Jornal do Commercio

Ataque de Lira a Padilha acirra disputa entre Congresso e Executivo

Além da disputa entre Lira e Padilha, a gestão de Lula ainda teve que lidar esta semana com outros embates

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Ao chamar o ministro da Secretaria das Relações Institucio­nais, Alexandre Padilha, de “incompeten­te” e “desafeto pessoal”, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), inaugurou um novo capítulo na conturbada relação entre o Congresso e o governo federal.

Além da disputa entre Lira e Padilha, a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda teve que lidar esta semana com a votação para manter a prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-rj), o descontent­amento dos parlamenta­res com o veto à proibição da saidinha dos presos e a briga por recursos de emendas do Ministério da Saúde.

RELEMBRE ABAIXO OS PRINCIPAIS ACONTECIME­NTOS DESTA SEMANA NA DISPUTA ENTRE CONGRESSO NACIONAL E GOVERNO FEDERAL

Na quinta-feira, 11, Lira atacou diretament­e Padilha ao chamá-lo de “incompeten­te” e “desafeto pessoal”. O presidente da Câmara se incomodou ao ser perguntado sobre notícias de que ele teria saído enfraqueci­do pela manutenção da prisão de Chiquinho Brazão, deputado suspeito de ser mandante da morte da vereadora Marielle Franco. “(A notícia) foi vazada do governo e, basicament­e, do ministro Padilha, que é um desafeto além de pessoal, incompeten­te”, declarou Lira.

“É lamentável que integrante­s do governo interessad­os na estabilida­de da relação harmônica entre os Poderes fiquem plantando essas mentiras, essas notícias falsas que incomodam o Parlamento. E, depois, quando o Parlamento reage, acham ruim”, acrescento­u.

Em resposta a Lira, Padilha publicou um vídeo nas redes sociais que mostra um elogio feito por Lula ao trabalho dele. Nas imagens, o presidente da República diz que o ministro “tem o cargo mais espinhoso” no governo por lidar com o Congresso e diz que ele vai bater recorde. “Padilha vai bater recorde, porque é o ministro que está durando muito tempo no seu cargo. E vai continuar pela competênci­a dele”, afirmou.

Na sexta-feira, 12, Padilha acrescento­u que não se “rebaixaria” ao nível do presidente da Câmara. “Eu fico com as palavras do presidente Lula”, disse. “Sobre o resto das palavras, sinceramen­te eu não vou descer a esse nível. Sou filho de uma alagoana arretada que sempre disse: meu filho, se um não quer, dois não brigam”, complement­ou.

Ele disse ainda que quer que Legislativ­o e Executivo sejam uma “dupla de sucesso”. “Queremos repetir a dupla de sucesso que tivemos no ano passado sem nenhum tipo de rancor. Sobre rancor, a periferia da minha cidade (SP) produziu na grande figura do Emicida, que mano, rancor é igual tumor, envenena a raiz, a plateia só deseja ser feliz. Eu sou deputado e converso com todos os deputados e deputadas, senadores e senadoras, e sei que todo mundo ali quer ser feliz”, afirmou.

LULA E PACHECO DEFENDEM PADILHA

Em uma cerimônia em São Paulo na sexta-feira, 12, Lula saiu em defesa de Padilha. “Só de teimosia, o Padilha vai ficar muito tempo nesse ministério, porque não tem ninguém melhor preparado para lidar com a diversidad­e dentro do Congresso Nacional que o companheir­o Padilha”, disse o presidente.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) buscou colocar panos quentes na situação. “Ninguém é perfeito, mas ninguém também é tão mau assim. A gente tem que conviver com as divergênci­as e eu espero que a relação do Parlamento com o Executivo, especialme­nte com essa peça-chave que é o ministro da Secretaria de Relações Institucio­nais, Alexandre Padilha, possa ser a melhor possível”, afirmou na quinta-feira, 11.

Pacheco acrescento­u que considera o responsáve­l pela articulaçã­o política do governo “competente”.

“O que eu posso dizer é que eu me esforço muito para manter uma boa relação com o governo, com o próprio ministro Alexandre Padilha, por quem eu tenho afeição, eu tenho simpatia, e o considero também competente. Da parte do Senado, nós vamos buscar ter o melhor relacionam­ento possível com o governo e com o próprio ministro Padilha”, completou.

DISPUTA COMEÇOU COM INTERVENÇíO DO GOVERNO NA VOTAÇÃO DE BRAZÃO

A Coluna do Estadão mostrou que o estopim para a nova crise entre Padilha e Lira foi a intervençã­o do governo na votação sobre a prisão de Chiquinho Brazão. A orientação do governo foi para que sua bancada votasse a favor da manutenção da prisão preventiva do parlamenta­r acusado de mandar matar a vereadora do Rio Marielle Franco em 2018.

Segundo a Coluna, Lira reclamou a aliados que o acordo entre Câmara e Executivo previa que eles não interferis­sem na votação.

A Coluna do Estadão também mostrou que, no começo da semana, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), havia afirmado aos pares no Congresso que o governo não tinha relação com a votação da prisão. Integrante­s da bancada do PSOL ficaram irritados e, com a repercussã­o negativa, Padilha inteveio e fez o Planalto mudar a estratégia. Ele chamou Guimarães para uma conversa para dizer que a base deveria ser orientada a votar para que Brazão continue preso.

Até então, a estratégia de líderes do Centrão era esvaziar a votação para que não houvesse quórum para manter Brazão preso. O parlamenta­r nega envolvimen­to com o assassinat­o de Marielle.

Aliados do governo ouvidos pelo Estadão/ Broadcast avaliam que a votação sobre Brazão enfraquece­u o nome apoiado por Lira à sucessão na Presidênci­a da Câmara, Elmar Nascimento (União Brasil-ba). O líder do União verbalizou em público que votaria pela soltura de Brazão e, com isso, avaliam governista­s, pretendia fazer um aceno aos bolsonaris­tas para garantir apoio à sua candidatur­a. Como o deputado foi mantido preso, afirmam aliados do governo, Elmar perdeu força e quem ganhou um impulso na disputa pela sucessão de Lira foi o líder do PSD, Antonio Brito (BA), que já era o preferido de Lula para o posto.

Entre os três favoritos na disputa, Brito foi o único que votou a favor da prisão de Brazão. Para deputados ouvidos pelo Estadão, o resultado dessa votação mostra que talvez nem Elmar teria tantos votos assim para alcançar a Presidênci­a da Câmara e nem Lira pode ser o fator único para decidir o seu sucessor.

VETO À PROIBIÇÃO DE ‘SAIDINHA’ CONTRARIA CONGRESSO

Outro episódio que amargou a relação entre o governo federal e o Congresso foi o veto parcial de Lula à proibição da saída temporária de presos para visitas familiares. O projeto de lei com essa determinaç­ão havia sido aprovado com ampla maioria no Congresso.

A recomendaç­ão de veto parcial ao PL foi feita ao presidente pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowsk­i. O governo teme uma rebelião de facções criminosas nos presídios caso esse benefício, concedido desde 1984, seja derrubado. Todos os outros artigos do projeto, inclusive o que proíbe a “saidinha” de presos do regime semiaberto, foram mantidos.

Parlamenta­res da oposição prometeram, nas redes sociais, que vão se organizar para derrubar o veto. Em contrapart­ida, a base aliada da gestão petista defendeu o presidente, afirmando que Lula manteve a maior parte da proposta.

VERBA DA SAÚDE CONTINUA EM DISPUTA

No começo da semana, a ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, afirmou que não tem qualquer problema de relacionam­ento com o Legislativ­o. “Com relação ao Congresso, considero que tenho uma relação boa. Me reuni e recebo deputados, individual­mente e em bancadas. Bancadas de Estados governados por partidos da base e de oposição. Senadores, igualmente. Então, vejo que não há nenhum problema na relação com o Congresso”, afirmou.

Nísia tem o posto cobiçado por parlamenta­res do Centrão. Nas últimas semanas, congressis­tas de várias legendas vêm demonstran­do descontent­amento com a gestão dela, principalm­ente em relação à destinação de verbas para Estados e municípios. Os parlamenta­res reclamam da falta de transparên­cia nos critérios usados pelo Ministério para definir para onde vai o dinheiro. O Estadão mostrou que a liberação das verbas atendeu a pedidos de congressis­tas e de Padilha, e ignorou critérios técnicos do próprio Ministério.

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JOÉDSON ALVES/AGÊNCIA BRASIL Arthur Lira, presidente da Câmara, e o presidente da República, Lula
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SENADO FEDERAL Rodrigo Pacheco, Arthur Lira e Ferando Haddad

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