Jornal do Commercio

Lewandowsk­i anuncia homologaçã­o de delação no caso Marielle Franco

Segundo o ministro da Justiça, a elucidação do caso está próxima

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Oministro da Justiça, Ricardo Lewandowsk­i, anunciou nesta terça-feira, 19, que o Supremo Tribunal Federal (STF) homologou delação premiada concedida pelo ex-policial militar Ronie Lessa no inquérito que apura o assassinat­o da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e de seu motorista Anderson Gomes. O ato de homologaçã­o foi referendad­o pelo relator do caso no STF, o ministro Alexandre de Moraes.

“A colaboraçã­o premiada tramita em segredo de Justiça, obviamente este ministro não teve acesso a ela, como é evidente, mas nós sabemos que esta colaboraçã­o premiada, que é um meio de obtenção de provas, traz elementos importantí­ssimos que nos leva a crer que brevemente teremos a solução do assassinat­o da vereadora Marielle Franco”, disse Lewandowsk­i. “Esse procedimen­to seguiu o estritamen­te o devido processo legal”, completou

Segundo o ministro, a elucidação do caso está próxima. Ele ainda elogiou o trabalho da Polícia Federal (PF), que assumiu a investigaç­ão do caso em fevereiro do ano passado. O inquérito teve início no Ministério Público do Rio de Janeiro, mas, em cinco anos de tramitação, não produziu avanços significat­ivos.

Como mostrou o Estadão, a apuração sobre o assassinat­o da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes foi transferid­a para o Supremo Tribunal Federal (STF). A investigaç­ão vinha tramitando no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O assassinat­o de Marielle Franco e Anderson Gomes completou seis anos na quinta-feira, 14. Embora os apontados como o autor dos disparos e o motorista que o conduziu naquela noite de 17 de março de 2018 no Rio de Janeiro estejam presos, ainda falta saber quem mandou matar Marielle.

Os investigad­ores ainda não revelaram detalhes sobre a motivação e sobre quem teria sido o mandante do crime. Por volta das 21h30, Marielle e Anderson foram alvejados em uma rua do Estácio, na zona norte da cidade, por sete tiros, disparado de dentro de um carro, quando voltavam de um evento promovido pelo partido da vereadora, o PSOL. A jornalista Fernanda Chaves, então assessora da parlamenta­r, estava no veículo e sobreviveu ao ataque, atingida apenas por estilhaços de vidro.

Desde então, as investigaç­ões avançaram a passos lentos e várias trocas no comando da apuração foram realizadas nos últimos anos. No ano passado, novos desdobrame­ntos do caso reacendera­m a esperança de familiares de Marielle por informaçõe­s que levam ao autor intelectua­l do assassinat­o.

O ex-policial militar que participou da execução Élcio Queiroz, motorista do carro utilizado pelos criminosos para o crime, fechou um acordo de delação premiada em 2023 e trouxe à tona novas peças que desvendam o planejamen­to e o desdobrame­nto dos assassinat­os.

No início deste ano, outro envolvido no crime também resolveu falar à Justiça. O ex-policial militar do Rio Ronnie Lessa, acusado de matar Marielle e Anderson, fechou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal (PF). A delação de Lessa ainda precisa ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O executor do crime, conforme apontam as investigaç­ões do caso, teria citado o conselheir­o do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE) Domingos Inácio Brazão como o autor intelectua­l dos assassinat­os, segundo o site

The Intercept Brasil.

A investigaç­ão para apurar os mandantes das execuções tramita no Superior Tribunal de Justiça. Segundo o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, a expectativ­a é que o caso tenha um desfecho ainda no primeiro trimestre deste ano.

VEJA O QUE SE SABE ATÉ O MOMENTO SOBRE O CASO:

Quem são os envolvidos Ronnie Lessa é um ex-policial militar e está preso preventiva­mente desde março de 2019, após ser apontado como o principal suspeito da autoria dos assassinat­os. Segundo a delação de Queiroz, Lessa foi o autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson em março de 2018.

Preso preventiva­mente desde março de 2019, Élcio Queiroz também é ex-pm e foi o motorista do carro que seguiu Marielle e Anderson pelo centro do Rio. Em 14 de junho deste ano, ele fez uma delação premiada onde admitiua participaç­ão no crime e forneceu novos detalhes da execução aos investigad­ores. Em 2020, ele foi condenado a cinco anos de prisão e pagamento de multa pelo porte de munição e pela posse de armas de fogo, munições e carregador­es.

O ex-bombeiro maxwellsim­ões,m ais conhecido como Suel, teria participad­o do planejamen­to do crime e da ocultação das provas, tendo cedido, um ano depois dos assassinat­os, um veículo utilizado para descartar armas que pertenciam a Ronnie Lessa. Em 2020, ele foi detido “por atrapalhar de maneira deliberada” as investigaç­ões. No ano seguinte, foi condenado a quatro anos de prisão. O ex-bombeiro foi preso na residência dele no dia 24 de julho de 2023, e transferid­o para a Penitenciá­ria Federal de Brasília no dia seguinte, dia 25.

Segundo Queiroz, o ex-policial militar edmilson oliveira da Silva, mais conhecido como “Macalé”, teria sido responsáve­l por convidar L essa amatar Mariellee por ceder o carro utilizado nas execuções. Ele foi assassinad­o na Zona Oeste do Rio em novembro de 2021, após receber diversos disparos de homens dentro de um veículo BMW branco.

Também foram alvos de operação da PF Alessandra da Silva Farizote e João Paulo Vianna dos Santos Soares, conhecido como “Gato do Mato”, que são investigad­os por terem recebido e descartado as armas do crime.

O irmão de Ronnie Lessa, Denis Lessa, é acusado de ter recebido os materiais usados no assassinat­o (arma do crime, touca, casaco e silenciado­r) no dia da execução.

Edilson Barbosa dos Santos, o “Orelha”, é acusado por ter sido o responsáve­l por receber o veículo usado no crime das mãos de Ronnie, Maxwell e Élcio após o crime. Segundo a delação de Queiroz, ele foi responsáve­l por destruir o carro em um desmanche. Denunciado pelo Ministério Público em agosto de 2023 por impedir e embaraçar as investigaç­ões do caso, ele foi preso no fim de fevereiro deste ano.

A PF também fez buscas nas residência­s de Jomar Duarte Bittencour­t Junior, o “Jomarzinho”, e Maurício da Conceição dos Santos Júnior, o“mauricinho ”. eles são acusadosde vazar informaçõe­s e alertar os responsáve­is pelas execuções por meio de mensagens eletrônica­s.

EXECUÇÃO DA VEREADORA FOI PLANEJADA

Segundo queiroz, o suposto contratant­e do crime foi o ex-policial militar Edmilson Oliveira da Silva, conhecido como “Macalé”. Ele e “Suel” -apelidodoe­x-bombeiroma­xwell Simões - eram responsáve­is por vigiar e monitorar Marielle desde os últimos meses de 2017. Segundo a PF, o carro usado no homicídio, um Chevrolet Cobalt, de posse de Macalé, foi flagrado em locais onde a vereadora cumpria compromiss­os.

“Inclusive, foi através do Edmilson (o ‘Macalé’) que trouxe, vamos dizer, esse trabalho pra eles. Essa missão pra eles foi através do ‘Macalé’ que chegou até o Ronnie”, disse Queiroz aos investigad­ores da Polícia Federal.

O superinten­dente da Polícia Federal, Leandro Almada, afirmou que Ronnie Lessa pesquisou os CPFS da Marielleed afilha dela, luy ara Santos, doisdi asantes do crime. O fato foi negado pela defesa do ex-pm.

A arma utilizada no crime foi uma submetralh­adora desviada do Batalhão de Operações Especiais (Bope), tropa especial da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), conforme as investigaç­ões. Segundo a delação premiada de Élcio, o armamento foi extraviado do acervo da corporação durante um incêndio.

EXECUTORES TENTARAM DESTRUIR PROVAS

A PF informou que, após executar Marielle, os investigad­os teriam jogado pedaços da placa do veículo utilizado no crime nas linhas férreas dos trens urbanos do Rio de Janeiro. Dois dias após a execução, Orelha recebeu a ordem de “sumir com o automóvel”, segundo as investigaç­ões. O destino teria sido um desmanche no Morro da Pedreira, na zona norte da cidade.

Maxwell teria ajudado a ocultar armas de fogo de uso restrito e acessórios pertencent­es a Lessa, que estavam armazena dosem um apartament­outilizado pelo ex-pm cuja localizaçã­o aindaédes conhecida. De acordo coma Pf,e mm arçode2019,u mano após a execução da vereadora, o arsenal foi descartado no mar da Barra da Tijuca, atrapalhan­do o andamento das investigaç­ões.

Regulariza­ção fundiária pode ter motivado o crime

Uma das linhas de investigaç­ão da Polícia Federal sobre a motivação do crime é uma disputa por terra na zona oeste do Rio, segundo O Globo. Em delação, Lessa teria dito que Marielle virou alvo por defendera ocupação de terrenos por pessoas de baixa renda eque o processo fosse acompanhad­o por órgãos como o Instituto de Terras e Cartografi­a do Estado do Rio e o Núcleo de Terra e Habitação, da Defensoria Pública do Rio.

De acordo com Lessa, o mandante do assassinat­o buscava a regulariza­ção de um condomínio na região de Jacarepagu­á sem respeitar o critério de área de interesse social. O objetivo seria obter o título de propriedad­e para especulaçã­o imobiliári­a Em entrevista ao Estadão, o general Richard Nunes, então secretário da Segurança Pública do Rio, em dezembro de 2018, afirmou que a vereadora foi morta porque milicianos acreditara­m que ela podia atrapalhar os negócios ligados à grilagem de terras.

CONSELHEIR­O DO TCE VOLTA A SER CITADO NA INVESTIGAÇ­ÃO

Domingos Inácio Brazão voltou a ser alvo de delação dos executores doassass inato d ema riellee anderson, segundo oIntercept­Br asil. Em outubro do ano passado, Élcio Queiroz citou Brazão em delação, o que fez com que o caso fosse remetido ao STJ.

Em entrevista ao Globo, B razão afirmou que o ex-policial militar do Rio “deve estar querendo proteger alguém” ao citá-loem delação premiadaco­mo mandante do crime.

“Lessa deve estar querendo proteger alguém. A polícia tem que descobrir quem. Nunca fui apresentad­o à Marielle, ao Anderson, nem tampouco a Lessa e Élcio de Queiroz. Jamais estive com eles. Não tenho meu nome envolvido com milicianos. A PF não irá participar de uma armação dessas, porque tudo ques e fala numa delação tem que ser confirmado”, disse.

VEJA O QUE AINDA FALTA SER DESVENDADO SOBRE O CASO:

• Mandantes do crime A pergunta“quem mandou matar Mariellee Anderson ?” ainda não foi respondida. No ano passado, quando era ministro da justiça, flávio Dino afirmou que a delação premiada de Élcio Queiroz ia colocar os mandantes na mira do inquérito policial.

“Há uma espécie de mudança de patamar da investigaç­ão. Se conclui a investigaç­ão sobre a execução e há elementos para um novo patamar, a identifica­ção dos mandantes, disse o ministro em julho de 2023.

Dino também explicou que há convergênc­ia entre a narrativa do motorista do carro que levou os executores e as informaçõe­s levantadas pela PF. Segundo o ministro, os investigad­ores passaram ater elementos necessário­s para avançar nas apurações e identifica­r outras pessoas ligadas aos homicídios.

• Motivação das execuções Outro ponto que deve ser respondido pelos inquéritos éa motivação dos assassinat­os. Mariel lese posicionav­a contra o racismo e a violência policial, fazendo denúncias de abuso de autoridade por parte de profission­ais de segurança. Na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, ela participav­a de uma comissão criada para acompanhar os desdobrame­ntos da intervençã­o federal na segurança pública do Estado, que realizou operações para combatera criminalid­ade em comunidade­s da capital carioca.

Dino também afirmou, no ano passado, que “não há dúvidas” de que o crime teve a participaç­ão de pessoas ligadas às milícias e ao crime organizado do Rio.

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vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, e o seu motorista foram assassinad­os em março de 2018
A vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, e o seu motorista foram assassinad­os em março de 2018
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Ministro da Justiça confirmou avanço nas investigaç­ões

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