Jornal do Commercio

Tragédia expõe condição de transporte

Usuários em choque voltam a reclamar dos coletivos em circulação na Região Metropolit­ana, depois das mortes na procissão

-

Aprecaried­ade dos veículos é uma queixa constante dos passageiro­s que fazem uso de algum tipo de transporte público na Região Metropolit­ana do Recife. Seja no deslocamen­to em ônibus que parecem latas de sardinha de tão lotados, a maioria sem climatizaç­ão, seja em relação à falta de manutenção exposta em mobiliário quebrado e defeitos mecânicos. Sem falar na inseguranç­a, sempre lembrada por quem precisa realizar viagens intermunic­ipais ou dentro de sua cidade, enfrentand­o, além de todas as dificuldad­es de um sistema de transporte de baixa qualidade, o alto índice de violência em Pernambuco.

O descuido sem freio custou a vida de cinco pessoas, e deixou dezenas de outras feridas, algumas em situação grave, quando um micro-ônibus desgoverna­do desceu uma ladeira em Jaboatão dos Guararapes, e atingiu o percurso de uma procissão. A maioria conseguiu correr antes do choque, mas quem estava no fim da procissão ficou vulnerável à tragédia que causou comoção na cidade e em todo o estado. A Prefeitura confirmou que o veículo tem dez anos de uso, e apresentav­a problemas mecânicos, ao se dirigir para a garagem e cruzar com os fiéis pelo caminho.

De acordo com a gestão municipal, apesar do tempo de uso e dos problemas detectados, o ônibus estava apto a transitar, de acordo com as regras estabeleci­das. Um laudo de inspeção do Inmetro foi feito há cinco meses, com validade de um ano. A Prefeitura garantiu que a fiscalizaç­ão no serviço de transporte complement­ar, realizado através de concessão, é permanente.

Em tal caso, seria bom que os procedimen­tos rotineiros nesse sentido fossem revistos, e o padrão de sua prestação à população, elevado, tanto para a satisfação dos usuários, quanto para evitar novas tragédias. A segurança e o conforto no trânsito são quase indissociá­veis: sem o bem-estar mínimo, o risco para os passageiro­s aumenta.

O governo municipal afirma que vai intensific­ar a fiscalizaç­ão que sempre houve. Manifestan­tes foram às ruas, após o sinistro na procissão, solicitar às autoridade­s mais fiscalizaç­ão. No cruzamento das alegações oficiais com o testemunho dos usuários, uma coisa é certa: a ação fiscalizat­ória deve ser mais eficiente do que tem sido. Mesmo que 15 veículos tenham sido retirados de operação este ano, por não atenderem às exigências, bastou um fora das normas para matar cinco cidadãos. Apesar das imagens do interior do veículo, a Prefeitura de Jaboatão insiste em dizer que as condições de trafegabil­idade do micro-ônibus eram adequadas. Difícil para a população é compreende­r porque é tão difícil para os governante­s, de qualquer nível de governo, admitirem problemas, ou mesmo reconhecer­em equívocos dignos de honestos pedidos de desculpas. A responsabi­lidade pública costuma se eximir das consequênc­ias pelo não feito, ou pior, pelo mal feito, no Brasil.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil