“Mãe, fiz xixi!”
Entenda a enurese, transtorno que causa a perda involuntária da urina durante o sono
Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), 15% das crianças com mais de cinco anos de idade sofrem de enurese, um transtorno que causa episódios involuntários e discretos de incontinência urinária durante o sono. Esse problema precisa de um rápido diagnóstico para início imediato do tratamento, além do acompanhamento psicológico tanto para a criança quanto para a família.
Mais do que cama molhada
“As crianças que fazem xixi na cama queixam-se de não poderem dormir na casa de amigos e familiares nem participar das ‘festas do pijama’ organizadas na casa dos colegas de classe, por exemplo”, diz a professora Cacilda Andrade de Sá, da Faculdade de Medicina da UFJF e Coordenadora do serviço de Psicologia do Ambulatório de Enurese do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF). A especialista ainda acrescenta que o transtorno impacta diretamente a vida escolar e o convívio social, além da afetar a autoestima e a qualidade de vida dos pequenos. Além disso, em uma avaliação inicial feita no Ambulatório de Urologia Pediátrica com crianças e adolescentes que sofrem com o transtorno, os médicos constataram que uma das maiores consequências da enurese é a punição sofrida por causa da perda urinária. A criança é culpada por aquilo que, para ela, já é um castigo, que é “acordar molhada”.
Diagnóstico e tratamento
Além de considerar os antecedentes pessoais e familiares, o diagnóstico pode ser feito observando o desenvolvimento da criança e a sua capacidade de enchimento e esvaziamento da bexiga. Também pode ser necessário realizar alguns exames: genital, neurológico, de urina e de sangue. Na maioria das vezes, a enurese acontece devido a fatores que podem ser genéticos, relacionados à quantidade de urina produzida pela criança durante a noite, ou relacionados à função da bexiga e ao sono, ocorrendo de forma involuntária e sem qualquer culpa por parte da criança. Cacilda reforça que o acompanhamento psicológico é de grande ajuda no tratamento: “O profissional pode fornecer informações sobre treinamento e controle esfincterianos, auxiliar na recuperação da autoestima da criança e também orientar os pais sobre como lidar com o transtorno”.
Participação da família
Para pais e cuidadores, a enurese é uma das disfunções mais frustrantes da infância. Conforme os filhos crescem, aumenta também a expectativa de que os pequenos tenham autonomia e responsabilidade. Quando não atendida, essa expectativa pode gerar desconfiança e uma sensação de incapacidade, causando culpa e raiva. “O apoio da família é fundamental para o sucesso no tratamento. Quem sofre de enurese precisa ser atendido por
profissional especializado. O xixi na cama é uma realidade, mas ainda continua sendo tratado como se fosse um grande segredo de família”, comenta Cacilda. Ao terem de lidar com o xixi na cama, os pais podem se deparar com sentimentos de ansiedade, culpa e dificuldades na relação com os filhos. “Muitas vezes a punição é utilizada como forma de educar a criança, diante da impossibilidade de se resolver o problema. Por isso a inclusão de toda a família no tratamento da criança é fundamental, para eliminar a punição”, finaliza a profissional.