Jornal do Commercio

Ministro diz que Enel pode perder concessão em São Paulo

Segundo Silveira, a companhia de origem italiana terá direito ao contraditó­rio, mas disse acreditar que a Enel “terá poucas condições de defesa”

- Estadão Conteúdo

Oministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse nesta segunda-feira (1º) que está determinan­do à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) um processo disciplina­r contra a distribuid­ora paulista Enel São Paulo, para analisar as transgress­ões reiteradas realizadas pela concession­ária na prestação de serviço de fornecimen­to da concession­ária à população. Ele salientou que esse processo pode levar a processo de caducidade (perda) da concessão - o que poderia resultar numa nova licitação ou até na reestatiza­ção do serviço.

“A Enel demonstra de forma reiterada que está desprepara­da para prestar o serviço à altura do que a população brasileira exige”, disse o ministro, em entrevista à Globonews.

DEFESA DA ENEL

Segundo Silveira, a companhia de origem italiana terá direito ao contraditó­rio, mas disse acreditar que a Enel “terá poucas condições de defesa desse processo, até porque foram dadas todas as oportunida­des à Enel para que melhorasse a qualidade de serviço”.

Ele citou que já foram aplicadas mais de R$ 300 milhões em multas à concession­ária e que nenhuma delas foi paga até o momento. “A Enel tem reiteradam­ente prestado serviço de qualidade muito aquém daquilo que determina inclusive a regulação”, disse.

DISCUSSÃO EM MINAS ENERGIA

De acordo com o ministro, a medida - que classifico­u como “extremamen­te dolorosa e singular” - foi discutida com a área técnica e jurídica do MME.

A Aneel terá 20 dias para responder ao MME sobre a abertura do processo. O ministro reforçou que “nos próximos meses a empresa estará sob um processo de caducidade”.

“Estamos tomando uma medida extremamen­te radical, importante, educativa para todas as distribuid­oras, nós não transigire­mos na qualidade do serviço de distribuiç­ão no Brasil e faremos com que a Enel em especial possa dar uma resposta a todos os paulistano­s”, disse Silveira.

O ministro afirmou que, a partir da potencial caducidade da concessão da Enel São Paulo, o MME poderia trabalhar em uma nova licitação ou até na reestatiza­ção do serviço de distribuiç­ão de energia em São Paulo.

Nos últimos meses, a empresa apresentou dificuldad­es para a solução de apagões na cidade de São Paulo, deixando boa parte da população às escuras por muitos dias.

Os mais recentes problemas ocorreram na região central da capital paulista no mês de março. Foram pelo menos quatro apagões consecutiv­os, que atingiram diversos bairros entre os dias 18 e 21, fechando lojas e restaurant­es e provocando grandes perdas.

Para minimizar o problema, a Enel espalhou geradores pela região, mas que não eram suficiente­s para toda a demanda.

RENOVAÇÃO DAS CONCESSÕES

Silveira afirmou também que pretende aproveitar o momento de renovação das concessões de distribuiç­ão para corrigir os contratos de concessão com as distribuid­oras, que o ministro considera como “muito frouxos”, por dar liberdade para uma qualidade de prestação de serviço abaixo daquilo que a população brasileira exige.

Para Silveira, o setor elétrico brasileiro foi privatizad­o de forma equivocada e quer buscar taxas mais exigentes de qualidade de serviço em duração e frequência das interrupçõ­es no fornecimen­to, conhecidos como DEC e FEC, respectiva­mente.

Ele citou que o decreto sobre o tema está sendo elaborado de forma minuciosa, e deve incluir questões como uma linha direta entre prefeitos e concession­ária e investimen­tos em mais em qualificaç­ão.

O ministro disse também, na entrevista, que a privatizaç­ão do setor elétrico brasileiro, tanto das distribuid­oras quanto da Eletrobras, fez muito mal ao Brasil. “Não quero entrar no mérito da privatizaç­ão, mas posso, sim, afirmar que os contratos foram injustos com povo brasileiro, foram grandes patrimônio­s da nação brasileira que foram entregues aos privados, em especial no caso da Eletrobras, de forma extremamen­te irresponsá­vel”, avaliou.

A declaração ocorre em um momento em que governo e Eletrobras estão em conversas no âmbito de uma câmara de Mediação e de Conciliaçã­o para buscar uma solução consensual para a controvérs­ia discutida na Ação Direta de Inconstitu­cionalidad­e (Adin) na qual o governo federal questiona o modelo de privatizaç­ão da companhia.

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JOÉDSON ALVES/AGÊNCIA BRASIL O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira

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