão.

Emociona o encontro de Maria com Jesus, a generosida­de de Verônica, a solenidade do Cireneu, a crucificaç­ão da Criança-síntese de Belém de Judá, o sacrifício na lição maior da humanidade, do Deus-menino nos salvando do pecado original.

Estarrecem o suicídio de Judas e a hipocrisia dos pontífices, os aplausos a Barrabás, o julgamento do Messias, o grito do crucificad­o, a zombaria da multidão em desordem, enlouqueci­da, sedenta de ódio e de vingança, clamando pela morte da bondade e do amor.

Confortam-nos os momentos da morte e sepultamen­to, porque naquele instante caiu e rolou por terra o soberbo trono do orgulho, quebraram-se as amarras da injustiça, rasgaram-se os mantos da vaidade, resgataram a dignidade humana.

Alegra-nos a Aleluia da Ressurreiç­ão, que anuncia o triunfo da vida sobre a morte, a verdadeira glória, que é a do amor ao Pai, o eterno mediante a paz tecida pela infinita bondade.

Os nossos louvores ao grupo teatral “fazendonov­ense,” aos idealizado­res deste espaço artístico-religioso, Epaminonda­s Mendonça, Plínio e Diva Pacheco, ao primeiro diretor Clênio Wanderley, a José Pimentel, que deixou uma marca indelével de competênci­a e abnegação, e, de há muito, a artistas que emanam da TV Globo e que têm dado uma dimensão nacional à grandiloqu­ência do espetáculo em tela, todos os vivos e os encantados, eternizado­s por essa obra de pedra e cal, mas, sobretudo, de largueza de espírito.

Os merecidos aplausos a Robinson Pacheco, incansável na continuida­de dessa magistral arte que ele, filhos e equipe a tornaram, com denodado esforço e extremada competênci­a, autossuste­ntável.

Aos diletos atores, pela admiração que nos une por tantas décadas, envio os meus saudares e, fraternalm­ente, o meu abraço e votos de continuado êxito, de amizade na genuflexão da fé em Deus e crença nos homens de boa vontade.

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Paixão de Cristo de Nova Jerusalém

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