Rapper Kendrick Lamar radicaliza em CD ‘Damn’
Artista quebra recordes de downloads ao liberar disco repleto de rimas agressivas, sonoridades ousadas, Rihanna e U2
Com apenas 29 anos e três discos no currículo, o rapper norte-americano Kendrick Lamar conseguiu a proeza de se tornar uma unanimidade da crítica musical, tamanha a qualidade e ousadia de suas músicas. Mesmo sob a pressão desta expectativa, seu quarto álbum de estúdio, “Damn”, lançado durante o festival Coachella nos EUA, mostra que ele alcançou padrões ainda mais altos.
Cada uma das faixas foi líder de audições em serviços de streaming em todo o mundo. “Damn”, contudo, não é de audição fácil. Com 14 faixas de nomes concisos, sempre de uma palavra só, o álbum se dedi- ca a investigar o descontentamento político nos EUA com a eleição de Trump – o ex-presidente Barack Obama é até citado na música “Humble”, faixa que foi a primeira do Spotify a ser executada 4 milhões de vezes em um dia.
Mas “Damn” vai além, filosofando de maneira abstrata sobre conceitos como amor e lealdade, que tem a ver com a rotina de desrespeito e violência na qual vive a maior parte dos fãs de Lamar.
Sonoramente, o álbum inova ao apresentar não o hip-hop puro com que o rapper tinha mais desenvoltura, mas agora ousa ao misturar-se com estéticas do gospel, como em “God”, e pop, em “Loyalty”, parceria com Rihanna, uma das melhores canções.
Ao contrário de Drake, porém, que investe nestas adições para tornar sua música mais radiofônica, aqui os novos sons servem apenas para enaltecer o manifesto político. Em “Blood”, que abre o disco com misticismo, por exemplo, até o disparo de uma arma é usado – e não é por sua musicalidade.