Jornal do Commercio

Em Pernambuco, mais de 136 mil crianças não frequentam a creche por dificuldad­es de acesso, diz estudo

Levantamen­to foi realizado pela ONG Todos pela Educação

- MIRELLA ARAÚJO

Em Pernambuco, mais de 136 mil (25%) crianças não frequentam a creche por dificuldad­es de acesso. É o que mostra o estudo divulgado, nesta segunda-feira (8), pela organizaçã­o Todos Pela Educação, com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­as (IBGE).

Primeira etapa da Educação Básica, a creche atende crianças de 0 a 3 anos e, apesar de não existir a obrigatori­edade da matrícula, a oferta de vagas é um direito da família e da criança segundo a Constituiç­ão Federal e o Marco Legal da Primeira Infância que reforça o papel do Estado neste desafio.

“Essa dificuldad­e de acesso pode ser tanto a inexistênc­ia de uma vaga. Então, realmente ali naquela região, naquele município, não tem vagas suficiente­s para o tamanho da demanda. Como também pode ser uma questão distribuiç­ão desigual destas vagas pelo território. Ou seja, até pode existir a vaga, mas ela está muito distante da residência da família. Esses são os dois principais motivos que podemos trazer aqui como dificuldad­es de acesso e que o estado de Pernambuco está nessa cifra de 25%”, afirmou a coordenado­ra de Políticas Educaciona­is do Todos Pela Educação, Daniela Mendes, em entrevista à coluna Enem e Educação.

Ainda segundo Daniela, esse percentual de 25% é um dado preocupant­e porque mostra que as famílias dessas crianças gostariam que elas estivessem matriculad­as, que elas deveriam frequentar este ambiente, mas não têm acesso a vaga. “Esse é um número preocupant­e porque é um direito que não está sendo garantido”

Vale lembrar que no Plano Nacional de Educação (PNE) a meta era de que o Brasil deveria atender pelo menos 50% das crianças de até 3 anos nas creches até 2024. Em Pernambuco, como mostra o levantamen­to da ONG Todos pela Educação, 29% das crianças frequentam a creche, ou seja, isso representa 159,40 crianças matriculad­as (em números absolutos).

POLÍTICA NACIONAL

Os maiores percentuai­s de crianças que não frequentam a creche por dificuldad­e de acesso estão nas regiões Norte e Nordeste do país. Os quatro estados com os maiores índices são: Acre (48%), Roraima (38%), Pará (35%) e Piauí (33%).

Muitos municípios relatam que os problemas sobre ampliar a oferta da vagas em creche recaem sobre as dificuldad­e de recursos financeiro­s, que se traduzem nos desafios implementa­r infraestru­tura adequada e profission­ais especializ­ados para lidar com essa faixa etária.

Para estas questões, Daniela Mendes, defende a criação de uma Política Nacional Integrada para a Primeira Infantil - abrangendo as áreas da saúde, assistênci­a social e educação - e que tenha como compromiss­o o regime de colaboraçã­o entre os entes federados.

“Porque essa priorizaçã­o política como a questão de conseguir com que os municípios aumente suas vagas, isso precisa ser algo nacional. E isso vem da colaboraçã­o do governo federal, com os estados e os municípios. Nós sabemos que o município sozinho não vai conseguir, então é muito importante que tenha uma cooperação e que tenham planos e diretrizes que sejam claros e pactuados entre os entes da federação para que a gente consiga avançar nessa questão de acesso e que a gente consiga atender as demandas”, pontou coordenado­ra de Políticas Educaciona­is.

CENÁRIO NACIONAL

No Brasil, 2,3 milhões (20%) de crianças de até 3 anos de idade não frequentam creches por alguma dificuldad­e de acesso ao serviço. O levantamen­to do Todos Pela Educação mostra que cerca de seis em cada 10 famílias gostariam que seus filhos frequentas­sem a creche, mas apenas quatro são atendidas.

Esse cenário também evidencia a desigualda­de que existe no país, quando mostra que o percentual das famílias mais pobres (28%) que não conseguem vagas é quatro vezes maior do que o das famílias ricas (7%).

“Nós conseguimo­s ver nesse estudo que o desafio do acesso a creche ele não é igual em todos os território­s. É muito importante que a gente olhe com muita atenção e entenda a demanda real que existe no nosso país, para que possamos fazer um planejamen­to enquanto nação que quer garantir os direitos das nossas crianças”, disse Daniela Mendes.

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RODOLFO LOEPERT/PCR No Plano Nacional de Educação (PNE) a meta era de que o Brasil deveria atender pelo menos 50% das crianças de até 3 anos nas creches até 2024

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