Portaria em boas mãos
Rio tem inúmeros exemplos de porteiros que são verdadeiros anjos da guarda
Com quase 90 anos, Décio Coimbra, cadeirante do Edifício Bougainville, no Leblon, na Zona Sul do Rio, pouco fala, mas seus olhos enchem d’água toda vez que ele recebe a ajuda dos porteiros José Neto, de 50,eJoãoAlves,de60,paramanusearacadeiraderodas.“Oolharde agradecimento dele é comovente. Eu me seguro para não chorar, mas,àsvezes,nãoconsigo”,confessa João, um dos seis porteiros que se alternam em turnos no prédio.
NaTijuca,ZonaNorte,MarizeteLemos,50,síndicadeumprédio na Rua Conde de Bonfim, não esquece de levar um pudim para o zelador Marley Furtado, 65, quase todos os dias. O mimo é pelas correspondênciasdosmaisde70moradores que ele, gentilmente, separa e guarda diariamente.“Além disso,eleéumdocedepessoa.Está sempre disponível para qualquer emergência”, justifica Marizete.
Os exemplos de boa relação entre porteiros, síndicos e moradores do Rio — que já viraram temas de livros e são relatados em filmes — contrastam com a convivência às vezes conturbada entre inquilinos e a categoria em outros pontos do país.
Em Juiz de Fora (MG), por exemplo, a cadeirante Ana Camponizzi, 59, ganhou na Justiça o direito de ser ajudada por porteiros a subir a íngreme rampa da garagem até os elevadores de onde mora. Os porteiros, conforme mostrou a Folha de São Paulo, haviam sido proibidos de ajudá-la pelo condomínio, sob a alegação de que se tratava de uma ‘questão de natureza privada’. Ela ainda terá que ser indenizada em R$ 46 mil por danos morais. A administração do prédio ainda terá de instalar uma plataforma elevatória, orçada em R$ 39 mil.