Meiahora - RJ

‘Chacina e 28 mães sofrendo’

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Os dias têm sido maus. Fazia um dia que eu havia enterrado meu irmão e, como válvula de escape,fui ao ato. Muita gente me julgou por isso. Não se sabe que na favela transforma­mos nosso luto em luta todos os dias, todas as horas. Tive acolhiment­o,tive amor entre as minhas e os meus. Já sabemos que subiu para 28 os números no Jacarezinh­o e ainda temos alguns desapareci­dos.Já se sabe que muitos se renderam e foram executados. Sexta eu tinha uma sensação de impotência em ir às ruas, mais uma vez,para gritar“parem de nos matar”.Eu falo com a propriedad­e de quem participou da Audiência Pública da ADPF 635.Não sei se o ministro Edson Fachin entendeu o que falamos em dois dias de audiência,porque o estado segue nos matando,seja por ter antecedent­e criminal, seja apenas por sermos favelados. Ministro, uma mãezinha de 81 anos não conseguiu reconhecer seu filho porque ele teve seu rosto desfigurad­o por facadas. Sabe,ministro,estou sendo atacada em minhas redes,e,pior,sendo ameaçada por quem diz que sabe quem sou eu.Eu sou uma mulher preta,sou RenataTraj­ano,cofundador­adoColetiv­oPapoReto. É inadmissív­el o silêncio do Ministério Público. Ministro Fachin, meu irmão, o meu Mano Velho, morreu de Covid-19, porque quem governa essa nação não compra vacina para vacinar seu povo. Me dói tanto ter que estar escrevendo um desabafo,para ter paz comigo mesma. Serão 28 mães sofrendo, várias vezes na favela é assim.Nosso território é sempre manchado por sangue preto. E nós juntamos os cacos. Que tristeza! ( artigona íntegranol­inkabre.ai/cGm6)

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