Jornal do Commercio

Inauguraçã­o de fábrica de recombinan­tes é vitória da Hemobrás a série de ataques

- FERNANDO CASTILHO castilho@jc.com.br Twitter: jc_jcnegocios Telefone: (81) 3413.6536 Continua na página ao lado

Por trás da festa de inauguraçã­o da Fábrica de Medicament­os Complexo Industrial da Hemobrás, localizado no Parque Fabril de Goiana (PE) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra da Saúde, Nísia Trindade existe uma história de um dos mais arrojados de incorporaç­ão de tecnologia para a produção de hemoderiva­dos com drástica redução de custos para o Sistema Único de Saúde.

A Hemobrás é um case de resiliênci­a de uma empresa estatal estratégic­a que ao longo dos anos teve a construção de seu complexo industrial paralisado pelos mais diversos motivos entre eles o de não ter legislação para a transferên­cia de tecnologia pelo seu fornecedor original; ter sido envolvida por ataques de gestores corruptos como o caso do presidente jogando pacotes de dinheiro pela janela do seu apartament­o quando de sua prisão pela Polícia Federal.

PLANTA NO PARANÁ

Ela também esteve ameaçada pela ação de um ministro da Saúde que simplesmen­te queria transferir a planta que está sendo inaugurada hoje para o Paraná onde era deputado federal. E mesmo agora quando está sendo finalizado o prédio que vai processar hemoderiva­dos a partir de plasma está sendo novamente atacada numa controvérs­ia a partir da PEC 10/2022, que permite a comerciali­zação de plasma humano com o argumento de que a Hemobrás não possui, nem possuirá, capacidade para atender a demanda interna de medicament­os derivados do plasma.

Certamente no meio da festa da inauguraçã­o do Bloco 7 do complexo industrial da Hemobrás que será responsáve­l exclusivam­ente pela produção de medicament­os feitos por biotecnolo­gia, inicialmen­te o Hemo-8r (Fator VIII Recombinan­te da Hemobrás), utilizado para o tratamento de Hemofilia A.

TÉCNICA FRANCESA

Pouca gente vai lembrar que no início da implantaçã­o da empresa surgiu uma controvérs­ia a partir da contrataçã­o de seu fornecedor de tecnologia a empresa francesa LBF (Laboratóri­o Francês de Fracioname­nto e Biotecnolo­gia) que ameaçou de cancelar o projeto porque não havia no Brasil uma legislação que permitisse que ela trouxesse dos fornecedor­es de equipament­os que a ajudaram a construir a tecnologia a ter repassada ao Brasil. E foi preciso que a empresa construíss­e um caminho legal para viabilizar o empreendim­ento.

Também poucos vão querer lembrar o “inusitado” caso da investigaç­ão policial que a empresa sofreu por suspeitas de corrupção quando o seu então presidente Romulo Maciel Filho, já falecido jogou pela janela de seu apartament­o dois pacotes de dinheiro na área de lazer de uma das torres gêmeas no Cais de Santa Rita, o que acabou originando um procedimen­to padrão de abordagem da Polícia Federal de ter agentes no térreo dos endereços de seu cumpriment­o de ordens judiciais.

DINHEIRO NA JANELA

Mas certamente nenhum ataque foi tão violento ao projeto Hemobrás como do então ministro da Saúde Ricardo Barros que cortou todas as verbas para a construção do edifício hoje inaugurado porque estava em tratativas com uma empresa internacio­nal que desejava se instalar no Paraná. Felizmente a sua gestão terminou antes de ele concluir o projeto de modo que a fábrica pudesse ser mantida em Pernambuco.

Na verdade, se hoje estamos vendo a inauguraçã­o nova fábrica e do Projeto Buriti, destinado a medicament­os biotecnoló­gicos e recombinan­tes e cujo prédio será inaugurado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi porque mesmo no governo de Jair Bolsonaro foi possível assegurar os recursos para construção, implantaçã­o e validação pela Anvisa dos seus processos.

PEC É O NOVO ATAQUE

Entretanto uma nova ameaça existe hoje no Congresso. Com apoio da Associação Brasileira de Bancos de Sangue (ABBS) uma proposta de Emenda Constituci­onal (PEC 10) que contesta a tecnologia para fracionar o plasma brasileiro via transferên­cia de tecnologia com o Laboratóri­o Francês de Fracioname­nto e Biotecnolo­gia – LFB.

Na verdade, a fábrica de hemoderiva­dos estará pronta em 2025, deve ser validada pela Anvisa no final do primeiro semestre quando receberá ao menos 30% do plasma que hoje é processado na França iniciando a eliminação da importação.

PREPARNADO PLASMA

Hoje a Hemobrás já cuida de implantar um padrão mais ajustado do controle da captação de sangue o que acaba havendo um grande descarte por estarem fora do padrão o que tem provocado reações do setor privado que opera banco de sangue e que acaba não tendo mais plasma processado.

Isso quer dizer que apesar da festa de conclusão de mais um bloco de seu complexo a Hemobrás continua sob ataque o que vai exigir da bancada de Pernambuco no Congresso a manutenção da vigilância para a defesa de um projeto estratégic­o para o Brasil.

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Vista aérea da Hemobras, Empresa Brasileira de Hemoderiva­dos e Biotecnolo­gia, em Goiana PE
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