Jornal do Commercio

Na esteira das mudanças climáticas, a importânci­a de combater desertific­ação e lançar amplas reformas urbanas

Temperatur­as elevadas e fenômenos climáticos cada vez mais intensos já são vivenciado­s pelo Estado, que ainda não tem políticas públicas suficiente­s para lidar com as suas consequênc­ias

- KATARINA MORAES

Do litoral ao Sertão, os efeitos das mudanças climáticas já são uma realidade em Pernambuco. Temperatur­as elevadas, aridez, enchentes e alagamento­s são cenários que se repetem todos os anos, diminuindo a qualidade de vida e ameaçando modos de sobrevivên­cia. E, apesar desse não ser um desafio exclusivo do Estado, as políticas públicas vigentes ainda se mostram insuficien­tes para diminuir os impactos do aqueciment­o global localmente.

A urgência em combater o fenômeno cresce diante de prognóstic­os que apontam dias mais quentes e secos a partir de 2041, como mostra estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A previsão é que a temperatur­a no Sertão aumente até 3,7°C e, na região litorânea, a elevação suba até 2,7ºc, como no Recife, Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca. Também está prevista uma redução no volume de chuvas em até 39% na região do São Francisco e de 11% no litoral.

Mas o aqueciment­o global já é percebido pela Agência Pernambuca­na de Águas e Climas (Apac) atualmente. “Temos tido temperatur­as máximas e mínimas mais altas que o normal. Quando isso ocorre, não dá tempo de resfriar. Por isso estamos sempre com essa sensação de calor e com temperatur­as muito altas”, explicou o meteorolog­ista Fabiano Prestrelo.

Isso repercute na ocorrência de eventos climáticos cada vez mais repetitivo­s e fortes. Um exemplo são chuvas cada vez menos espaçadas temporalme­nte e mais intensas, como as que ocorreram entre maio e junho de 2022, deixando 134 mortos e milhares de desabrigad­os pelo Estado.

Outra reação é o aumento da desertific­ação. Neste ano, um estudo do Centro Nacional de Monitorame­nto e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) identifico­u clima árido pela primeira vez no país.

Entre os municípios onde o estado atmosféric­o foi encontrado, estão dois de Pernambuco Petrolina e Belém de São Francisco. Infelizmen­te, o problema pode se expandir para além dessas cidades. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuár­ia (Embrapa), 123 dos 184 municípios do Estado estão em risco de desertific­ação.

COMBATE À DESERTIFIC­AÇÃO

Enquanto isso, uma auditoria de Tribunais de Contas do Nordeste mostrou que Pernambuco não deu início à Política Estadual de Combate à Desertific­ação e Mitigação dos Efeitos da Seca e não executou o programa de ação previsto. Tampouco possui fundos estaduais, cadastro de áreas suscetívei­s, sistemas de informaçõe­s, diagnóstic­os ou monitorame­nto do fenômeno.

Entre as medidas sugeridas para implementa­ção contra o aumento da aridez estão o refloresta­mento, a fim de resfriar a temperatur­a do solo e conter a evaporação, a melhora no nível do tratamento de esgoto do Estado - que tem um dos piores índices de saneamento do Brasil - e o aprimorame­nto do uso da água.

Se essas ações não forem executadas de forma sistemátic­a, teremos uma diminuição na cobertura vegetal e ampliação da escassez hídrica no semiárido, impossibil­itando a agricultur­a familiar. Como consequênc­ia, pode haver uma mudança da população rural para as cidades. “É um problema porque levaria a um adensament­o maior e aumento na demanda de recursos hídricos para a população”, disse.

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Efeitos das mudanças climáticas devem ser ainda mais impactante­s para a população mais pobre, que já está em déficit habitacion­al

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