GARRAS SÃO SÓ DETALHE
‘LOGAN’ TRAZ WOLVERINE EM BUSCA DE REDENÇÃO, NA DESPEDIDA DE HUGH JACKMAN DO PERSONAGEM
Antes mesmo de sua estreia, que acontece hoje nos cinemas, “Logan” tem sido saudado pela crítica como o filme mais maduro e violento do mutante Wolverine. Para Hugh Jackman, que o encarna pela nona e última vez, o longa é a “história definitiva” do personagem. O curioso é perceber que, nessa abordagem, as garras que saem de suas mãos acabam sendo um mero detalhe.
“Logan” está longe de se enquadrar no que a aliança entre a Marvel e a Disney estabeleceu como parâmetro para filme de heróis neste século 21. Em sua essência, ele é um misto de faroeste com road movie, e a crueza oriunda dessa mistura de gêneros cria o pano de fundo idealizado pelo diretor James Mangold para ambientar uma trama sobre família, identidade e ciclo da vida.
A história se passa em um 2029 não muito diferente de hoje. Não há registro do nascimento de novos mutantes há 25 anos, nem da atuação dos X-Men contra ameaças à humanidade ou a sua espécie.
Nesse contexto, a porção mais humana de Wolverine, batizada de Logan, é que ganha vez. Com perfil caladão e tendências al- cóolatras, ele deixa a vida passar trabalhando como chofer entre Estados Unidos e México. Nas horas vagas, cruza a fronteira para visitar um professor Xa- vier (Patrick Stewart) idoso, em processo inicial de demência, com dificuldade em controlar o poder de sua mente, isolado no meio do deserto.
Sua rotina é quebrada quando ele se depara com uma menina mutante detentora de seus mesmos poderes: alto poder de regeneração e garras afia- das revestidas do metal adamantium.
Laura (Dafne Keen) é perseguida por uma corporação que faz experiêncas genéticas e, instigado por Xavier, Logan atravessa o país para ajudá-la a encontrar um lugar seguro.
Tema
Ao abordar o tema da segregação, os X-Men sempre funcionaram como alegoria potente sobre a questão racial nos Estados Unidos. Ao mostrar seus heróis fragilizados, “Logan” arrisca deixar de lado o mito do herói para humanizá-los de uma forma diferente do que fez Christopher Nolan com sua trilogia Batman.
Nos longas do herói da DC, o espetáculo tinha papel fundamental na narrativa, e a psiqué do Homem-Morcego se voltava aos traumas de seu passado. O que Hugh Jackman conduz aqui é o drama de um personagem que encontra uma possibilidade de futuro e redenção quando isso já não lhe é possível.
O acerto de “Logan” é equilibrar esse estado de falência – do corpo e da vida, inerente a todos nós – com uma dose sutil de esperança, resultando em um filme agridoce, capaz de conferir uma despedida digna a Wolverine.