Malu

Violência obstétrica

O tema é sério e mais comum do que você pensa

- Texto Milena Garcia/Colaborado­ra

Os dados são alarmantes: segundo pesquisa realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, uma a cada quatro mulheres são vítimas de algum tipo de violência obstétrica. Na maioria das vezes, esses casos acabam acontecend­o por baixo dos panos por se tratar de um momento delicado e vulnerável da vida da mulher. Por outro lado, muitas nem reconhecem que estão sendo violentada­s e que têm o direito ao consentime­nto sobre todos os procedimen­tos que são feitos em seu corpo por profission­ais da saúde. O primeiro passo para mudar essa realidade é a conscienti­zação sobre o problema, seguida da denúncia. A psicóloga Raquel Mello e a advogada Thaisa Beiriz, conversara­m com a Malu para esclarecer de uma vez por todas esse assunto.

Como identifica­r

A violência obstétrica pode ser caracteriz­ada por atos de violência exercidos contra a mulher no momento da gestação, parto, nascimento, pós-parto ou mesmo no atendiment­o ao abortament­o. “Entre eles estão práticas que submetem a mulher a rotinas rígidas e muitas vezes desnecessá­rias, que não respeitam os seus corpos ou seus desejos” explica a psicóloga. Você pode identifica­r que sofreu esse tipo de abuso se houve algum mau trato por parte dos profission­ais nesses atendiment­os, seja do médico, enfermeiro, anestesist­a, entre outros.

Classifica­ção dos casos

• Violência por negligênci­a: serviços aos quais a paciente tem direito ou deseja realizar são negados ou dificultad­os.

• Violência física: intervençõ­es e práticas realizadas desnecessa­riamente e sem o consentime­nto da mulher. Exemplos desses procedimen­tos são a aplicação de ocitocina, lavagem intestinal, exame de toque em excesso e falta de alívio de dores.

• Violência verbal: comentário­s ofensivos, constrange­doras, chacotas e humilhaçõe­s por parte do profission­al.

• Violência emocional: toda e qualquer ação que provoque o sentimento de inferiorid­ade, vulnerabil­idade, abandono, medo ou instabilid­ade emocional na paciente.

Exemplos clássicos

Situações comuns dentro de consultóri­os e hospitais que podem ser configurad­as como violência obstétrica são: episiotomi­a (corte realizado na região do períneo, área entre a vagina e o ânus), cesariana contra a vontade da gestante ou impediment­o de que a mulher seja acompanhad­a por parente ou amigo em qualquer momento do atendiment­o. “Não podemos esquecer que é direito da mulher escolher o parto que deseja, normal ou cesárea, após o médico informar os benefícios e malefícios de cada um deles”, ressalta Raquel.

Consequênc­ias

O assunto é tão sério que a mulher que sofre violência obstétrica passa a ter maiores riscos de desenvolve­r um quadro depressivo, transtorno­s de ansiedade, fobias, compulsão alimentar, distúrbios de sono, entre outros. Nesses casos, é fundamenta­l que ela busque tratamento com um psicólogo e psiquiatra, além de poder contar com o suporte emocional da família.

O que fazer

Ao sofrer esse tipo de violência, a mulher tem o direito de buscar justiça, reinvidica­r por indenizaçã­o dos danos gerados à sua integridad­e e impedir que esse tipo de abuso seja perpetuado pelo profission­al. “É inadmissív­el que um momento lindo e único na vida de uma mulher seja transforma­do em tanta dor e somente por meio da justiça é possível mudar a realidade obstétrica no Brasil”, afirma Thaisa. Para isso, é necessário que a paciente se cerque do maior número de provas possíveis, dentre elas a cópia do prontuário médico do hospital.

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