jornaleiro radical
Quem frequenta a banca Tex, em São José dos Campos, interior de São Paulo, já se acostumou com a rotina descolada de Aureo Adriano da Silva, 53 anos. Empreendedor há 27 anos, o jornaleiro aproveitou a possibilidade de montar sua própria dinâmica de trabalho para ter uma vida mais saudável. Ele percorre os 12 quilômetros que o afastam de sua casa até o trabalho diariamente em um skate no formato longboard. A prática ajuda o jornaleiro a ter fôlego para correr ultramaratonas e disposição para oferecer aos clientes um atendimento especial. “A corrida abriu minha cabeça, melhorou minha mente e me deixou mais feliz. Meus clientes sentem isso”, diz. “Criamos um laço de parceria. O saldo é bem positivo.”
Locomover-se ao local de trabalho de skate não é à toa – e traz consigo um porquê. Em meados de 2001, aos 37 anos, o empresário andava indis- posto e procurou um médico por estar acima do peso. O conselho? Deixar o sedentarismo. Foi quando ele encaixou a caminhada na rotina e começou a ganhar disposição para traçar novos desafios. “Em três meses, eu já conseguia correr, não sentia dores nas pernas e estava mais disposto.”
A evolução dos treinos o fez querer vivenciar a experiência da famosa São Silvestre. Ao alcançar os 21 quilômetros, decidiu aumentar sua ambição e correr ultramaratonas. Há cerca de 12 anos, participa anualmente da prova BR135. Com duração de 60 horas, ela é considerada a prova contínua mais difícil do Brasil. O longboard é um dos seus aliados diários na preparação para a prova. “Minha condição na banca me dá liberdade de programar meus horários junto com os da minha esposa. Consigo conciliar a vida de empresário com a de um esportista.”
A aquisição da banca Tex aconteceu no início da década de 1990. Preocupado com a crise econômica do governo Collor e com receio de ficar desempregado, Silva decidiu empreender e conduzir seu próprio negócio. Um dia, enquanto comprava uma revista em uma banca, deparou-se com a placa de “vende-se”. Foi quando decidiu mudar o rumo de sua e vida e comprar a banca. “A oportunidade fez com que eu conseguisse formar meus dois filhos na universidade e organizasse melhor o meu dia.”
Aberta das 7h às 21h desde que assumiu o controle, a banca é administrada por Silva e sua esposa, Marilene Aparecida Jorge Silva. A mudança na rotina da vida de funcionário para empresário contou com algumas adaptações. Se, por um lado, as férias foram reduzidas, de outro, a banca abriu oportunidades para o crescimento profissional e pessoal. “Aprendi a ser mais resiliente, a lidar melhor com as adversidades. Até passei a aconselhar meus clientes”, afirma. E foi justamente por meio dessa experiência única de vida que Silva conquistou o público local.