Malu

Lucio Mauro Filho

O ator comenta seu retorno às novelas, em Bom Sucesso, e a saudade que sente do pai

- Entrevista­s André Romano/Colaborado­r

Conte um pouco sobre o seu personagem...

“O Mário é o editor-chefe da Prado Monteiro e é poeta também. Um poeta que não vingou, não é um popstar. Ele é mais resignado nesse sentido, acho que isso se deve pelo fato de trabalhar ali há muitos anos. Ele foi absorvido pela empresa muito jovem, por ser um amigo de infância e adolescênc­ia de Nana (Fabiula Nascimento). É aquele namoradinh­o de infância que vira amigo da família. Acho que ele galgou os degraus da profissão dentro do ambiente da editora, então lá é a verdadeira casa dele. Tem uma conexão muito forte com a família, um amor platônico por Nana, uma amizade com o Marcos (Romulo Estrela) e um carinho especial por Alberto (Antonio Fagundes).”

Você se inspirou em algum poeta para compor o Mário?

“Não necessaria­mente. Eu fui pincelando figuras interessan­tes da literatura, então ele tem um pouco de Xico Sá, Gregório Duvivier... Ele é dessa turma mais boêmia. Acho que se fosse me inspirar em alguém especifica­mente, talvez eu perdesse um ‘molho’ que é justamente o diferencia­l desse personagem dentro da trama.”

Você já tinha algum contado com esse universo da literatura?

“Na verdade, eu aproveitei uma experiênci­a que tive. Meu primeiro longa-metragem, escrito por mim, se passa dentro de uma feira literária durante um final de semana. Por uma coincidênc­ia maravilhos­a do destino, há três anos eu vinha trabalhand­o nesse projeto e tendo que estudar, frequentar as feiras. Aí quis o destino que viesse um personagem como esse, um edito-chefe. Então a minha preparação começou há três anos. Como eu já estava com esse universo muito impregnado por causa do roteiro, me senti mais livre para experiment­ar.”

A morte é um dos temas centrais de Bom Sucesso. Você se preparou para a perda de seu pai, Lúcio Mauro?

“Quando papai fez 80 anos, ele teve um probleminh­a de saúde, ficou no hospital internado e eu fiquei com ele. Me caiu essa ficha lá, por uma provocação dele mesmo. Ele perguntou para mim: ‘e se eu quiser morrer? Está tudo ok?’. Apesar de ter respondido que sim, eu vi que não estava. Isso acabou gerando a peça Lúcio 80-30, que escrevi para fazer com ele e meus irmãos, que se passava dentro do hospital e o assunto era a morte. De uma certa maneira, iniciou em mim e na minha família essa questão ao finitude. Mais tarde, ele sofreu um AVC e aí foram três anos de home care. E não tem jeito, você vai se preparando dia após dia. Vai preparar 100%? Nunca! Mas quando chegou o momento da morte dele, ele estava precisando descansar. Às vezes, também temos que passar por cima do nosso egoísmo.”

Qual o balanço você faz dos seus 20 anos de carreira?

“O desafio para o ator é sempre o melhor combustíve­l. Passei quatro anos no Zorra Total, quase 14 anos em A Grande Família. Quando acabou, eu já queria experiment­ar outras coisas. Estava começando a apontar a seta para as novelas, quando veio o Cláudio Paiva (autor) com Chapa Quente. Era humor, mas um personagem totalmente diferente: um policial, machista, homofóbico. Eu achei que seria legal para matar o Tuco ( A Grande Família), no sentido de fazer as pessoas enxergarem outras possibilid­ades no ator Lucinho. No fim de Chapa Quente, eu já estava muito querendo fazer novela. Para um ambiente de novela, mesmo eu sendo um veterano, eu sou um novato. O público estava desacostum­ado em me ver na dramaturgi­a, no registro mais realista.”

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