Freio na violência só será possível com investimento em prevenção social
Faixa etária entre 18 e 30 anos representa quase metade das vítimas de assassinatos no Estado. Sem estudo e sem emprego, os jovens são facilmente cooptados para o crime. E perdem a vida em pouco tempo
Odesafio da segurança pública com ações para frear a violência assustadora que vivemos - não é só de Pernambuco. O problema é nacional e, evidentemente, requer olhos atentos do governo federal, que tem o dever de unir forças com os estados para combater o crime organizado.
Mas não adianta só investir em repressão. O foco na prevenção social, com efeitos a longo prazo, é o caminho para reduzir a quantidade inaceitável de vidas perdidas todos os anos.
Somente em 2023, segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, 40.464 crimes violentos letais intencionais foram somados no País. O número engloba os homicídios, latrocínios, feminicídios e lesões corporais seguidas de morte. Os óbitos decorrentes de intervenção policial não fazem parte dessa estatística.
Houve redução de 4,09% em relação ao ano anterior, quando 42.190 pessoas foram mortas. Ainda assim, um resultado muito ruim e que mantém o País no topo dos mais violentos do mundo.
Nesse cenário, observando a situação de Pernambuco, é preciso reconhecer os investimentos profundos em segurança pública a partir de2007,nogovernoeduardo Campos, após a criação do programa Pacto pela Vida.
Entre os anos de 2010 e 2013, houve uma queda expressiva dos homicídios - graças, principalmente, ao aumento do efetivo policial e ao foco nas investigações e prisões de acusados desses crimes. Não à toa, a população carcerária em Pernambuco mais que triplicou, mesmo sem condições de receber tantos presos.
Só que os números da violência voltaram a crescer e 2014. E chegaram ao ápice em 2017, quando houve recorde histórico de assassinatos no Estado.
E POR QUE ISSO ACONTECEU?
O crime organizado avançou assustadoramente pelo Nordeste, mas também houve uma grande falha do Pacto pela Vida em não desenvolver grandes projetos na área da prevenção social. Promessas desse tipo - previstasnoprogramaestadualnão saíram do papel. Poucas vezes os municípios foram convocados a colaborar com iniciativas e, mesmo assim, com raras exceções (leia-se o Compaz, no Recife), não houve avanços expressivos.
Não é novidade para o Poder Público que adolescentes e jovens são cooptados com propostas tentadoras para integrarem as facções especializadas no tráfico de drogas. E perdem a vida com pouco tempo.
Os números da própria Secretaria de Defesa Social (SDS) indicam isso. No 2023, do total de mortes violentas intencionais, 49% das vítimas tinham entre 18 e 30 anos. E a maior parte tinha envolvimento com atividades criminais.
O programa Juntos pela Segurança, lançado pela governadora Raquel Lyra em novembro de 2023, chegou com a promessa de um olhar mais profundo para a primeira infância e para os jovens, como forma de diminuir a situação de vulnerabilidade e, consequentemente, a violência.
A contar pelo número de secretarias envolvidas, projetos não devem faltar. Só que é preciso pressa, com iniciativas voltadas à ampliação da empregabilidade para a faixa etária que mais morre em Pernambuco. Lazer, esportes e cultura também não podem ficar de fora.