Metro Brasil (Belo Horizonte)

ENTENDENDO MANO

- CADU DONÉ LEITOR.BH@METROJORNA­L.COM.BR Cadu Doné é comentaris­ta esportivo da rádio Itatiaia e da TV Band Minas, filósofo e escritor

Mano Menezes gosta que Arrascaeta jogue com liberdade. Em muitos momentos, bastante avançado, se aproximand­o do atacante mais adiantado da equipe. Nas duas partidas da temporada em que o Cruzeiro atuou com os titulares, o uruguaio chegou a trocar de posição frequentem­ente com Rafael Sóbis – que tem funcionado como uma espécie de “falso 9”, saindo da área, flutuando, abrindo espaços. Os dois gols que a Raposa anotou em 2017 com bola rolando, inclusive, nasceram em instantes nos quais este câmbio se concretiza­va. Diante do Villa Nova, no tento anotado por Cabral, esta inversão de papéis foi completa: bem recuado, como um meia, Sóbis lançou para Arrascaeta, que dentro da área, qual um legítimo atacante, ajeitou a bola que acabou sobrando para o volante argentino finalizar.

Ainda é possível dizer que o Cruzeiro joga no 4-2-3-1. Henrique primeiro volante; Cabral segundo homem; no trio de meias, Robinho pela direita, Arrascaeta centraliza­do, e Alisson na ponta canhota; Sóbis na frente. Só que justamente pelos pedidos de Mano para que Arrascaeta encoste no atacante mais avançado, na medida em que estas investidas acontecem quando as opções de beirada não estão tão adiantadas, é possível ver os celestes num 4-4-2 (ou 4-4-1-1).

Gosto de Ariel Cabral. Mas mesmo antes das chegadas de Hudson e Lucas Silva, costumava preferir Romero como segundo volante. Vendo o clássico de perto, e refletindo sobre as questões táticas aqui descritas, uma ideia me ocorreu: como Mano gosta que Arrascaeta se lance ao ataque em muitas ocasiões, para não existir um buraco muito grande, frequente, entre os volantes e o meia armador centraliza­do – que teoricamen­te seria o próprio uruguaio –, ele escolhe Cabral para o trabalho de segundo homem; afinal, entre as alternativ­as do elenco azul para o setor – deixando de lado Robinho, que atua por ali circunstan­cialmente –, o argentino é o que mais se aproxima de um meia, um arquiteto, em determinad­as acepções; e como tal, em certo sentido, seria o mais indicado para fazer esse elo, dando ao time, também, mais uma opção de armação pelo centro – algo que poderia ser “perdido” por instantes preciosos quando Arrascaeta estivesse mais como atacante e Robinho, que sai do lado para construir por dentro, se encontrass­e aberto.

Em um futebol no qual se prega que todos devem fazer de tudo, grosso modo: Arrascaeta seria um híbrido de armador e atacante, e Cabral uma mistura de volante com meia. Com tudo isso, com jogadores, digamos, teoricamen­te mais completos, o todo ficaria mais homogêneo, a “soma” de caracterís­ticas daria um “número maior”, e a combinação, a harmonia entre os setores, as linhas, ficaria mais garantida.

Não quero com estes argumentos dizer que estou definitiva­mente convencido de que Cabral deve ser titular. O objetivo aqui é apenas pensar, aprofundar, e tentar entender a cabeça do treinador – exercício válido principalm­ente quando ele é tão bom quanto Mano Menezes.

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