Violência obstétrica
O tema é sério e mais comum do que você pensa
Os dados são alarmantes: segundo pesquisa realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, uma a cada quatro mulheres são vítimas de algum tipo de violência obstétrica. Na maioria das vezes, esses casos acabam acontecendo por baixo dos panos por se tratar de um momento delicado e vulnerável da vida da mulher. Por outro lado, muitas nem reconhecem que estão sendo violentadas e que têm o direito ao consentimento sobre todos os procedimentos que são feitos em seu corpo por profissionais da saúde. O primeiro passo para mudar essa realidade é a conscientização sobre o problema, seguida da denúncia. A psicóloga Raquel Mello e a advogada Thaisa Beiriz, conversaram com a Malu para esclarecer de uma vez por todas esse assunto.
Como identificar
A violência obstétrica pode ser caracterizada por atos de violência exercidos contra a mulher no momento da gestação, parto, nascimento, pós-parto ou mesmo no atendimento ao abortamento. “Entre eles estão práticas que submetem a mulher a rotinas rígidas e muitas vezes desnecessárias, que não respeitam os seus corpos ou seus desejos” explica a psicóloga. Você pode identificar que sofreu esse tipo de abuso se houve algum mau trato por parte dos profissionais nesses atendimentos, seja do médico, enfermeiro, anestesista, entre outros.
Classificação dos casos
• Violência por negligência: serviços aos quais a paciente tem direito ou deseja realizar são negados ou dificultados.
• Violência física: intervenções e práticas realizadas desnecessariamente e sem o consentimento da mulher. Exemplos desses procedimentos são a aplicação de ocitocina, lavagem intestinal, exame de toque em excesso e falta de alívio de dores.
• Violência verbal: comentários ofensivos, constrangedoras, chacotas e humilhações por parte do profissional.
• Violência emocional: toda e qualquer ação que provoque o sentimento de inferioridade, vulnerabilidade, abandono, medo ou instabilidade emocional na paciente.
Exemplos clássicos
Situações comuns dentro de consultórios e hospitais que podem ser configuradas como violência obstétrica são: episiotomia (corte realizado na região do períneo, área entre a vagina e o ânus), cesariana contra a vontade da gestante ou impedimento de que a mulher seja acompanhada por parente ou amigo em qualquer momento do atendimento. “Não podemos esquecer que é direito da mulher escolher o parto que deseja, normal ou cesárea, após o médico informar os benefícios e malefícios de cada um deles”, ressalta Raquel.
Consequências
O assunto é tão sério que a mulher que sofre violência obstétrica passa a ter maiores riscos de desenvolver um quadro depressivo, transtornos de ansiedade, fobias, compulsão alimentar, distúrbios de sono, entre outros. Nesses casos, é fundamental que ela busque tratamento com um psicólogo e psiquiatra, além de poder contar com o suporte emocional da família.
O que fazer
Ao sofrer esse tipo de violência, a mulher tem o direito de buscar justiça, reinvidicar por indenização dos danos gerados à sua integridade e impedir que esse tipo de abuso seja perpetuado pelo profissional. “É inadmissível que um momento lindo e único na vida de uma mulher seja transformado em tanta dor e somente por meio da justiça é possível mudar a realidade obstétrica no Brasil”, afirma Thaisa. Para isso, é necessário que a paciente se cerque do maior número de provas possíveis, dentre elas a cópia do prontuário médico do hospital.