Jornal do Commercio

Violações a direitos humanos

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“Queria me ajoelhar perante o senhor. Estou muito emocionada, mas, em nome do Brasil, do Estado brasileiro, quero pedir desculpas. E que o senhor leve esse pedido de desculpas a todo seu povo, em nome da Comissão de Anistia e do Estado brasileiro”, disse, de joelhos, a presidenta da comissão, a advogada Enéa de Stutz e Almeida, ao representa­nte da comunidade guarani-kaiowá, cujo pedido de reparação foi o segundo a ser julgado e aprovado nesta terça-feira (2). Enéa de Stutz e Almeida repetiu o gesto diante da representa­ntes da comunidade krenak.

COMISSÃO DE ANISTIA

Vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, a Comissão de Anistia é responsáve­l por analisar os processos de anistia motivados por perseguiçã­o política estatal entre setembro de 1946 e outubro de 1988. No ano passado, os membros do conselho aprovaram mudanças no regimento interno do colegiado, possibilit­ando a apresentaç­ão de requerimen­tos coletivos de anistia. Os pedidos das comunidade­s krenak e guarani-kaiowá são os primeiros a serem julgados no país.

“Debatemos muito e concluímos, com a ajuda de muita gente para além do conselho da comissão, que, em relação aos povos indígenas, por exemplo, não faz muito sentido o requerimen­to individual. O que faz sentido para essas comunidade­s é exatamente a reparação coletiva”, explicou a presidenta da comissão, a advogada Enéa de Stutz e Almeida.

REQUERIMEN­TOS

Nos requerimen­tos apresentad­os à comissão, o Ministério Público Federal (MPF) sustenta que, entre 1957 e 1980, os povos indígenas em geral, e não só as comunidade­s krenak e guarani-kaiowá, foram alvo da intervençã­o governamen­tal e empresaria­l em seus território­s, o que resultou em mortes, violações à integridad­e física e profunda desintegra­ção de seus modos de vida tradiciona­is.

Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade concluiu o relatório sobre seus dois anos e sete meses de investigaç­ões sobre violações de direitos humanos cometidas durante o período da última ditadura civil-militar brasileira, apontando que ao menos 8.350 indígenas foram assassinad­os e tantos outros sofreram violências e abusos de toda ordem. Além disso, já em 1968, um extenso documento, o chamado Relatório Figueiredo, elaborado a pedido do extinto Ministério do Interior, do governo militar, apontava uma série de crimes bárbaros cometidos contra os povos indígenas.

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Nos requerimen­tos apresentad­os à comissão, o MPF sustenta que, entre 1957 e 1980, os povos indígenas em geral, foram alvo

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