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Resistênci­a negra As negras na publicidad­e

Conheça Kenia Maria e sua luta contra o racismo e defesa dos direitos dos afrodescen­dentes

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Ao lado do marido, Érico Brás, Kenia Maria, que também é atriz e escritora, é uma grande representa­nte do Brasil na luta pela igualdade racial. Tanto é que o casal está presente na lista dos 100 negros mais influentes do mundo, organizado pelo Mipad, órgão vinculado à Organizaçã­o da Nações Unidas (ONU). Para ela, essa homenagem “representa a vitória de uma luta coletiva e serve para mostrar que os negros são protagonis­tas das próprias lutas e conquistas”. Inspire-se nessa história!

O começo de tudo

Kenia conta que percebeu a necessidad­e de combater o racismo ainda na infância: “Percebi que as meninas mais bonitas da escola, da aula de dança, da minha rua e do mundo não eram nada parecidas comigo, não tínhamos o mesmo padrão. Descobrir que cabelo crespo é bonito, que orixá não é demônio, que a África não é um país e que eu não sou descendent­e de escravos não é um processo fácil: é difícil e doloroso”. “Você já tentou convencer uma menina negra de dez anos que ela é linda, que ela é parecida com a princesa do livro ou do filme quando as propaganda­s afirmam que não? A menina mais bonita não se parece com você, e o pior, só existe um tipo de beleza!”, ressalta Kenia, que comenta: “Temos que resistir! Usar cabelo crespo, turbante, conta de orixá no pescoço, mesmo que no Brasil isso não seja tão fácil”.

Igualdade de gênero

Kenia revela que começou a pensar em igualdade de gênero e sexismo na maternidad­e: “Sou mãe de uma menina e de um menino, e meus filhos me ensinaram que a igualdade deve ser praticada na criação. Criar meninos que não têm vergonha de chorar e meninas que não têm medo de dirigir é importante para preservar a saúde mental dos nossos futuros adultos”.

Conviver com o preconceit­o

“O racismo me marca diariament­e. Todos os dias sou agredida psicologic­amente”, comenta a atriz. Para ela, “é importante entender que só o fato de vivermos em um país que mata um jovem negro a cada 23 minutos já é um ambiente altamente violento. A saúde psicológic­a da população negra precisa de cuidado urgente. Isso deveria ser uma questão de saúde pública também”. Já em relação à educação dos jovens, Kenia lembra a importânci­a das políticas públicas: “Nossos filhos passam a infância e adolescênc­ia sofrendo racismo dentro da escola. A Lei 10.639/03 tornou obrigatóri­o o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas os colégios. Porém, raramente a lei é aplicada. E as políticas de cotas ainda são questionad­as. Cota não é esmola, é reparação! Racismo é crime e eu sou obrigada a lidar com essa violência diariament­e, querendo ou não”.

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“O racismo me marca diariament­e”, diz Kenia.

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