Lucio Mauro Filho
O ator comenta seu retorno às novelas, em Bom Sucesso, e a saudade que sente do pai
Conte um pouco sobre o seu personagem...
“O Mário é o editor-chefe da Prado Monteiro e é poeta também. Um poeta que não vingou, não é um popstar. Ele é mais resignado nesse sentido, acho que isso se deve pelo fato de trabalhar ali há muitos anos. Ele foi absorvido pela empresa muito jovem, por ser um amigo de infância e adolescência de Nana (Fabiula Nascimento). É aquele namoradinho de infância que vira amigo da família. Acho que ele galgou os degraus da profissão dentro do ambiente da editora, então lá é a verdadeira casa dele. Tem uma conexão muito forte com a família, um amor platônico por Nana, uma amizade com o Marcos (Romulo Estrela) e um carinho especial por Alberto (Antonio Fagundes).”
Você se inspirou em algum poeta para compor o Mário?
“Não necessariamente. Eu fui pincelando figuras interessantes da literatura, então ele tem um pouco de Xico Sá, Gregório Duvivier... Ele é dessa turma mais boêmia. Acho que se fosse me inspirar em alguém especificamente, talvez eu perdesse um ‘molho’ que é justamente o diferencial desse personagem dentro da trama.”
Você já tinha algum contado com esse universo da literatura?
“Na verdade, eu aproveitei uma experiência que tive. Meu primeiro longa-metragem, escrito por mim, se passa dentro de uma feira literária durante um final de semana. Por uma coincidência maravilhosa do destino, há três anos eu vinha trabalhando nesse projeto e tendo que estudar, frequentar as feiras. Aí quis o destino que viesse um personagem como esse, um edito-chefe. Então a minha preparação começou há três anos. Como eu já estava com esse universo muito impregnado por causa do roteiro, me senti mais livre para experimentar.”
A morte é um dos temas centrais de Bom Sucesso. Você se preparou para a perda de seu pai, Lúcio Mauro?
“Quando papai fez 80 anos, ele teve um probleminha de saúde, ficou no hospital internado e eu fiquei com ele. Me caiu essa ficha lá, por uma provocação dele mesmo. Ele perguntou para mim: ‘e se eu quiser morrer? Está tudo ok?’. Apesar de ter respondido que sim, eu vi que não estava. Isso acabou gerando a peça Lúcio 80-30, que escrevi para fazer com ele e meus irmãos, que se passava dentro do hospital e o assunto era a morte. De uma certa maneira, iniciou em mim e na minha família essa questão ao finitude. Mais tarde, ele sofreu um AVC e aí foram três anos de home care. E não tem jeito, você vai se preparando dia após dia. Vai preparar 100%? Nunca! Mas quando chegou o momento da morte dele, ele estava precisando descansar. Às vezes, também temos que passar por cima do nosso egoísmo.”
Qual o balanço você faz dos seus 20 anos de carreira?
“O desafio para o ator é sempre o melhor combustível. Passei quatro anos no Zorra Total, quase 14 anos em A Grande Família. Quando acabou, eu já queria experimentar outras coisas. Estava começando a apontar a seta para as novelas, quando veio o Cláudio Paiva (autor) com Chapa Quente. Era humor, mas um personagem totalmente diferente: um policial, machista, homofóbico. Eu achei que seria legal para matar o Tuco ( A Grande Família), no sentido de fazer as pessoas enxergarem outras possibilidades no ator Lucinho. No fim de Chapa Quente, eu já estava muito querendo fazer novela. Para um ambiente de novela, mesmo eu sendo um veterano, eu sou um novato. O público estava desacostumado em me ver na dramaturgia, no registro mais realista.”