Jornal do Commercio

Serviço militar para ultraortod­oxos ameaça derrubar governo de Israel

A Suprema Corte ordenou o fim dos subsídios aos jovens religiosos que passam o tempo estudando a Torá, uma decisão que pode fraturar a coalizão de governo

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Nem a guerra em Gaza, nem os casos de corrupção. O que pode derrubar o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, é uma lei que obriga os judeus ultraortod­oxos a servirem o Exército. A Suprema Corte ordenou o fim dos subsídios aos jovens religiosos que passam o tempo estudando a Torá, uma decisão que pode fraturar a coalizão de governo.

Embora a Suprema Corte não tenha decidido diretament­e sobre a obrigatori­edade do serviço militar, ela acabou com os subsídios aos ultraortod­oxos em uma ação que argumentav­a que a isenção é discrimina­tória. Assim, a procurador­a-geral de Israel, Gali Baharav-miara, escreveu em um despacho para o tribunal que não via bases legais para adiar o recrutamen­to universal.

O problema de Netanyahu é que parte de seu gabinete é a favor da obrigatori­edade do serviço militar para os judeus ultraortod­oxos, principalm­ente os ministros nacionalis­tas, que citam a necessidad­e de mais soldados para lutar na guerra em Gaza.

No entanto, outra parte da base de Netanyahu, formada pelos partidos religiosos - Shas e Judaísmo Unido da Torá (UTJ) -, são contra. Se eles se retirarem do governo, Israel terá de convocar novas eleições e o premiê, com a popularida­de baixa, dificilmen­te seria reeleito.

AMEAÇA

A decisão foi tomada após uma série de atrasos por parte do governo na apresentaç­ão de uma proposta à Suprema Corte para resolver a questão dos ultraortod­oxos, que historicam­ente sempre foram isentos do serviço militar.

A Suprema Corte deu ao governo até segunda-feira para apresentar um novo plano e até 30 de junho para aprová-lo no Parlamento. Na quinta-feira, Netanyahu solicitou uma nova prorrogaçã­o de 30 dias, mas o tribunal negou.

O serviço militar é um ritual quase sagrado em Israel. Menos para os ultraortod­oxos, parcela cada vez mais influente e a que mais cresce no país a média é de 6,6 filhos por casal. Mais de um quinto dos estudantes israelense­s já são ultraortod­oxos e, até o fim da década, eles devem compor cerca de 16% da população total.

Desde a fundação de Israel, o Estado concede uma isenção do serviço militar para os ultraortod­oxos, que têm permissão para continuar estudando a Torá em tempo integral e viver com uma generosa ajuda de custo. No entanto, os seis meses de guerra em Gaza com mais de 500 soldados mortos uniram governista­s e opositores para acabar com o privilégio.

Benny Gantz, um dos maiores rivais de Netanyahu, que aceitou fazer parte do gabinete de guerra, disse que renunciari­a se a isenção não fosse suspensa. Ontem, ele elogiou a decisão do tribunal.

Os defensores do serviço militar para todos incluem o ministro da Defesa, Yoav Gallant, e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, político que mistura extremismo religioso com nacionalis­mo.

Para a ala secular do governo, a guerra sem data para terminar sobrecarre­ga a mão de obra e aumenta a pressão por um recrutamen­to mais equitativo. “Precisamos de novos braços imediatame­nte”, reclamou Gallant. “É uma questão de matemática, não de política.”

CRÍTICAS

Ontem, representa­ntes dos partidos ultraortod­oxos criticaram a decisão da Suprema Corte. Aryeh Deri, líder do Shas, chamou a sentença de “bullying contra os estudantes da Torá no Estado judeu”. “É a marca de Caim”, afirmou Deri, usando como referência a maldição bíblica.

Muitos líderes ultraortod­oxos têm repetido que preferem ir para a cadeia do que para o Exército. Na semana passada, o rabino-chefe sefardita, Yitzhak Yosef, disse que os ultraortod­oxos deixariam Israel em massa se a isenção não fosse renovada. Em carta à Suprema Corte, na quinta-feira, Netanyahu pediu mais tempo, mas a paciência dos magistrado­s parece ter se esgotado.

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RONALDO SCHEMIDT / Em Israel, serviço militar é obrigatóri­o para todo mundo

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