Depois de Nobel, Bob Dylan segue fazendo mais do mesmo
Não dá para saber quais são as reais intenções de Bob Dylan com “Triplicate”, seu primeiro álbum triplo, lançado no fim do mês passado.
Repetindo a fórmula de seus trabalhos anteriores, “Shadows in the Night” (2015) e “Fallen Angels” (2016), os discos “Til The Sun Goes Down”, “Devil Dolls” e “Comin’ Home Late” são uma compilação de interpretações de Dylan para canções clássicas americanas, boa parte delas famosa na voz de Frank Sinatra (1915-1998).
Acontece que, diferentemente do astro de olhos azuis, o trovador de 75 anos não tem exatamente a mesma voz de bel canto do colega. Sua rouquidão foi bem-vinda na primeira incursão do gênero, mas, dois anos depois, o resultado soa repetitivo e pouco criativo, o que não condiz com a imagem eternizada que o mundo tem de Dylan, a do gênio capaz de faturar o Nobel de Literatura pelas letras de suas canções, como ocorrido no ano passado.
Claro que continua sendo um luxo ver um astro homenagear outro de igual grandeza, mas de vertente diferente.
É esse contraste entre os dois que motiva o ouvinte a dar o play nas 30 faixas. Dylan coloca o coração em sua versão para standards como “My One and Only Love”, “As Time Goes By” e “The Best is Yet to Come”, em baladas menos pomposas que as originais, mas ainda mais românticas, com perfume do blues e do folk que lhe rendeu fama.
Em entrevista a seu site, o músico justifica o interesse nas canções: “Eu não tinha percebido quanto da essência da vida está nessas músicas – a condição humana, a perfeição com a qual as letras e as melodias estão conectadas e quão relevante é a vida do dia a dia”, diz ele, sem medo da reação dos próprios admiradores quanto ao projeto.
“Essas canções são dedicadas ao homem da rua, o homem comum. Talvez ele seja um fã de Bob Dylan, talvez não”, conclui o astro.