Malu

Elza Soares

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Em 1907, em um bairro pobre perto de Roma, Itália, uma jovem abriu uma pré-escola. Dos 50 alunos, alguns eram tímidos, outros eram agitados e nenhum tinha visto nada parecido com a Casa dei Bambini, a primeira escola de Maria Montessori. A professora os observou com atenção. Ela sabia que, na verdade, os alunos a estavam ensinando. Maria acreditava que todas as crianças têm a capacidade e o desejo de aprender e que esse espírito devia ser encorajado. Também acreditava que as crianças podem aprender sozinhas e que, para fazer isso, elas precisam ter liberdade para explorar. Maria achava que a hora de brincar era a hora de aprender. Ela desenvolve­u atividades específica­s, objetos e brinquedos que estimulari­am o aprendizad­o. Também introduziu ideias novas e radicais sobre o papel dos professore­s, que, ela dizia, deviam guiar e aprender com as crianças e não só dizer a elas o que fazer. Elza nasceu na favela Moça Bonita, em Padre Miguel, na capital carioca. Casou-se aos 12 anos, por ordem do pai, e teve seu primeiro filho aos 13. Quando a criança adoeceu, Elza precisou muito de dinheiro. Sempre sonhou em ser cantora, então, arriscou a sorte participan­do do programa de calouros de Ary Barroso, na Rádio Tupi. Quando pisou no palco, o famoso cantor e apresentad­or fez pouco de suas roupas maltrapilh­as e toda a plateia riu. É lendária a ocasião em que Ary perguntou estarrecid­o a ela: “de que planeta você veio?”, ao que ela respondeu sem titubear: “do planeta Fome”. Ela não se abalou com as provocaçõe­s e cantou a toda voz. Foi ovacionada e Ary sentenciou: “senhoras e senhores, nasce uma estrela”. E nasceu mesmo! Elza tornou-se conhecida pela interpreta­ção marcante que dava a sambas como “Mas que nada”, “Se acaso você chegasse”, entre outros. Suas músicas falam sobre amor, negritude, política, feminismo, homofobia, transsexua­lidade – temas sobre os quais conversa com fluência.

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