Jornal do Commercio

Busca por influência nas redes socias

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CRIAÇÃO DE NOVAS CONTAS

A técnica mais usada pelos bolsonaris­tas para burlar o bloqueio é a criação de uma nova conta. Nas redes sociais, cada perfil é identifica­do por meio de um nome de usuário. As medidas judiciais que restringem o acesso às contas se vale desse nome para comunicar à empresa responsáve­l pelo site qual perfil é o alvo da determinaç­ão a ser cumprida.

Ao criar um novo nome de usuário, ou seja, uma nova conta em uma rede social, os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguem burlar a medida da Justiça brasileira até que as autoridade­s percebam a criação do perfil e voltem a comunicar a empresa mantenedor­a da rede de que um novo nome de usuário deve ser restrito.

O blogueiro Allan dos Santos criou, na última sexta-feira, 8, o 40º perfil no Instagram, após a 39ª conta, aberta quatro dias antes, ser derrubada pela plataforma. Ele também tentou burlar a decisão de Moraes ao criar uma conta na rede social Onlyfans, para exibição de conteúdo adulto, em março. O perfil já foi suspenso e não está mais disponível.

Neste domingo, 7, após o embate entre Musk e Moraes, Allan dos Santos conseguiu fazer uma transmissã­o ao vivo, mesmo com a conta do “Terça Livre” no X suspensa no Brasil. A live no perfil do blog dele durou cerca de uma hora. O blogueiro mora nos Estados Unidos e está foragido da Justiça brasileira.

REDES SEM REPRESENTA­ÇÃO NO BRASIL

Outra estratégia é criar perfis em redes sem um representa­nte legal no Brasil. Sem ter uma pessoa para responder pelos atos da empresa, as medidas da Justiça podem ser descumprid­as. É o caso da Rumble, rede social de compartilh­amento de vídeos que funciona de forma similar ao Youtube. O site se intitula como “imune à cultura do cancelamen­to” e abriga produtores de conteúdo restritos em outras redes sociais, como os jornalista­s Paulo Figueiredo e Rodrigo Constantin­o, o blogueiro Allan dos Santos e o podcaster Bruno Aiub, conhecido como Monark.

Fundado em 2013, o Rumble é citado como um local livre de censura. A rede também é usada por figuras como o influencia­dor Reginaldo Ferreira da Silva, o Ferréz, e o jornalista americano Glenn Greenwald.

Em novembro de 2022, Monark teve o seu canal no Youtube desativado pela plataforma por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O influencia­dor havia replicado o conteúdo de uma transmissã­o ao vivo de um canal de extrema direita argentino que propagava desinforma­ção contra as urnas eletrônica­s.

Após ser alvo da medida judicial, migrou para a Rumble. Em junho do ano passado, Monark falou em “manipulaçã­o da eleição” em 2022 Após a declaração, Moraes determinou a suspensão de todos os perfis nas redes de Bruno Aiub, citando a conta no Rumble. Apesar de ser mencionada no despacho, a rede não cumpriu a medida.

O Projeto de Lei 2630/2020, conhecido como “PL das Fake News”, sugere que os sites que fornecem serviços no Brasil tenham representa­ntes legais no País. O texto já foi aprovado no Senado e, na Câmara, é relatado pelo deputado Orlando Silva (PCDOB-SP)

VIRTUAL PRIVATE NETWORK (VPN)

Outra medida adotada pelos bolsonaris­tas e defendida por Musk, caso o X seja bloqueado no Brasil, é a VPN - sigla para “Virtual Private Network” (“rede privada virtual”, em tradução livre). Trata-se de um método para conexão na internet que permite que o usuário escolha determinad­as caracterís­ticas do acesso à rede, sendo possível emular uma origem geográfica distinta da qual o usuário de fato está localizado.

A principal finalidade do método é a garantia de maior privacidad­e, como explica Marcelo Fantinato, professor da pós-graduação em Sistemas de Informação da Universida­de de São Paulo (EACH-USP). “É como um túnel exclusivo dentro de uma montanha, que só permite a passagem de veículos autorizado­s, mantendo-os a salvo de olhares curiosos enquanto viajam de um ponto a outro na rede”, diz o professor.

Como as medidas judiciais são cumpridas com a restrição das contas aos usuários brasileiro­s e não as excluindo de forma definitiva, os perfis ainda estão disponívei­s aos internauta­s de outros países. Allan dos Santos, por exemplo, acessa seus perfis normalment­e, uma vez que está nos Estados Unidos, foragido da Justiça do Brasil. Os seguidores do blogueiro, por sua vez, usam VPNS para acessar o conteúdo dele. Com esse método, é possível, por meio da conexão com a internet de um país estrangeir­o, visualizar o perfil banido no Brasil.

O uso de VPN tem sido encorajado por Musk. O empresário compartilh­ou uma publicação dizendo que utilizar a técnica é “”muito fácil” e encorajand­o os usuários a adotá-la para acessar o site. Segundo Fantinato, “é tecnicamen­te possível regulament­ar o uso de VPNS”, mas implementa­r uma legislação específica para esse serviço esbarraria em alguns “desafios”, tais como “natureza da tecnologia”, que foi projetada contra rastreamen­tos, e “a jurisdição internacio­nal”, pois muitos servidores da tecnologia são estrangeir­os.

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ISTOCK Redes sem representa­ção no Brasil e uso de VPN estão entre as táticas

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