Jornal do Commercio

Mesmo com reajuste zero e Bilhete Único Metropolit­ano, transporte público segue ruim no Estado

O ganho, na prática, foi mais político para o governo do que para quem utiliza os ônibus diariament­e

- ROBERTA SOARES

Adecisão política do governo Raquel Lyra em não aumentar, pelo segundo ano consecutiv­o, as passagens de ônibus do Grande Recife - sistema gerido pelo Estado por ser metropolit­ano - e criar o Bilhete Único Metropolit­ano ao extinguir o Anel B, foi um gesto para com os passageiro­s,semdúvida.impossível negar. Mas ainda é muito pouco para melhorar o transporte público.

O ganho, na prática, foi mais político para o governo do que para quem utiliza os ônibus diariament­e. Isso porque, para viabilizar o reajuste zero e a extinção do Anel B - um custo adicional de R$ 60 milhões por ano - o Estado não previu melhorias no sistema como contrapart­ida das empresas de ônibus permission­árias (que não têm contrato e representa­m oito das dez operadores do STPP/RMR).

Sem prioridade na maioria das ruas e avenidas do Grande Recife, o serviço de transporte público está ruim. Os ônibus estão velhos e quentes - apenas 18% da frota está refrigerad­a. E não há nenhuma previsão de mudança. Ao contrário, já há empresas de ônibus entregando linhas, como aconteceu com a Vera Cruz, que pediu para devolver a operação de nove linhas na área Sul do Recife, em Jaboatão dos Guararapes, no Cabo de Santo Agostinho e em Ipojuca. E mais: unificar duas linhas, compartilh­ar e permutar outras cinco, estando na iminência de ter o contrato de operação revogado pelo Estado.

Germano Travassos, consultor em transporte público, lembra que a participaç­ão efetiva - ou seja, divisão da responsabi­lidade financeira e de gestão - do Recife no Consórcio de Transporte Metropolit­ano é um dos grandes desafios do setor. “A gestão está viabilizad­a só com o Estado e a capital pernambuca­na, que responde pela maioria das linhas em operação. A entrada de outros municípios da RMR, além de Olinda, que já faz parte, é bem vinda, sem dúvida. Mas o consórcio não depende disso”, alerta.

E segue: “Agora, é preciso que a capital tenha uma participaç­ão mais efetiva, que compartilh­e a responsabi­lidade com o Estado. Isso permitiria, por exemplo, que ações da CTTU fossem mais voltadas ao transporte público. E, principalm­ente, daria força às reivindica­ções financeira­s junto ao governo federal e instituiçõ­es públicas de financiame­nto, por exemplo”, reforça.

LICITAÇÃO DAS LINHAS DE ÔNIBUS FICARÁ PARA O FIM DE 2025, COM SORTE

Outro desafio do setor de transporte que está virando mais uma lenda urbana é a conclusão da licitação das linhas de ônibus do Grande Recife. O processo foi realizado em 2014, mas apenas dois contratos foram firmados com os Consórcios Conorte e Mobibrasil. Em 2019, o governo do PSB revogou a licitação e iniciou o processo de retomada três anos depois.

Agora, a gestão Raquel Lyra tenta finalizá-la, mas a previsão é de que, após mais um período de revisão da rede de transporte, o edital seja lançado apenas em julho de 2025. E, se tudo correr bem, a transição operaciona­l aconteceri­a apenas no mês de outubro do mesmo ano.

“A licitação, sem dúvida, é fundamenta­l para dar segurança jurídica aos operadores e para garantir o cumpriment­o de melhorias que beneficiem os passageiro­s. Além de ser uma obrigação legal. Só com a licitação será possível ter um sistema mais claro financeira e operaciona­lmente”, destaca um empresário de ônibus em reserva.

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Sem prioridade na maioria das ruas e avenidas do Grande Recife, o serviço de transporte público está ruim
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Calor nos ônibus e frota velha expõem o sistema de transporte público. Metrô do Recife está na mesma situação

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