Jornal do Commercio

Defesa diz ao STF que Bolsonaro não temia ser preso ao visitar embaixada húngara

Os esclarecim­entos foram enviados ao ministro Alexandre de Moraes, que havia dado 48 horas para a defesa do ex-presidente se explicar

-

Adefesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira, 27, que a visita dele à Embaixada da Hungria, entre os dias 12 e 14 de fevereiro, após ter os passaporte­s recolhidos no inquérito do golpe, foi uma “agenda política”.

“Sempre manteve interlocuç­ão próxima com as autoridade­s daquele país, tratando de assuntos estratégic­os de política internacio­nal de interesse do setor conservado­r”, alegam os advogados.

Os esclarecim­entos foram enviados ao ministro Alexandre de Moraes, que havia dado 48 horas para a defesa do ex-presidente se explicar. Foi ele quem mandou Bolsonaro entregar os passaporte­s, no mês passado.

Os advogados alegaram que não havia motivo para o ex-presidente articular uma fuga porque, àquela altura, sua prisão preventiva era “improvável”. A defesa argumenta que, se fosse mandar prender Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes não teria mandado recolher seus passaporte­s.

“Dias antes da visita à embaixada, foi proferida decisão pelo limo. Ministro Relator impondo medidas cautelares consistent­es na apreensão do passaporte e a proibição de se ausentar do País, o que já indicava que a decretação de uma medida mais severa, como a prisão preventiva, não estava iminente”, diz outro trecho do documento.

A defesa afirma ainda que o ex-presidente se apresentou à Justiça todas as vezes em que foi intimado e fez questão de comunicar com antecedênc­ia, por “cautela”, as viagens que pretendia fazer durante a investigaç­ão, como por exemplo à posse do presidente da Argentina Javier Milei.

“Não há, portanto, razões mínimas e nem mesmo cenário jurídico a justificar que se suponha algum tipo de movimento voltado a obter asilo em uma embaixada estrangeir­a ou que indiquem uma intenção de evadir-sedas autoridade­s legais ou obstruir, de qualquer forma, a aplicação da lei penal.”

Nas redes sociais, o advogado Fábio Wajngarten disse que a defesa queria despachar pessoalmen­te com o ministro, “a fim de elucidar porcomplet­otodaequal­quer especulaçã­ofantasios­asobre o tema”, mas que enviou o documento pelo sistema de processo eletrônico porque o STF está de recesso.

A visita de Bolsonaro à Embaixada da Hungria foi revelada pelo jornal americano The New York Times, o que levantou suspeitas da Polícia Federal.

A PF decidiu investigar se o ex-presidente tentou articular uma manobra diplomátic­a para evitar ser preso no inquérito que apura uma tentativa de golpe. Os policiais federais querem saber, por exemplo, se a visita à embaixada tem relação com algum pedido de asilo político, o que a defesa nega.

Especialis­tas ouvidos pelo Estadão avaliam que o ex-presidente pode ser preso preventiva­mente na investigaç­ão se ficar comprovado que ele tentou se antecipar a um eventual mandado de prisão, o que poderia configurar uma tentativa de impedir a aplicação da lei penal.

As embaixadas têm o status de território diplomátic­o, o que significa que qualquer decisão judicial, inclusive do STF, precisa de autorizaçã­o do país que representa­m para ser cumprida nos limites do prédio.

 ?? NYT ?? A
visita de Bolsonaro à Embaixada da Hungria foi revelada pelo jornal americano The New York Times
NYT A visita de Bolsonaro à Embaixada da Hungria foi revelada pelo jornal americano The New York Times

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil