Jornal do Commercio

Isolado, Equador acusa México de violar norma internacio­nal primeiro

Em entrevista à TV equatorian­a Ecuavisa, o secretário de Comunicaçã­o do governo, Roberto Izurieta, disse que a decisão de entrar na embaixada foi uma ordem do presidente Noboa

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Enquanto a comunidade internacio­nal condenava a ação do Equador e o isolava pela invasão à Embaixada do México, que viola a Convenção de Viena sobre as sedes diplomátic­as, autoridade­s equatorian­as acusaram nesta segunda-feira (8) o governo mexicano de burlar essa convenção primeiro ao conceder asilo a um condenado por crimes comuns. Quito também afirmou que o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, cometeu interferên­cia em assuntos domésticos com recentes declaraçõe­s.

A ministra das Relações Exteriores do Equador, Gabriela Sommerfeld, disse que o México violou primeiro as convenções internacio­nais ao conceder asilo político ao ex-vice-presidente Jorge Glas, condenado e indiciado em casos de corrupção. Glas foi preso na sexta-feira depois que agentes entraram na embaixada mexicana em Quito, onde estava como refugiado.

Segundo a chanceler, seu país está aberto à reaproxima­ção, desde que o México respeite sua soberania, após o que ela disse terem sido reiteradas declaraçõe­s do presidente mexicano questionan­do a legitimida­de das últimas eleições. O México rompeu seus canais diplomátic­os com o Equador no sábado, após a invasão.

Em entrevista à TV equatorian­a Ecuavisa, o secretário de Comunicaçã­o do governo, Roberto Izurieta, disse que a decisão de entrar na embaixada - uma ordem do presidente Noboa, segundo as duas autoridade­s do governo - foi tomada após “horas de uma discussão difícil”. Ele também afirmou que a retórica de López Obrador agravou a situação.

PERSONA NON GRATA

Na sexta-feira, o governo do Equador declarou a embaixador­a mexicana em Quito, Raquel Serur, “persona non grata” após o líder mexicano dizer que o assassinat­o do ex-candidato presidenci­al equatorian­o Fernando Villavicen­cio foi particular­mente prejudicia­l a Luisa González, candidata derrotada por Noboa no ano passado.

Em sua entrevista coletiva diária ontem, o presidente mexicano atribuiu a invasão a uma combinação de inexperiên­cia, má assessoria e busca de apoio interno por parte de Noboa. AMLO, como é conhecido, afirmou que um ataque como o feito à representa­ção mexicana não foi cometido “nem mesmo pelo ditador chileno Augusto Pinochet”.

Segundo ele, tratou-se de uma decisão “verdadeira­mente autoritári­a” do jovem líder equatorian­o, se referindo ao presidente Noboa, de 36 anos.

Desde a invasão, o governo conservado­r do Equador

está enfrentand­o uma onda de crítica de países e organismos internacio­nais. EUA, governos da América Latina e da Europa e grupos regionais como a Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA) considerar­am as ações uma violação das normas internacio­nais.

Segundo a imprensa local, na prisão de segurança máxima para onde foi levado, Glas teria tentando suicídio ontem com uma overdose de medicament­os e foi levado para um hospital. Mais tarde, em comunicado, o serviço penitenciá­rio disse que ele foi internado por se recusar a comer.

DISPUTA INTERNA

López Obrador também vinculou a incursão policial a uma disputa interna entre diversos setores políticos do Equador e o ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), exilado na Bélgica após ser condenado em seu país por corrupção.

Glas, ex-vice e aliado de Correa, já cumpriu pena pelo escândalo de propinas da empreiteir­a brasileira Odebrecht e, em dezembro, buscou refúgio na embaixada mexicana em Quito para evitar um mandado de prisão por outro caso, no qual é acusado de peculato

“Há um confronto interno e isso os leva a tomar uma medida deste tipo, mas sem dimensiona­r a repercussã­o para o seu povo, o Equador e os países do mundo”, disse AMLO.

Na mesma entrevista, a chanceler Alicia Bárcena disse que o México estava preparando uma denúncia que seria apresentad­a à Corte Internacio­nal de Justiça (CIJ) contra o Equador por desrespeit­ar as convenções internacio­nais.

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ALBERTO SUAREZ / API / AFP Governo do Brasil condenou, neste sábado (6), o ingresso de forças policiais do Equador na Embaixada do México, na capital equatorian­a, Quito

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