MANGUINHOS
Quando tinha apenas 6 anos, Daiana Ferreira saiu da comunidadedemanguinhos, na Zona Norte, para conhecer o Theatro Municipal com a mãe e asirmãs.aapresentaçãodeolago dos Cisnes a marcou de tal forma, que, tempos depois, ela se formou embaléclássico.hoje,aos30anos, é a fundadora do projeto Ballet Manguinhos, que oferece, desde 2012,aulasgratuitasdebaléecirco para236meninase14meninosde 6 a 29 anos, além de saídas culturais para teatros e museus.
“Minha mãe sempre focou em nos levar para programas culturais, ainda que fosse teatro por R$ 1, e isso me trouxe uma vivência fora da comunidade. Busco fazer a mesma coisa pelos meus alunos. Só no ano passado, foram 120 saídas”, orgulha-se Daiana.
O projeto, iniciado em uma igreja da comunidade e que invadiu até a Biblioteca Parque de Manguinhos, quando fechada, deu tão certo que ganhou reconhecimento do The New York Times. Com a publicação, em julho do ano passado, o Ballet ganhou o alugueldeumasede,aoladodacidadedapolícia,eopagamentodos 14professorespelospróximostrês
anos, pela ONG americana The Secular Society.“mas ainda precisamos de espelhos, barras e paredes para finalizar as obras”, diz.
Acolhimento
Diante da violência que aflige a localidade, a escola de dança se torna um refúgio para os alunos, que vêm também das comunidadesbarreiradovasco,maré,complexo do Alemão e Jacarezinho.“a dança traz disciplina, responsabilidade e, principalmente, a oportunidade de serem protagonistas da própria história”, acrescenta.
A bailarina Eduarda Lopes, de 13 anos, perdeu a mãe, vítima de bala perdida, no ano passado. Elas foram visitar uma amiga, quando começou um confronto entre policiais e bandidos, em Manguinhos.“não deu para correr, só nos jogamos no chão. Minha mãe ficou em cima de mim, para me proteger,eacabouatingidanopescoço”, conta, emocionada.
A adolescente, que sonha ser médica, define a dança como“seu lugardepaz”.“aquitemtiroteiotodososdias,aviolênciaéconstante. Masoprojetomedáforças.quandoeudanço,mesintoemoutrolugar, fora da favela”, conclui.