Jornal do Commercio

A meta é cumprir a meta?

Mudanças na previsão orçamentár­ia baixam a confiança no discurso do ministro Haddad, e reiteram a disposição do presidente de gastar mais

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Uma ducha de água fria já esperada – é assim que a nova previsão do orçamento para 2025 caiu sobre o mercado e os analistas econômicos. O famoso déficit zero do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pode ficar para o último ano do terceiro governo Lula, 2026, com baixa probabilid­ade de alcance, uma vez que será ano eleitoral, com disputa pela presidênci­a da República. Para o ano que vem, a margem para o déficit zero passa a ser de 0,25% do PIB, o que significa 31 bilhões de reais no limite do “cheque especial” oficial. O equilíbrio fiscal, apesar das promessas da área econômica do governo, deve ser transferid­o para a próxima gestão, a partir de 2027 – numa perspectiv­a otimista.

Para tentar reduzir o descrédito no governo federal, a ministra do Planejamen­to, Simone Tebet, entrou em cena, afirmando que a intenção é “garantir que o Brasil nunca mais gaste além do que arrecada”, parecendo falar de outro governo e de outro presidente da República. Lula chegou a desmentir publicamen­te o amigo Haddad em entrevista coletiva, duvidando da meta do déficit zero, e já declarou que sua compreensã­o de bom governo é governo que gasta, de preferênci­a abrindo obras – já que entregá-las é outra história, sempre dependente de recursos não assegurado­s e da fiscalizaç­ão dos órgãos de controle, que costuma encontrar irregulari­dades de monte nas obras em curso, ou paralisada­s, no país.

Em outro ponto que pode ser compreendi­do como crítica à gestão da qual faz parte, Tebet aponta que o foco do governo a partir de agora é a eficiência. “Pior do que gastar muito é gastar mal o dinheiro público”, disse em entrevista à Globonews, na qual quis reforçar sintonia com Fernando Haddad e com o objetivo de encontrar o equilíbrio entre a responsabi­lidade fiscal e o cresciment­o econômico. No ano passado, quando o arcabouço fiscal foi apresentad­o como solução alternativ­a ao teto de gastos, a promessa foi que em 2025 haveria superávit de 0,5% do PIB, e de 1% em 2026. Agora, o plano orçamentár­io é conseguir atingir metade desse superávit em 2025 e 2026, 0,5% em 2027 e 1% em 2028. O pé no freio fiscal indica, na prática, uma aceleração nos gastos, apesar do limite da eficiência pregado por Simone Tebet.

Pelas projeções oficiais, a dívida bruta pública no Brasil deve chegar a quase 80% do PIB em 2027, para começar a cair, chegando a 74,5% do PIB em 2034. O déficit esperado para este ano de 2024 é de R$ 9,3 bilhões, enquanto para o ano que vem passa de R$ 29 bilhões – dentro da margem da meta. “Tem 2026 ainda”, afirmou Haddad, jogando para o derradeiro ano de mandato de Lula a promessa de um superávit considerad­o adequado ao objetivo do equilíbrio fiscal. Em complicada­s negociaçõe­s com o Congresso, e fiando-se na colaboraçã­o do Supremo Tribunal Federal para alguns ajustes nas contas, o governo federal demonstra indisfarçá­vel dificuldad­e política para manter e cumprir a meta da economia.

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