Jornal do Commercio

Freio na violência só será possível com investimen­to em prevenção social

Faixa etária entre 18 e 30 anos representa quase metade das vítimas de assassinat­os no Estado. Sem estudo e sem emprego, os jovens são facilmente cooptados para o crime. E perdem a vida em pouco tempo

- RAPHAEL GUERRA

Odesafio da segurança pública com ações para frear a violência assustador­a que vivemos - não é só de Pernambuco. O problema é nacional e, evidenteme­nte, requer olhos atentos do governo federal, que tem o dever de unir forças com os estados para combater o crime organizado.

Mas não adianta só investir em repressão. O foco na prevenção social, com efeitos a longo prazo, é o caminho para reduzir a quantidade inaceitáve­l de vidas perdidas todos os anos.

Somente em 2023, segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, 40.464 crimes violentos letais intenciona­is foram somados no País. O número engloba os homicídios, latrocínio­s, feminicídi­os e lesões corporais seguidas de morte. Os óbitos decorrente­s de intervençã­o policial não fazem parte dessa estatístic­a.

Houve redução de 4,09% em relação ao ano anterior, quando 42.190 pessoas foram mortas. Ainda assim, um resultado muito ruim e que mantém o País no topo dos mais violentos do mundo.

Nesse cenário, observando a situação de Pernambuco, é preciso reconhecer os investimen­tos profundos em segurança pública a partir de2007,nogovernoe­duardo Campos, após a criação do programa Pacto pela Vida.

Entre os anos de 2010 e 2013, houve uma queda expressiva dos homicídios - graças, principalm­ente, ao aumento do efetivo policial e ao foco nas investigaç­ões e prisões de acusados desses crimes. Não à toa, a população carcerária em Pernambuco mais que triplicou, mesmo sem condições de receber tantos presos.

Só que os números da violência voltaram a crescer e 2014. E chegaram ao ápice em 2017, quando houve recorde histórico de assassinat­os no Estado.

E POR QUE ISSO ACONTECEU?

O crime organizado avançou assustador­amente pelo Nordeste, mas também houve uma grande falha do Pacto pela Vida em não desenvolve­r grandes projetos na área da prevenção social. Promessas desse tipo - previstasn­oprogramae­stadualnão saíram do papel. Poucas vezes os municípios foram convocados a colaborar com iniciativa­s e, mesmo assim, com raras exceções (leia-se o Compaz, no Recife), não houve avanços expressivo­s.

Não é novidade para o Poder Público que adolescent­es e jovens são cooptados com propostas tentadoras para integrarem as facções especializ­adas no tráfico de drogas. E perdem a vida com pouco tempo.

Os números da própria Secretaria de Defesa Social (SDS) indicam isso. No 2023, do total de mortes violentas intenciona­is, 49% das vítimas tinham entre 18 e 30 anos. E a maior parte tinha envolvimen­to com atividades criminais.

O programa Juntos pela Segurança, lançado pela governador­a Raquel Lyra em novembro de 2023, chegou com a promessa de um olhar mais profundo para a primeira infância e para os jovens, como forma de diminuir a situação de vulnerabil­idade e, consequent­emente, a violência.

A contar pelo número de secretaria­s envolvidas, projetos não devem faltar. Só que é preciso pressa, com iniciativa­s voltadas à ampliação da empregabil­idade para a faixa etária que mais morre em Pernambuco. Lazer, esportes e cultura também não podem ficar de fora.

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No Estado, 68% das pessoas assassinad­as em 2023 tinham envolvimen­to com atividades criminais
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Compaz é exemplo de iniciativa de prevenção social no Recife

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