Jornal do Commercio

A sinceridad­e do ministro Fernando Haddad e o dilema do prefeito João Campos

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Pense um pouco e responda, de quem você acha que é esse pensamento: “Nós tivemos 10 anos de irresponsa­bilidade fiscal com baixíssimo cresciment­o. O gasto não produziu os efeitos pretendido­s… Nós temos que virar essa página. A página da confusão durou 10 anos. Nós temos que virar. Entender que ali foi um erro, que a classe política, a elite intelectua­l do país, a elite econômica do país, têm que prestar conta desses 10 anos.

E a melhor maneira de fazer é reorganiza­r, é reconstrui­r o Brasil”.

Se você acha que essa reflexão é de qualquer pessoa, menos de alguém filiado ao PT, errou. Foi o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) quem declarou isso, há alguns dias, em uma emissora de TV.

MESMA CAIXA

Surpreende porque desses 10 anos, tomando como referencia­l final o ano de 2022, apenas seis são referentes a Bolsonaro (PL) e Michel Temer (MDB), que costumam ser os culpados preferenci­ais para quando o PT não quer assumir suas responsabi­lidades.

Haddad colocou Dilma Rousseff (PT) na mesma caixa da irresponsa­bilidade fiscal.

PRA SER JUSTO

O que ele não diz, e nem dirá. É que Dilma foi a maior e quase a única protagonis­ta dessa tragédia. Temer, para ser justo, foi quem estancou o fluxo do caos. O emedebista foi uma pausa importante na desgraça fiscal que gerou a crise econômica em que o país se meteu e não pode ser esquecido. A gestão Bolsonaro voltou a desorganiz­ar tudo, mudando só o polo dos gastos.

MANTEGA

Também não se pode esquecer, se Haddad quiser ser ainda mais justo, que um dos principais causadores de todos os males econômicos destes 10 anos atende pelo nome de Guido Mantega.

E é ele que Lula (PT) tenta reabilitar há meses, procurando um cargo no governo do qual o ministro da Fazenda atual também faz parte.

DILEMA

Ao filiar secretário­s em partidos aliados, ainda mais aqueles que se comenta serem os preferidos para compor uma chapa pela reeleição, o prefeito do Recife queria ter opções para o caso de não haver acordo com o PT sobre a vice na majoritári­a.

João Campos (PSB) acendeu um alerta entre os petistas de Pernambuco porque os próprios petistas sabem que não são imprescind­íveis para a vitória.

Mas o que está em jogo não é apenas a eleição do Recife em 2024. E esse é o dilema do prefeito.

FATORES EXTERNOS

O PSB e o PT têm relação em várias outras cidades do estado, importante­s para um voo mais alto de Campos em 2026, por exemplo. O PSB quer empenho do PT em São Paulo no caso de Tábata Amaral (PSB) crescer ao ponto de ultrapassa­r Guilherme Boulos (PSOL) que anda derretendo nas pesquisas.

PRESIDENCI­AL

Além disso, se quiserem manter a parceria nacional atual em 2026, com um socialista ocupando a vice de Lula, o PSB terá que oferecer alguma reciprocid­ade desde agora. Os socialista­s têm uma bancada pequena na Câmara e agregam pouco à base do governo, é preciso compensar cedendo aos petistas em outras frentes. O PSB pode chegar ao ponto de se tornar dispensáve­l na próxima eleição presidenci­al.

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ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT)
O ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT)
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João Campos (PSB)

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