A missão de facilitar o acesso ao SUS
PARA FACILITAR O ACESSO
Se reportamos a importância de os gestores repensarem a implementação de um terceiro turno na atenção básica (ou seja, horário estendido a partir das 17h) é porque queremos facilitar o acesso aos cuidados com a saúde para aquelas pessoas que trabalham ao longo do dia e só podem ser atendidos no turno da noite.
No entanto, é imprescindível que sejam oferecidas boas condições de trabalho, o que inclui a segurança para os profissionais e os pacientes. E claro que, para ampliar o turno, é necessário aumentar o quadro de pessoal e/ou a carga horária de trabalho, assim como ofertar salário compatível.
UMA DOENÇA ENDÊMICA NUM PAÍS DESIGUAL
Sob a ótica dos determinantes sociais em saúde, ainda trago como reflexão a situação do enfrentamento às doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya.
Essas arboviroses colocam em evidência alguns dos grandes problemas urbanos: alta concentração demográfica e falta de saneamento básico.
A CULPA É SEMPRE DO OUTRO?
Esse cenário diz muito sobre o fato de as autoridades nunca terem controlado a questão da dengue. Por que tanto se culpabiliza a população, com o discurso de que as epidemias se espalham porque “80% dos criadouros do mosquito estão dentro das residências”? Que grave! É preciso acabar com essa prática recorrente de se atribuir responsabilidade às pessoas sobre a própria condição de saúde.
O enfrentamento ao Aedes é falho porque é errado as estratégias de saúde focarem as ações no mosquito, e não nas condições que propiciam a sua proliferação, como ausência de saneamento, oferta de água intermitente, acúmulo de lixo, limpeza urbana e falta de drenagem, entre outras questões. Mais uma vez, é um panorama ligado aos determinantes sociais em saúde.
QUEREMOS UMA POLÍTICA SANITÁRIA PARA TODOS
Tudo relatado nesta análise evidencia a urgência de uma política sanitária para além dos limites do binômio saúde-doença. É uma visão que aponta para um cenário que exige um olhar amplo para a estrutura da saúde pública.
Pessoas mais expostas a condições socioeconômicas menos favoráveis têm mais dificuldades e desafios para realizar um tratamento de maneira ideal, o que tende a colocá-las em um contexto de risco de saúde.
Mas esse olhar que trago, neste texto que marca os 105 anos de coberturas do Jornal do Commercio, não é novidade. Basta a gente voltar ao início deste artigo e refletir que é secular o processo ter saúde/ser doente. O Sistema Único de Saúde (SUS) faz referência aos determinantes sociais de saúde há anos, mas infelizmente a prática ainda difere da teoria.
A IMPORTÂNCIA DO SUS
Em setembro deste ano, o SUS completa 34 anos de serviços aos brasileiros. A Lei nº 8.080 de 1990 regulamentou a saúde pública, igualitária e universal para todos os que vivem no País, ao abranger desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial até o transplante de órgãos.
A atenção integral à saúde, e não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de vida, prevenção e promoção da saúde.
A INTEGRALIDADE
Mas muito ainda precisa ser feito: os gestores e as autoridades sanitárias devem sensibilizar e qualificar as equipes para ter um olhar diferenciado de acordo com as necessidades de cada pessoa. E com uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão na saúde e qualidade de vida dos indivíduos.
Só assim será possível colocar em prática um dos princípios do SUS: a integralidade - que é acolher as pessoas como um todo, atendendo a todas as suas necessidades, sem se limitar à ausência de doenças.