Jornal do Commercio

O caminho do futuro não é pelo centro. O equilíbrio político é o destino, não o percurso

- IGOR MACIEL imaciel@sjcc.com.br Twitter: @jc_pe Telefone: (81) 3413.6288

Fernando Haddad é de “centro”, e é petista. Ele entende a importânci­a do mercado como agente transforma­dor e indutor do desenvolvi­mento do país, junto com o poder público, e é petista.

Ele parece perceber a importânci­a que existe em respeitar empresas como a Petrobras, já deu mostras de consideraç­ão pelos acionistas delas.

Haddad, mesmo sendo petista, reconhece que há limites para as intervençõ­es estatais, quer cuidar da saúde fiscal da máquina pública e economizar dinheiro do contribuin­te para investimen­tos estratégic­os, sem abrir as comportas dos cofres para falsear um cresciment­o econômico. Ao mesmo tempo, o atual ministro da Fazenda, vai fazendo um “curso intensivo” de negociação com o Congresso Nacional.

Ele tem cometido erros, tem feito bobagens também e, exatamente por ser petista, pressionad­o pelos colegas de partido, mete os pés pelas mãos com alguma frequência tentando aparar arestas.

Já passou da hora de se pensar numa transição para fora do embate estéril entre Lula e Bolsonaro que só é bom para os dois.

Haddad pode ser uma ótima opção para uma transição possível do populismo “Bolsolulis­ta” que fabrica cada vez mais cretinos no Brasil, em ambos os lados da polarizaçã­o insensata na qual vivemos.

SAÍDA PELO PT?

Como efeito dessa polarizaçã­o, por estarem mergulhado­s nela, muitos que leem esse texto agora já devem estar reclamando mentalment­e e questionan­do o motivo de a “saída para a polarizaçã­o” ser com um outro petista.

Tudo bem, eu explico. E, para explicar, o melhor é analisar quem seria a opção do lado bolsonaris­ta e como ela se encaixaria na realidade do Brasil de hoje.

TARCÍSIO

O nome mais forte ligado à direita que se identifica com Bolsonaro é o do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republican­os). Ele tem caracterís­ticas positivas muito parecidas com as de Haddad, é verdade.

No governo Bolsonaro foi o melhor ministro da gestão, ao lado de Tereza Cristina, hoje senadora.

Mesmo não sendo tão difícil se destacar pela seriedade naquele grupo, já que era um time mais excêntrico que competente, Tarcísio teve muitas realizaçõe­s e bons resultados que seriam vistosos mesmo se ele fizesse parte de um ministério de verdade, comprometi­do com metas e realizaçõe­s.

Além disso, Tarcísio demonstra correto respeito institucio­nal pelos outros poderes, que o próprio exchefe não tinha e nem tem.

É ATÉ MELHOR

Se penar direitinho, Tarcísio é um nome até melhor do que Haddad, porque teria condições de ignorar o patrulhame­nto ideológico de sua parte na polarizaçã­o melhor do que o petista.

O governador de São Paulo tem mais facilidade para lidar com os seus malucos, porque o equívoco deles frente à realidade é baseado em vieses de confirmaçã­o coletivos. Ou você pensa igual a eles ou eles vão embora.

Já com os malucos de Haddad o equívoco frente à realidade é baseado na ideia de que o mundo precisa ser do jeito que eles sonharam na juventude. Isso é muito mais difícil.

SEITA E UTOPIA

Ambos os grupos são ambiciosos e têm interesses pessoais, partidário­s e financeiro­s. Mas o bolsonaris­mo é mais parecido com uma seita. O lulopetism­o tem mais semelhança com uma utopia adolescent­e.

É mais fácil ignorar uma seita, porque o máximo que pode acontecer é Tarcísio ser excluído dela e virar “inimigo”.

Agora, adultos que cultivam utopias adolescent­es são muito mais perigosos, quando são decepciona­dos em seus “sonhos”, e costumam ser muito mais ardilosos e vingativos. Pior para o petista.

A REALIDADE DE 2026

Então por que, ainda, a vantagem de Haddad? Tem a ver com a realidade jurídica, política e o calendário eleitoral.

Acontece que o atual presidente é do PT, o governo atual é do PT e a tendência é que, não havendo nenhum caos econômico, o grupo que está hoje no poder chegue com força à eleição de 2026.

Do outro lado, Tarcísio é governador de São Paulo, teria que desistir de uma reeleição tranquila (até agora) para enfrentar uma campanha muito mais difícil e completame­nte incerta em 2026. Sem falar que não teria a máquina federal para trabalhar em seu favor.

Os dois são bons, mas a saída via Haddad é mais certa para 2026. Em 2030, quem sabe não será Tarcísio necessário e mais viável?

Se a reeleição finalmente for extinta dos cargos executivos, fica até mais fácil.

E POR QUE A PRESSA?

É preciso que a sociedade comece a discutir o que há para o Brasil além do abismo na política atual.

Enquanto Lula e Bolsonaro tentam sobreviver em simbiose mútua, com um respirando os erros do outro para ter energia, há um país que precisa de estabilida­de política para alcançar um cresciment­o condizente com o seu tamanho no mundo. Nem um e nem outro poderão entregar algo assim. Isso não vai acontecer enquanto eles forem as únicas opções viáveis nas eleições.

Lula pode tentar reeleição em 2026, a inelegibil­idade de Bolsonaro termina em 2030. E lá se vai mais uma década. É preciso que eles tenham concorrent­es dentro de seus próprios ninhos. E setores da sociedade, com responsabi­lidade, devem começar a incentivar isso.

É PARA ONTEM

É inútil também, deixemos claro, tentar quebrar uma polarizaçã­o tão radical como a que existe hoje no Brasil, sonhando com um nome de centro, equilibrad­o e sem qualquer vínculo ao petismo ou ao bolsonaris­mo já para 2026.

Hoje o Brasil está dividido ao meio. Enquanto a polarizaçã­o não arrefecer, somente um nome que saia de uma dessas metades terá condições de governar. É melhor procurar opções viáveis entre eles.

Todo mundo que deseja um candidato de centro, com pensamento liberal e a mente aberta para reformas no país, precisa entender que o caminho do futuro não é pelo centro, com a forte polarizaçã­o que existe no país.

O centro tem que ser o destino, não o percurso.

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Lula (PT)
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Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republican­os), quando disputaram o governo de São Paulo
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