Malu

Ricardo Tozzi

O ator de Orgulho e Paixão fala sobre as mudanças na sociedade

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Interpreta­r vilões

“É bem engraçado, tem horas que você fala assim: ‘Espera aí gente, porque eu vou dar um murro nele?’. E aí te respondem: ‘Não, vai lá e dá um murro nele’. É bom, é interessan­te, porque eu acho que o vilão sempre tem um lado assim, de uma inteligênc­ia, uma perspicáci­a, quase um humor. O Xavier tem uma visão diferente da vida, e eu acho divertido, é bem legal de fazer.”

Protagonis­mo feminino

“Essa novela tem um monte de mulher encalhada. Elas precisam casar, e é muito louco, porque em 1900, isso era uma questão em contrapont­o de hoje. Umas mu- lheres querem casar, outras não querem... Está tão diferente, né? Eu acho incrível, mas eu gosto daquela época, porque tudo era muito mais simples: casava, criava os filhos, e a vida estava pronta. Hoje em dia é tudo muito complexo.”

Vida em épocas antigas

“Eu tenho um espírito meio velho, eu sou um cara meio à moda antiga, as vezes eu gosto da gentileza, gosto da calma. Eu acho que, mais do que tudo, a gente tinha tempo de olhar para dentro da gente, saber quem você era. Hoje em dia, você recebe muita informação de fora, e para assimilar tudo é uma loucura. Esse mundo contemporâ­neo é meio complicado.”

Preconceit­os na atualidade

“Acho que houve uma evolução muito grande. Não dá mais para a gente aguentar preconceit­o, não faz o menor sentido. Naquela época, era tudo seguido pela tradição, e hoje em dia o mundo está exposto, aberto, visceral. Qual é a base de um preconceit­o hoje? Alguém é melhor do que alguém? Para mim, é inadmissív­el.”

Triste realidade

“Eu estive há três anos no interior de um estado, que eu não vou dizer qual é, um pouco distante daqui, fazendo um trabalho. Era um desfile em uma loja e o proprietár­io da loja me buscou no aeroporto com um carrão. Interior do interior, lá para cima do Norte. Ele me disse: ‘Aqui não tem problema nenhum’. Eu falei: ‘Não?’. Ele respondeu: ‘Não! Aqui a gente resolve tudo. A gente mata doentinho’. E aí, eu parei e pensei: ‘O que pode ser ‘mata doentinho’? Será que eles matam os doentes no hospital para resolver os problemas? E aí eu falei: ‘mata doentinho é o que?’. Ele respondeu assim: ‘Os viadinhos. Aqui, nasceu viadinho, a gente mata’. Se eu pudesse, respondia: ‘Você pode parar o carro? Porque eu quero pegar um helicópter­o e sumir daqui!’. Gente, é um coronel, e ele mata! Se alguém nascer gay, morre. E isso há três anos. Não adianta achar que isso está bonito, porque não está. O cara me disse que matava os gays da cidade simplesmen­te por terem nascido. Cadê a liberdade do ser humano? O valor de sua existência? É complicado.”

Acesso à cultura

“O papel de uma novela também é informar, instruir. As pessoas criticam muito as novelas, falam que é uma camada superficia­l, mas não é! Para que uma novela dessa vá ao ar, é preciso uma pesquisa absurda para retratar a realidade da época da melhor maneira possível. Então, acho que é uma forma de educar o país, uma forma de mostrar de onde a gente veio, de onde vieram nossas questões. Muitas pessoas estão hoje por aí e ninguém sabe de onde vieram, de onde vieram os italianos, como foi a abolição dos escravos, como começou o mercado de café, como é que o Brasil foi um grande país cafeiculto­r... Entender sobre a nossa origem, entender sobre a gente, é fenomenal.”

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